Capítulo 15- Surpresa

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Pov Sheilla

Dizem que o amor é a cura para suas dores mais profundas e estava quase acreditando nisto. Desde que tive a certeza que estava sendo amada por Gabriela além dos dias mais tranquilos, estava evoluindo muito na minha fisioterapia. Não é que a frustração a cada passo em falso houvesse desaparecido, mas havia um ânimo para tentar mais uma vez.

Talvez fosse o desejo de poder caminhar com ela de mãos dadas por ai ou de levá-la ao um jogo ou só poder dirigir por aí lhe apresentando meus lugares favoritos. Existiam tantas coisas que eu queria conquistar com a Gabriela, só precisava saber se ela queria o mesmo. 

— Me diz que está pensando no convite que te fiz? — Thaisa entra no quarto mais cedo que o normal.

— Não sei se estou pronta para estar em uma quadra e não poder jogar. — Digo deixando a frustração me tomar.

— Sheilla por favor, falta pouco para você voltar a andar, as meninas sentem falta da sua presença, do seu incentivo, da sua liderança.— Implora.

— Está bem, mas se eu me sentir muito desconfortável peço para Gabriela ir me buscar.

— Leva ela. A amiga dela vai jogar com a gente hoje.— Ela sorrir muito animada.

— Ótimo. Irei mandar mensagem pra ela.

Peguei o celular e já havia uma mensagem dela avisando que teria algumas consultas, mas que eu poderia deixar mensagem e se fosse urgente não deveria exitar em ligar. Sorrir com sua forma de demonstrar amor servindo, talvez fosse por isso que escolheu medicina, ela tinha essa necessidade de prestar cuidado e apoio.

Esperei até o seu horário de almoço e pontualmente as duas da tarde havia uma mensagem perguntando se eu estava bem. Meu celular tocou dois segundos depois.

— Atrapalho? — Ela perguntou.

— Não, estava digitando para te responder, porém você foi mais rápida.

— Digitar é ruim, demorado, prefiro ouvir sua voz.— Meu coração acelorou vergonhosamente.

— Assim você infla meu ego. 

— O que posso fazer se sou rendida.

— E um dom.— Brinco.

—Você parece ter muitos dons Sheilla Castro, alguns que talvez você ainda nem conheça e não serei eu que irei contar.

— Me deixou curiosa e isto não é justo quando não posso correr para você e te obrigar a falar.— Faço manha.

—Em breve. Tenha fé.

— Não sou uma pessoa de fé, não fui criada para isso. Apesar de quê minha avó acredita que possam existir anjos e milagres, eu não fui criada dentro da igreja ou ligada a qualquer religião.

— Tudo bem, eu tenho fé por nós duas.

—Ta certo então. Quero te fazer um convite.

— Estou ouvindo. 

— Thaisa quer muito que eu vá a um jogo hoje, um campeonato de vôlei e é a final, o Minas fez uma ótima campanha até aqui e ela insiste para que eu vá. Soube que a Lorenne vai jogar também. Vamos?— Posso sentir que ela estava contendo um sorriso.— O que é engraçado?

— O fato de que eu queria muito te convidar, mas não sabia como.

— Era só dizer, já disse que não deve ter receios comigo meu bem.

— Gosto disso.— Ela diz subitamente depois de um tempo em silêncio.

— Do que exatamente? 

— De ser o seu bem, de não precisar ter receios, de ser eu mesmo e de como você me olha sem parecer que eu tenha uma cabeça imensa.— Eu acabo rindo com a última parte.

—Fico feliz em saber que te faço tão bem quando você me faz. — Posso ouvir-la suspirar.

— Posso ir te buscar? — Pergunta.

— Claro.

— Passo aí as oito, coloque sua camisa.

— Por que não uma roupa qualquer?— Digo desconfiada.

— Porque quero te ver de uniforme do time.

— Fetiche?— Ela se cala, acho que tinha avançado rápido demais.

—Algo assim. — Ela desconversa depois de alguns segundos.

— Desculpe, as vezes eu não penso antes de falar.

—Está tudo bem. Eu não tive muito tempo para muitas coisas além dos estudos, então tem coisas que ainda me travam.

— Eu posso ajudar se precisar e sem segundas intenções.

— Aceito. Mas não agora, tenho uma cirurgia em trinta minutos e preciso ir.

— Boa sorte e arrase.—Desejo.

— Obrigada. Te vejo mais tarde.

— Até.

A ligação se encerrou tão abrupta quanto começou. Não havia terapia hoje e minha avó iria sair com um grupo de amigas. Decidir por uma leitura até o horário de me arrumar, não durou muito tempo, o silêncio e leitura que não prendia logo me deu sono.

Acordei por volta das sete e me preparei para a chegada da Gabriela, eu conseguia me virar muito bem sozinha agora e isso me deixava feliz pois sempre amei minha autonomia e independência.

Ouvir a campainha tocar as oito em ponto e fui para a sala. O seu perfume chegou antes que ela estivesse em meu campo de visão. Quando finalmente a vi parecia que havíamos combinado a roupa, calça jeans preta, blusa do Minas e tênis branco.

— Boa noite — Disse deixando um beijo no canto dos meus lábios.

—Boa noite. — Respondi quando me recompus.

— Podemos ir? — Diz muito animada.

— Claro. Vó tem certeza que vai ficar bem? — Questino a senhora que observava nossa interação muito atenta.

— Claro, sei me vira muito bem, não enrola Sheilla, vai se divertir. — Ordena.

Seguimos para o carro e depois de alguns minutos estavamos na casa do Minas. Do estacionamento dava para perceber que a quadra já estava cheia pelo barulho. Descemos do carro e vi Gabriela enviar uma mensagem a alguém e em seguida me ajudou com a cadeira. Quando estávamos entrando toda a torcida se colocou de pé e começou aplaudir, depois todos gritaram bem-vinda de volta Sheilla. Neste momento eu já estava completamente entregue as lágrimas e ficou muito pior quando o técnico me entregou um boque de flores e cada uma das meninas veio me abraçar.

Gabriela observava tudo um pouco mais distante com uma grande sorriso no rosto. Ela sabia da surpresa e agora eu entendia porquê estava tão receosa para me convidar. Talvez em outro momento, a um mês atrás, eu ficaria chateada, mas não agora, neste momento eu tinha a sensação de pertencimento e era muito bom sentir isso de novo.

Minha cadeira foi colocada próxima a comissão técnica e eu pude ver de pertinho e incentivar a vitória do clube por três sets a zero em cima do praia. Quase fugir quando fui chamada para receber uma medalha e ergue o troféu, mas em uma cadeira de rodas, não dá pra fazer muita coisa quando se é cercada por um time inteiro de vôlei.

Depois de muitas fotos, sorrisos e vibrações finalmente aquele momento estava acabando. Estava muito grata por que não houve um momento em que eu me sentir inferior, pelo contrário eu nunca me sentir tão em casa.

No carro abracei Gabriela e chorei. Chorei de alegria pura e simples, alegria pelo momento que vivi, por tê-la presente, por ter um clube tão incrível e por me sentir tão amada. Abracei com força e recebi o mesmo aperto de volta me dizendo que ela se sentia tão feliz quanto eu.

Desculpe o atraso, mas esse fim de semana foi um verdadeiro caos no condomínio em que eu moro e não consegui escrever muita coisa, tenho muito aversão a barulho. Mas veio aí e espero muito que gostem. 
Tenham uma ótima semana e se cuidem.

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