Minha avó tinha me chamado pra conversar e eu sabia que iria odiar essa conversa. Eu já conseguia sentir o cheiro de cigarro e o cheiro da decepção de quando ela descobriu — junto do mundo todo, diga-se de passagem. — que eu sou bissexual.
— Não deve ser tão ruim assim, Quint. — Flora tentou me acalmar. — Sua avó não vai te deserdar, ela não tem herdeiros suficientes pra isso.
— Como você sabe? Vai que ela tem um filho secreto que morreu e que teve um filho secreto que está vivo.
— Acho isso difícil, mas enquanto nenhum outro herdeiro ao trono aparece ela não pode te deserdar. Isso seria bem burro da parte dela.
— Você ajudou muito, Flo. — Falei sarcasticamente.
— Pois é, eu sei. — Ela disse, nossas mãos estavam entrelaçadas enquanto esperávamos minha avó chegar. Depois de ontem ter a mão de Flora ali era quase terapêutico, sentir seu polegar fazendo carinho nas costas da minha mão me acalmava de forma quase instantânea.
— Não sei como eu te aguento. — Flora deu de ombros e indicou nossas mãos juntas, como se fosse óbvio.
— Você me ama, Quint. Além do mais, adorei aquele tapa que você deu na Moranguinho ontem.
— Moranguinho?
— Sua ex. Eu esqueci o nome dela e não tenho vontade nenhuma de lembrar. Acho que você devia ter dado um soco nela também. Um soco e um tapa.
— Limites. — Falei. — Mas você tá certa,
— Eu falei. — Ela disse. Charlotte anunciou que minha avó tinha chegado. — Melhor eu ir. — Ela se levantou.
— Você tem mesmo que ir? — Perguntei segurando em seu braço e a mantendo no lugar. — Acho que ela vai me assassinar.
— Que nada, ela não vai te assassinar.
— Por que todo mundo fica me dizendo isso? — Flora sorriu e me deu um beijo na testa,
— Vou estar te esperando pra irmos pra casa juntas, okay? Ela não vai te assassinar, qualquer coisa grita.
— Sim, Alteza. — Falei e ela riu antes de eu deixá-la sair.
Menos de um minuto depois de Flora sair da sala, Grandmère entrou. Tentei decifrar sua expressão, mas não consegui. Isso não ajudou a me deixar mais calma.
Fiquei de pé quando ela entrou e fiz uma reverência como ela tinha me ensinado, ela pareceu satisfeita com isso então talvez ela maneire na bronca hoje.
— Amelia. — Ela disse se sentando e eu me sentei também. — Precisamos conversar.
— Eu sei, Grandmère. — Murmurei brincando com os meus dedos. Ela suspirou.
— Quando eu tinha a sua idade, eu era apenas a filha de um duque que gostava de ler e passava horas na biblioteca de minha casa. — Ela contou, saudosa. — Eu era linda, não irei mentir. Apesar de não sermos muito parecidas posso ver muito da minha juventude em você, Amelia.
— Como assim, Grandmère? — Perguntei confusa e ela sorriu.
— Já tive muitos amores na minha vida antes de conhecer seu avô, Amelia. Não sei se posso contar Ernest como um dos meus muitos amores, ele era meu melhor amigo, mas nunca o amei no sentido romântico.
Ernest era meu avô e o cara que tinha mandado construir túneis no palácio caso minha avó dormisse enquanto fumava e tocasse fogo no quarto dos dois e de quebra no resto do palácio. Ele morreu antes que eu nascesse, mas minha avó sempre o descrevia como "brincalhão e sem noção".
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Me, a Princess? - Rocksalt
FanfictionMillie Quint era só uma garota normal até que com a chegada de sua avó nos Estados Unidos ela descobre que é a herdeira de um pequeno país europeu. E como se não bastasse, outra princesa é transferida para o seu colégio bagunçando ainda mais seus p...