Mal entendido

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Permaneci monitorando o treino até o meio dia e liberamos todos para o almoço. Quer dizer, quem não tinha ido embora ainda. Com a ajuda do Mateus, organizei as armas usadas durante o treino na forja e então fomos ao salão principal. Já estávamos na fila quando a Karenn passou do nosso lado com uma cesta cheia de comida.

- Desse jeito não vai sobrar nada para gente, Karenn. E olha que o Chrome nem está com você - Mateus provocou.

- Creio que há comida o suficiente para todos. E só pra você saber, eu não vou comer isso tudo sozinha. Tenho um piquenique marcado com a Erika.

- Sério? Eu também posso ir?

- Claro que não, Mateus. É só para meninas. Estou indo. – Karenn saiu apressada e o Mateus ficou de cara feia durante alguns minutos. Pelo que percebi, ele gosta de passar o tempo perto da Erika.

Pegamos a refeição e sentamos perto da saída. Acho que pelo fato de estar ao lado do Mateus, o tempero da minha comida estava normal e até saboroso pra dizer a verdade.

- Não entendo por que a Karenn não me deixou ir também. Não custava nada.

- Talvez você não estivesse tão aborrecido se parasse de se meter onde não é chamado. – retruquei seus resmungos.

- Não é isso, Lance. Essas garotas! Tem momentos que somos bem vindos e tem outros que só querem nossa distância. A Karenn deve estar na TPM.– Opa, essa conversa pode ser promissora

TPM? O que é isso? – Será que é isso que a Erika tem e por isso está agindo assim comigo? O Mateus ficou vermelho e se atrapalhou ao tentar me explicar.

- É que... bem... Lá na Terra, quando as meninas estão na TPM... humm... é um sinal de que elas não vão ter um bebê. Meio que altera os hormônios delas... Esse assunto é complicado.

- Então, quando as garotas têm um comportamento contraditório, é porque não vão ter um bebê? Como é esse tal sinal? – questionei ainda mais interessado.

- As mulheres de Eldarya não... sangram?

- Ahh! Você está falando das regras da mulher? Claro que sim. Mas até onde eu sei, não serve pra avisar que não tem um bebê por vir e sim um sinal de saúde. Até porque, aqui existem várias raças e espécies diferentes e eu sou a pessoa errada pra dizer como isso funciona para cada uma delas.

Mateus passou a mão no cabelo e em seguida deu de ombros .

- Regras é um termo obsoleto lá na Terra. Preferimos falar TPM. E sim, você tem razão. Não serve apenas como aviso. Eu não havia pensado nisso antes. Mas em que raios de assunto viemos parar?!

Confesso que nisso eu era leigo mas eu precisava entender o que estava acontecendo com a Erika.

O dia passou sem muito trabalho a ser feito e finalmente pude descansar. Enquanto estava deitado na minha cama, pensava em uma forma de abordar a Erika sem que ela ficasse na defensiva. Confesso que no baile, era como se estivéssemos ligados, mas acho que apenas eu senti isso.

Vários dias se passaram sem que eu tivesse a chance de conversar com a Erika. Essa agonia estava me consumindo e me sentia quase que obcecado. Mas por quê?

Tomei uma dose de coragem e, naquela noite, decidi bater na porta de seu quarto. Esperava que ela estivesse acordada, visto que ainda era cedo. Escutei passos e então a porta se abriu. Erika arregalou os olhos ao me ver

- L-Lance. O que faz aqui? – ela perguntou.

- Bem... podemos conversar um pouco? – percebi que ela relutou antes de ceder, fazendo um sinal para que eu entrasse.

Seu quarto era perfeitamente organizado e sua personalidade estava presente por toda parte. Ela sentou em sua cama e apontou para um assento perto da cabeceira para mim. Um silêncio se instalou entre nós até que, me lembrando da conversa com o Mateus dias atrás, perguntei:

- Erika, por acaso o seu aviso de que não vai ter um bebê já veio? – se ela estava pálida, ficou transparente.

- O que? N-Nós não... Eu não... Por que está me perguntando isso?

- Calma, calma. É que você está fugindo o tempo todo e isso me deixou confuso depois do baile. O Mateus me explicou que quando as garotas da Terra mudam o comportamento repentinamente, é porque receberam um aviso de uma tal TPM.

Ao me ouvir dizendo isso, a expressão de Erika se suavizou imediatamente, dando lugar a um riso descontrolado. Ela riu tanto que se deixou cair em sua cama, me deixando ainda mais nervoso.

- Está tudo bem? Falei algo errado?

- Desculpe. É que... – ela tentava falar em meio ao riso – Bem, você me deu um susto daqueles. O Mateus não deveria falar essas baboseiras sem um entendimento completo do assunto.

- Então não é isso que você tem? – Ela ficou séria de repente.

- Não, Lance. Não tem nada a ver com bebês ou TPM. Aliás, você deve saber como os bebês são feitos, não é ? – ela perguntou com um tom travesso e eu finalmente entendi o papel ridículo que prestei. Senti a vergonha me invadir e não consegui olhar para Erika naquele momento.

- Eu não acredito que eu...quer dizer, eu sei sim... Sinto muito. Estava tão preocupado tentando entender a situação que acabei bancando o idiota com você.

- Esqueça isso. Eu entendi o que você quis dizer e confesso que me acovardei. Sinto muito por isso. Agi feito adolescente quando deveria ter esclarecido as coisas. – A vergonha deu lugar ao espanto e eu finalmente criei coragem para olhá-la novamente.

- Tudo bem. No fim das contas você não me deve explicação alguma. No entanto, confesso que pensei que havia se arrependido das coisas que falou na noite do baile ou que estivesse com vergonha de que se nos vissem juntos, poderiam te julgar.

- Não seja bobo! Você é chefe da minha guarda. É normal nos verem juntos.

- É normal nos verem dançando? – rebati. Ela abriu a boca pra falar mas fechou logo em seguida.

- Erika, por que quis dançar comigo?

A Redenção do Dragão de GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora