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Capítulo mais curto do que eu gostaria, mas meu tempo também é curto então... é o que tem por agora. Espero que gostem!

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Olhos castanhos nunca foram tão vazios e expressivos ao mesmo tempo.

Ela sonhou mais uma vez. Mais uma vez ninguém sabia. Ela sentiu fome mais uma vez. Mais uma vez ela ignorou. Mais uma vez permitiu que a água que enchia a banheira também enchesse seus pulmões, e mais uma vez teve a prova de que voltaria.

Sem provas desta vez.

Ela contou de zero até se perder em pensamentos, percebendo depois que encarava o nada por tempo suficiente sem piscar. Seus olhos não ardiam, também não queriam fechar. O brilho do celular com a chegada de mais notificações a chateou. O brilho a chateou, assim como havia feito ao se transformar. Ela se afastou antes que sua mão o alcançasse. Foi o suficiente de sua jaula, ela decidiu quando limpou e arrumou a casa mais uma vez. Mente ocupada era um aliado, mas não era o suficiente.

Às vezes se esquecia de onde morava. Não o endereço em si, mas era como se não tivesse consciência disso. A cidade já era viva mesmo à noite, agora com outros olhos, ela podia ver melhor, ver mais. Ela também sabia mais, uma faca de dois gumes com a falta de sua ignorância. Quer dizer, a realização de que não era apenas uma mente doente, mas um mundo real. Ela sente que poderia estar indignada por seu tempo internada, mas a verdade é que sabe que também não estaria aqui se não fosse por isso. Assim como seu pai não está.

A realização do submundo abriu seus olhos de muitas formas, uma delas é pensar que o luto pode ser algo normal para um mundo onde vampiros matam para se alimentar e lobisomens dileceram sem querer. Pode já ter passado por sua mente nos últimos dias que está sendo dramática por se esconder por tanto tempo, mas outra parte está insistente que ela tem esse direito. Sua mente está mais clara agora, mas ela ainda está mantendo a segunda opinião por enquanto.

Saber que poderia encontrar outro submundano ao virar da esquina a enche de perguntas, apenas curiosidade em algumas mas alertas em outras. Ela acredita que isso a previne para perigos futuros, mas tira sua calma e diminui seu descanso. Mesmo que faça parte do outro lado, se sente pequena e fraca, quase indefesa e odeia isso, mas por mais que odeie ela não consegue esquecer os dentes cravando em sua pele enquanto a língua nojenta saboreia seu sangue, nem as garras desenhando e abrindo sua pele como se fosse satisfatório. Ela sabe que estas dores físicas não são comparadas as dores que ela sente agora em seu luto e realização de que é a última de sua família, mas também há mais que estas ocasiões causaram que ela não consegue superar. Um medo constante e uma raiva cega.

Ela só pede que não seja irreversível.

(...)

Simon não era um ótimo vampiro. Na verdade, ele nem chegava a ser um bom vampiro. Muitas vezes ouviu do próprio Raphael, o único responsável pela adaptação de Simon, que o ex-nerd míope mais parecia um disfarce mal feito de vampiro do que um real. Simon sente que deveria se sentir ofendido, mas foi um alívio, na verdade. Claro, Simon se lembra de sua mente nerd e agitada que sempre sonhou em ter poderes e ser mais forte. Doce ignorância que ele jamais terá novamente. Assim como sua família que ele apenas sente a saudade crescer a cada dia.

Simon não é mais um perigo imediato, Raphael não diz, mas também não discorda, então Simon vê como uma conquista e se orgulha disso.

Então ele vê Clary se reunir com sua mãe depois de meses de uma busca desesperada e revelações bombásticas. Foram meses complicados. Para Simon, um ano complicado. Ele vê sua amiga de infância e primeira paixão finalmente sorrir com uma alegria pura ao ser esmagada pelos braços firmes de sua mãe recém saída do coma. Ele olha para Luke e sente um forte alívio o invadir por não ter o homem olhando para si como se ele fosse uma ameaça, Simon pode até arriscar dizer que Luke ainda possui certo carinho ao olhar para ele. Simon está tremendo, mas está aliviado e feliz por isso.

O Quanto Vale Uma Submundana? - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora