Carona

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Diane foi trabalhar somente por ser dia de pagamento. Chegou mais de quinze minutos atrasada e levou uma bronca enorme. Mas aquilo não importava para ela, estaria fora da cidade naquela mesma noite. Pegou seu pagamento durante o dia e foi embora, deixando muitas pessoas indignadas e, com certeza, ela estaria demitida depois daquele dia. Esperava estar fazendo a coisa certa.

Foi para sua casa pegar algumas coisas. Deixou um pouco de dinheiro encima da mesa para seu pai, pegou roupas e socou tudo numa mochila. Partiu sem olhar para trás, em direção ao próximo navio de carga que partiria dali.

Como imaginou, estava rodeada de homens. Ninguém usava aquele navio para viajar, afinal não era de passageiros. Ela entrou no navio e caminhou em direção ao capitão da embarcação, ouvindo alguns assovios e comentários de homens nojentos que trabalhavam lá.

Ao encontrar o capitão, que não lhe deu muita atenção, ela disse:

- Com licença. Pode me dar uma carona até o Reino de Kairon?

O capitão a olhou de cima a baixo, com desdém.

- Vocês realmente acham que é verdade essa lenda, não é? Não vêem que estão sendo enganados. - disse o capitão.

- Lenda?

- Sim. O prêmio pode até ser verdadeiro, mas o que o rei quer é impossível. Não existe.

- E o que ele quer? - perguntou Diane, percebendo que não ouvira aquela parte da fofoca com a mulher no salão.

Neste momento, porém, a buzina extremamente alta do navio a fez tapar os ouvidos. Estavam zarpando.

- Não me cause problemas. Não daremos nada para vocês comerem, nem beberem. Não quero o mínimo barulho vindo de vocês. Os outros idiotas estão ali, vá e não saia de lá. - disse o capitão, apontando para a parte de trás do navio.

Diane foi cautelosa até lá e viu apenas um amontoado de caixas maiores que ela, feitas de madeira. Depois, viu um pequeno grupo de cinco pessoas sentadas, em silêncio. Ela se aproximou, tentando reconhecer alguém.

- Vocês... Também estão indo para o Reino? - ela perguntou.

- Você não devia falar. O capitão disse que vai jogar no mar quem falar alguma coisa. - sussurrou um garoto, pouco mais velho que Diane.

Diane sentou junto com eles e ficaram em silêncio por um tempo, apenas escutando o barulho das ondas e alguns homens trabalhando.

- Então vocês estão... - começou ela, novamente.

- Vai fazer todos nós irmos para a água! Cale a boca! - o garoto a interrompeu.

- Vai a merda, seu medroso. Se tem medo de um cara idiota como o capitão, porque está indo atrás da recompensa? Eu soube que o que o rei pediu é impossível. Então, não perca o seu tempo. - disse ela, o que fez o garoto ficar quieto.

- Estamos indo para lá, sim. - disse uma mulher. Ela tinha um olho inchado e um pouco roxo. Parecia aflita, batendo o pé no chão.

- E vocês sabem qual é o favor que o rei pediu? - Diane perguntou.

Todos negaram com a cabeça.

- Houve muita especulação, então ninguém sabe o que é verdade ou não. Eu soube que o rei é muito rígido com as notícias que saem e entram na cidade dele. - disse a mulher.

Diane concordou, pensativa. Havia visto o Rei Kairon III uma vez em sua vida, quando o palácio inteiro foi visitá-los a anos atrás. Era um homem barrigudo, baixinho, com poucos cabelos castanhos e barba comprida. Ele não deixava ninguém chegar perto e ninguém do seu palácio podia sair sem a permissão dele.

A viagem pareceu demorar horas. O navio parou numa cidade que tinha cheiro de peixe, para descarregar algumas caixas. Depois, partiu novamente. Diane cochilou um pouco, mas foi acordada pela buzina do navio.

- Denovo essa merda. - disse ela. - Mas que droga!

- É hora de saírem do navio, idiotas. - disse a voz do capitão, aparentemente vindo do alto.

Diane e os outros se levantaram e olharam. Estavam próximos do grande palácio do Rei Kairon.

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