Primeira Noite em Paris 2022

O marido

Entrei no nosso quarto e encontrei Marselha esperando por mim na cama. Me sentia meio molhada por ter dado banho em Victoria, e definitivamente esgotada. Não tinha energia pra nada, muito menos para brigar. Estava trocando de roupa quando começamos a conversar sobre Raquel.
-Ela vai ter um menino -Falei. Marselha assentiu.-
-Parece bom, né? Um menino.
-Prefere um menino ou uma menina?
-Tanto faz. Prefiro o que Victoria preferir, na realidade.
-É.
-Você prefere uma menina, né?
-Talvez. Mas acho que é menino. Sei que nasciam mais meninas na família do meu marido, então tínhamos quase certeza que seria uma menina quando eu estava grávida da Victoria. 
-Seu marido? -Ele suspirou, irritado por eu ter chamado o German de meu marido.- Ele sempre vai ser o marido, né? -Fiquei triste por sentir a mágoa na sua voz, e teria recuado se ele tivesse se calado.- talvez eu devesse morrer como o German, vai que assim eu consigo sua atenção.
-Não deveria ter falado isso -Falei, séria, e deu pra ver que ele tinha sentido o impacto das minhas palavras e das suas fortemente.-
-É que...
-Não tenta se justificar. Por favor, isso só piora as coisas -Suspirei, desviando o olhar do meu marido- essa merda faz eu passar mal.
-O que aconteceu?
-Tudo -Voltei a olhar pra ele, e que visão penosa. A sua expressão era de pura culpa, algo que nem o melhor dos atores esconderia.- quando me olha assim, parece que vê até o fundo da minha alma. Mas acredito que isso esteja muito longe das suas capacidades.
-Você tem sempre tanta classe.
-Tenho, né? Admiro isso em mim.
-Não sei porque sempre conduz as coisas desse jeito. Sempre é muito mais grossa comigo do que eu jamais serei com você.
-Para com isso.
-Não quero brigar, só não quero ter que ouvir que ele é seu marido, que ele é pai da Victoria. Se um dia foi essas coisas, já não é mais, e você sabe disso. Desculpa, mas o seu ex morto não pode continuar assombrando a gente assim -Assenti, porque sabia que ele estava certo. Os argumentos estavam fugindo do meu alcance, e não me sobrava energia alguma para buscá-los. Só queria concordar com ele e ir dormir, parar de provocá-lo porque sei que isso acabaria com as brigas. Estava irritada demais, e ele não aceitava quando eu falava do German.-
-Me desculpa. Fui grossa demais -Marselha assentiu e se aproximou. Se sentou ao meu lado na cama e colocou a mão na minha coxa. Sentia a sua respiração pesada.- Voce é um cabeça dura.
-Pelo menos somos dois.
-É um bruto.
-Você é irritada, e as vezes irritante.
-Irritante?
-É.

Eu olhei pra ele e ele pra mim, e em um instante estávamos nos encarando e no outro os nossos lábios se encontraram. Não é como se eu estivesse na minha melhor forma, nem com muita energia, mas foi um sexo muito bom. Nós dois estávamos cansados demais de brigar, ansiando por contato físico, por um pouco de conforto e prazer. Nos amávamos como dois adolescentes apaixonados e brigávamos como dois adolescentes deixando de se apaixonar. Talvez já fosse tempo da nossa paixão virar amor, afinal.