Quando nos tornamos amantes

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Oi pessoal! Espero que estejam gostando ;) Eu estou amando escrever. Não se esqueçam de comentar suas ideias, sugestões e votar.
Amo vcs <3

Eu e Marselha deixamos Victoria com uma adorável babá francesa para irmos a um campo de tiro. Me senti apreensiva por ficar sem minha filha até sentir o peso familiar de um revólver na minha mão. A sensação nostálgica de apertar o gatilho com um fone contra os meus ouvidos, mirando atentamente no alvo distante, é reconfortante. Sinto um aperto no coração ao realizar a falta que sinto da polícia e de Madrid, dos campos de tiro que eu frequentava e do meu distintivo.

Acerto na cabeça de todos os alvos. A distância não é suficiente para me apresentar qualquer tipo de dificuldade depois de tantos anos de prática e treinamento na polícia (tudo para acabar em uma cidade francesa esquentando mamadeiras)

Marselha não é tão bom quanto eu, mas também atira com segurança. Brincamos de atirar nos alvos de madeira esculpidos no formato de pessoas como crianças jogando pega-pega nas ruas movimentadas. Rimos juntos quando eu atiro na ponta dos dedos do alvo criando buracos como unhas.
-Ficou perfeito! -Marselha disse, rindo. O fato de ambos estarmos usando fones anti ruído torna tudo mais divertido (temos que urrar para mesmo assim não ouvir nem 20% do que falamos um para o outro)-
-Vou fazer olhos também -Atiro duas vezes na cabeça; um buraco ao lado do outro.-
-Você é muito boa -Assenti.-
-Vê se capta a referência -Atiro no pé do alvo. Acho que nunca fiz Marselha rir tanto na vida.-
-Coitado do Professor! -Eu o ouvi dizer.- ficou mancando o resto do assalto inteiro!
-Aposto que ele usa aquele sapato furado até hoje.

Saímos do campo de tiro na hora do almoço, e eu me sentia dividida. Estava feliz por ter atirado de novo, uma lembrança de que a Inspetora continuava viva, o despertar de uma Alicia adormecida pela monótona maternidade solo. E sentia muita falta da Espanha. Não só saudades; falta. Sinto falta de Madrid, do meu trabalho, dos relatórios extensos. Sinto falta do cheiro da birosca do outro lado da rua que invadia o nosso apartamento de noite, o burburinho dos jovens do lado de fora. Uma incessante saudade de usar a minha inteligência para algo além de calcular quantas fraldas minha filha vai usar durante o meu tempo fora e de quanto leite ela vai tomar. Uma infantil e incorrigível vontade de largar tudo e voltar para Madrid como se meu marido e a birosca do outro lado da rua me esperassem. A mão de Marselha encontra a minha e vamos andando até o carro lado a lado, e isso é o bastante para interromper meus pensamentos. Meus sentimentos se diluem enquanto ele me explica o que planeja fazer para o jantar. Vibrava animado enquanto contava do prato e dos legumes assados pra minha filha. Tenho vontade de admitir que gostava muito dele. Que não queria ir embora no dia seguinte, mas fico quieta, ouvindo detalhes pouco importantes sobre a receita.

Marselha escolhe o restaurante para almoçarmos. Conversamos casualmente enquanto esperamos nossos pratos. Ele está sentado na minha frente, pousando a sua mão sobre a minha, acariciando-a. Eu sorrio brevemente.
-O que nós somos? -Marselha me perguntou, quando o garçom se aproximou colocando os nossos pratos diante de nós. Eu o encarei por um momento, pensativa.-
-Não sei. Amantes?
-Amantes? Como assim?
-Sei la. A gente transa, sai pra jantar...mas ninguém sabe.
-Ninguém sabe porque faz pouco tempo.
-A gente nem tem pra quem contar mesmo -Rimos da nossa própria desgraça. Depois que o efeito da piada passa, Marselha me encara sério e pergunta.-
-Você realmente vai embora amanhã?
-Bom, sobre isso...tava pensando em sair depois do almoço. A Victoria gosta de dormir nesse horário, então a viagem fica mais tranquila.
-Queria que vocês ficassem.
-Por mais quanto tempo?
-Pra sempre -Fiquei o encarando, um tanto nervosa e surpresa.- queria que fôssemos mais do que amantes. Namorados...
-Nem continua. Não vou casar de novo.
-Nem se eu me ajoelhar pra você? -Eu sorri, desviando o olhar do de Marselha.-
-Nem assim...
-Eu gosto tanto de você -Ele se levantou, se aproximando e beijando a minha bochecha. Me deixou completamente desconsertada. Mantive um contato visual desconfortável enquanto ele voltava a sua cadeira- eu amo você. E não tô brincando. Amo quando você passa o dedo nos lábios. E quando pega Victoria no colo com apresso. E você torna amar a coisa mais fácil do mundo...
-Não...-Eu o interrompo, assustada pra caralho. Marselha se declara com uma avidez e paixão que eu só vi diante de mim em um homem.- não...não posso, Marselha.
-Eu amo você.
-Eu sei. E isso me assusta. Me apavora. Mas não era pra ser assim -Digo, o tom de melancolia e tristeza claros na minha voz embargada.- eu quero...quero ir a campos de tiro com você. E museus. E praças. E reviver tudo o que vivemos essa semana. Mas não sei se um dia conseguirei te chamar de marido -Quase chorei nessa parte.- e por mais que o meu corpo inteiro vibre e anseie pelo seu...não sei se um dia vou conseguir dizer que te amo, por mais que tudo me faça acreditar que eu o faço, louca e apaixonadamente -Respirei fundo e voltei a mim 3 vezes mais durona.- Não devíamos ter tocado nesse assunto. Foi uma péssima ideia discutir a nossa relação sem um pouco de álcool por perto -Não sei como, mas consegui arrancar uma risada de Marselha, que parecia congelado na minha frente, totalmente decepcionado.- você merece alguém que grite o quanto te ama na frente dos seus amigos. Estando sóbria. -Digo, por fim.-

Saí daquele restaurante mais confusa do que do campo de tiro, o que antes me soava impossível.

Os meus sentimentos por Marselha se tornavam cada vez maiores e mais claros, crescendo proporcional ao medo de perdê-lo como perdi o único homem que eu me permiti amar com a mesma paixão. Queria me jogar nos seus braços e aceitar seu amor, enquanto queria pegar meu carro e voltar para o sul com minha filha.

Primeira Noite em Paris 2022Onde histórias criam vida. Descubra agora