8. Quarentena

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15 de Março de 2020, Rio de Janeiro.

— Itália entrou em quarentena! Ai meu deus, Amanda estava na Itália.

Escuto assim que passo pela porta, entrando em casa.

Minha mãe estava confortavelmente sentada em nosso sofá com a televisão ligada e com o celular na mão. Ela usava seus óculos de descanso e tinha uma cara de preocupada enquanto pensava alto.

— O que houve? — Passo pela mesa de jantar deixando as chaves do carro sob ela. Ainda é estranho entrar em casa e ver primeiro a mesa de jantar.

A mais velha me acompanha com os olhos até a porta da cozinha. Lucas entra em casa disparado para alcançar a cozinha primeiro que eu.

— Lucas! Você sabe que não pode correr nessa parte. — Minha mãe chama a atenção do menino, se levantando. Ele sorriu todo sapeca.

Não podia correr porque a mesa de jantar ficava de frente com a adega de vinhos super caros embutida na parede embaixo da escada.

— Amanda comprou aquele salgadinho que você não deixa eu comer.

A mais velha me olhou desapontada. Eu sabia que ele não podia comer e foi por isso que comprei, ás vezes crianças tem que comer coisas de criança.

— Eu tento o máximo não deixar ele comer coisas industrializadas. — Explicou a mamãe entrando na cozinha.

Peguei das sacolas os salgadinhos e doces de Lucas que eu havia comprado e entreguei para ele que esperava ansiosamente.

— Vou preparar o videogame! — E então sai correndo escada acima.

— Lucas!

Ainda era estranho para mim estar na cozinha um pouco menor do que normalmente era.

Meus pais decidiram mudar de casa a alguns meses atrás. Tentava me acostumar com o ambiente novo e o novo endereço. Hoje, por exemplo, quase peguei o caminho para a nossa antiga casa assim que eu e Lucas saímos do supermercado.

Fiquei um pouco chateada quando soube que minha mãe resolveu se mudar da casa onde nasci e cresci. Mas eles alegaram que a casa era grande demais para apenas os três, a maioria do tempo era silencioso e minha mãe ainda tinha algumas memórias de vovó, de qualquer forma, a casa ainda estava me esperando, minha para eu fazer o que quisesse.

A casa nova era bem menor do que eles estavam acostumados, mas tinha uma área de lazer muito grande e boa para descansar, ficava em um condomínio perto do antigo que morávamos, luxuoso na Barra da Tijuca.

Eu organizei o material em cima da bancada que precisaria para fazer a Banoffee. Suzane me olhava estranha, encostada na bancada ao meu lado, me analisando por completo. E então parece despertar do seu mundo.

— Você não está doente, está?

— Por que?

— Itália entrou em quarentena, e você foi para lá a algumas semanas. Sem contar que o primeiro caso daquele vírus novo já foi confirmado aqui no Brasil.

Suspirei.

As coisas estão acontecendo rápido demais sobre esse vírus, mundo afora em alerta vermelho, pessoas morrendo, e a Itália era um dos países em alerta. Claro que tive medo, estava viajando por todos esses lugares contaminados, e mesmo assim eu ainda curti os últimos dias de carnaval.

As coisas estavam normais aqui no Brasil, até o primeiro infectado ser reconhecido.

Minha viagem de volta a Nova Iorque está marcada para o dia 20 de março, sequer sei se vou conseguir entrar no país, as coisas estão bem feias lá também.

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