III

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Rio de Janeiro, Brasil. Segunda-feira, 30 de março de 2021. Primeiro dia de aula de reforço de Luana.

O apartamento onde Sarah morava era imenso - além disso, Juliette o achou lindo, com uma vista perfeita para a praia e muito bem decorado. Juliette considerou grande demais para só duas pessoas morarem. Enquanto estavam na sala, ela observava algumas pessoas, que deveriam ser os empregados, transitando pela cozinha.

Seu apartamento era menor que a sala daquele lugar. Mas, também, sabia que não poderia esperar menos de alguém que é dona de uma empresa que tem um dos maiores faturamentos do Rio de Janeiro.

A morena se esforçava para não comparar sua vida a de Sarah, naquele momento, mas era quase impossível. Durante algumas conversas que teve com Sarah durante a festa de sua empresa, descobriu que a mulher tinha 29 anos. Era dois anos mais nova que ela. E muito mais bem sucedida. Juliette concluiu que, a não ser que descubra ser herdeira de algum milionário, nunca chegaria àquele patamar com, apenas, seu trabalho como professora.

Antes de começar a aula, Lua fez questão de mostrar seu quarto à Juliette. Era espaçoso e colorido. Pelo o que percebeu, o tema do quarto da menina era algo relacionado à safari, pois tinham muitos animais de brinquedo, grandes e pequenos, como girafas, zebras e elefantes, espalhados pelo lugar. Também haviam árvores com folhas de plásticos, que eram quase do tamanho de Juliette, com macacos de pelúcia pendurados, também espalhadas pelo quarto. As paredes eram pintadas com figuras que remetiam à uma selva. Juliette tentava não parecer impressionada com tudo aquilo. Deve ter custado o único rim que ela tinha.

Também estava impressionada com Sarah, pois havia se acostumado em ver a mulher de roupas sociais, maquiagem e salto alto. Naquele momento Sarah estava o oposto daquilo. E, ainda, parecia ser mais jovem do que já era. Juliette não pôde deixar de reparar nas tatuagens da mulher, uma nas costas, pois ela usava um cropped branco de alça e um short jeans. Pôde também reparar uma em seu ombro. Reparou que ela tinha o nome de sua filha tatuado e algumas datas espalhadas pelos braços.

- Esse! - Luana apontou para a imagem. Era uma foto do filme Segredo dos Animais.

- Então... a gente vai escrever o nome de todos os animais dessa foto e fazer uma frase sobre eles. Cada um, tudo bem? - Juliette perguntou, vendo Luana assentir. Ela estava concentrada.

- A mamãe está olhando a gente! - ela observou, sorrindo, sem deixar de escrever. Juliette percebeu que ela estava na segunda frase. - Ontem antes de dormir ela me contou a história dos planetas. Ela disse que eu, a dinda Carlinha e ela somos três planetas. Ela falou que você é um planeta, também, tia Ju.

- Eu? - Juliette questionou surpresa.

- É. - Lua respondeu, dando de ombros. Juliette a encarou, esperando que ela dissesse mais alguma coisa, mas não falou mais nada sobre o assunto.

A mulher queria saber mais sobre àquela conversa. Não que aquilo significasse algo para ela, mas achou... legal, estar incluída na conversa que Sarah tinha com a filha antes de dormir. Estava fazendo seu trabalho da forma certa.

- Que tal a gente escrever sobre os planetas que vocês falaram, depois daqui? - a menina assentiu, aceitando a sugestão de Juliette, que não sabia se tinha havia feito aquilo com o intuito de fazer que Lua escrevesse mais algumas frases, ou ficar sabendo mais da conversa da noite anterior.

- Mamãe disse que eu sou o planeta mais bonito que tem. O grandão. Ela me mostrou a foto do livro dela. - Juliette sorriu. Quis saber qual planeta ela era.

- Qual era o nome dele? - Juliette perguntou, curiosa.

- Não sei. - ela levantou os ombros. - O da dinda Carlinha era pequenininho. O da mamãe era azul, e ficava muito longe do planeta da dinda Carlinha. O da mamãe era perto do meu! O seu era perto do meu e do da mamãe, Tia Ju! Tinha uma coisa em volta! Eu vi na foto. Ela disse que o nome é anel, mas eu acho que ela estava mentindo pra mim, porque não tem como um anel ficar em volta de um planeta! - Juliette gargalhou. Até que a linha de raciocínio da menina fazia sentido.

Aquarela - SARIETTEOnde histórias criam vida. Descubra agora