Prólogo

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Sarah se atrasava para chegar em quase todos os lugares. Hoje havia se atrasado para a reunião que teve no trabalho, para levar sua mãe ao oftalmologista e para buscar suas encomendas no correio. Mas era a primeira vez que ela havia se atrasado para buscar sua filha, Luana, na escola desde que ela começou a frequentá-la.

É preciso admitir que sua rotina não era fácil, como toda rotina de uma mãe solo não era. Era necessário dividir seu tempo entre sua casa, seu emprego, sua vida social, sua filha e, finalmente, ela mesma. De um jeito ou de outro, a maior parcela dessa divisão ficava para Luana. E ela estava tranquila quanto a isso.

Sarah sempre fez seu melhor para conseguir preencher todas as lacunas que pudessem faltar na vida da menina, por isso estava extremamente frustrada por ter atrasado mais de uma hora para conseguir buscá-la na escola. Talvez Luana nem se lembrasse desse fato em alguns dias, mas Sarah se lembraria. E se sentiria muito mal por isso.

O horário de saída era 18:10. Sarah saiu da reunião de sua empresa por volta de 18:30. O caótico trânsito do Rio de Janeiro não havia colaborado, chegou na escola de sua filha cerca de 19:30. Estava extremamente atrasada. Já haviam, até, ligado para ela dizendo que precisavam fechar a escola, para dispensar os funcionários.

Ela sentia-se culpada por isso, pois havia pensado, durante a última semana, em mudar a menina de escola. Havia aberto uma perto da sede da sua empresa, que parecia ser um lugar bom e confiável. Mas já havia sido difícil fazê-la se acostumar a ir à escola, conviver num ambiente diferente e com pessoas diferentes, então não queria tirar sua filha de sua zona de conforto. Mas, se não conseguisse ser pontual para buscá-la, ela seria obrigada a fazer isso.

Quando chegou à escola, se dirigiu até a sala que o inspetor indicou. Não havia ninguém naquele lugar além dela, os funcionários e sua filha. E os funcionários estavam bem raivosos, diga-se de passagem.

- Esse livrinho você pode colocar ali, na minha mesa. - a mulher falou, entregando um livro fino e colorido a garota. Ela organizava uma estante enorme e, pelo o que Sarah deduziu, sua filha estava sendo a ajudante.

- A gente vai usar ele amanhã, tia Ju? - ela perguntou, se dirigindo a grande mesa posicionada na frente da sala. Não havia notado a presença de sua mãe na porta.

- Sim, meu amor. Eu coloquei um bilhetinho na agenda de vocês, para a mamãe ou o papai de vocês colocarem pra vocês trazerem amanhã.

- Eu vou ter que falar pra todo mundo? - ela perguntou, parando ao lado da mulher morena e fazendo uma careta.

Sarah sabia dos problemas de aprendizagem que sua filha tinha. Algumas crianças, da idade dela, já estavam começando a entender bem a oralidade e a ler frases curtas sem muitas dificuldades. Já Luana ainda estava começando a decifrar suas primeiras palavras. Era uma menina esforçada, mas se sentia diferente quando via os coleguinhas fazendo algo que ela queria, mas não conseguia.

- Você vai ter que ler pra tia Ju, depois. Só eu e você. - piscou para a menina, obtendo um sorriso como resposta. - Mas é o nosso segredo, não pode contar para ninguém. - levantou o dedo minguinho e Luana fez o mesmo.

- Será que ainda lembra da mamãe? - a voz de Sarah ecoou pela sala, fazendo as duas, que estavam de costas para porta, se virassem para ela.

- Mamãe! Mamãe! - Luana exclamou, correndo em direção a loira que estava parada na porta. Sarah se abaixou, abrindo os braços.

Pensou em como estaria sendo mal vista pela professora, naquele momento.

- Demorou, mamãe! - a menina disse, mas não parecia estar reclamando.

- A mamãe teve uns probleminhas hoje, mas ela jura que não vai atrasar mais. - Sarah assegurou, apertando a menina dentro do abraço.

- Não! Pode sim! Eu fico ajudando a tia Ju! Hoje a gente arrumou a sala. Olha! - disse, saindo de dentro dos braços de Sarah e puxando-a pela mão, para dentro da sala. - Essa é minha tia Ju! - ela disse, apontando para a mulher.

Sarah analisou a tia Ju, que encarava sua filha com um sorriso gigante. Ficou feliz porque algum funcionário daquela escola não estava querendo matá-la. Não sabia se ficava agradecida ou admirada. Era uma bela mulher.

- Ela que eu falei, mamãe! Que sabe imitar um grilo. - ela continuou, animada. - Mas não conta para ninguém, ela me disse que tem vergonha! - sussurrou, fazendo as duas mulheres rirem.

- Se a senhora se atrasasse mais um pouco, eu levaria ela pra minha casa e nunca mais devolveria. - a morena falou, apertando as bochechas de Luana.

- Não me chama de senhora, pelo amor de Deus! - Pode me chamar de Sarah. Até porque, esse é o meu nome. - soltou um riso nervoso. "Que merda foi essa, Sarah?"

- Juliette. - o sorriso da mulher aumentou.

- Eu não sei como te agradecer por isso, sério. Eu tive um problema... 

- Não precisa se justificar. Tá tudo bem, eu entendo. Eu não me importo de ficar até mais tarde com essa coisinha aqui. - apontou para Luana, que encarava a mulher, sorridente. Sarah também não estava muito diferente. - Caso aconteça de novo, você pode me ligar ou me mandar mensagem antes, porque a escola é meio... inflexível. - ela sussurrou a última palavra, fazendo a loira aumentar o sorriso.

- Não vai acontecer de novo! - Sarah garantiu. - Mas se acontecer, eu aviso. Muito obrigada. Mesmo. - disse, pegando a mochila de Luana que estava em cima da cadeira.

- Mamãe, você sabia que a tia Ju brigou com o moço? Ele falou pra gente ficar lá fora e ela falou: "Não, a gente vai ficar aqui!" - a garotinha contou, tentando imitar o tom de voz da mulher.

- A Tia Ju é demais, mesmo! - Sarah falou, sorrindo para a mulher. - Agora vai dar um beijo nela, porque a gente já está indo.

Juliette se abaixou, ficando da altura de Luana, enquanto a mesma se pendurava em seu pescoço.

- Tchau, Lua, até amanhã, meu amor. - disse, beijando repetidas vezes a bochecha da menina. - Tchau, Sarah. Foi bom conhecer quem colocou essa neném no mundo. - sorriu, indo em direção a mulher, para abraçá-la.

- Muito obrigada, de novo. - Sarah disse, antes de sair pela porta da sala.

Sempre ouvia sua filha falar, o tempo inteiro, sobre a tia ju, mas nunca havia conhecido a mesma. Nem nas reuniões de pais e professores se lembrava de ter visto aquela mulher.

Mas ela entendeu porque sua filha falava o dia inteiro da mulher - Estava encantada. Até porque, é necessário destacar que, depois desse encontro, ela nunca mais parou de falar sobre a tia ju.

E trocar sua filha de escola já não era mais uma opção.



lembrando que: essa fic é uma adaptação na qual eu NÃO FUI AUTORIZADA. tentei entrar em comunicação com a autora, mas não obtive resposta. A partir do momento que ela pedir para retirar a fic que é de autoria DELA. eu irei retirar, sem mais delongas. 

Enquanto isso não acontecer. Boa leitura! 

Aquarela - SARIETTEOnde histórias criam vida. Descubra agora