Aquarela - SARIETTE

V

Rio de Janeiro, Brasil. Quarta-feira, 01 de abril de 2021.

Depois da situação horrível que aconteceu na segunda-feira, com a aparição do pai de Lua na escola, Juliette havia redobrado o cuidado que, já, tinha com a menina. Estava mais atenta à ela na hora do intervalo e havia decidido levar o seu lanche de casa, para não precisar ficar saindo da escola para comprar algo para comer e ficar sempre "de olho" nela. Segundo Sarah, ela nem se lembrava mais do que havia acontecido, o que deixava Juliette aliviada, já que situações como essas podem causar traumas inimagináveis - e ela não precisava ter um conhecimento psicológico tão profundo para saber disso.

Naquela manhã, a aula de reforço havia durado mais do que o combinado. A presença de Sarah rendeu trinta minutos a mais de aula - e, acredite, Juliette não havia achado aquilo ruim. Ela e Luana formavam uma dupla de estudos maravilhosa, pois Sarah fazia com que ela se sentisse, ainda mais, motivada sem precisar dizer uma única palavra. Aquilo era incrível! Desde que havia conhecido Sarah, coisa que não fazia muito tempo, Juliette sentia-se encantada. A mulher era engraçada, inteligente e muito esforçada - Lua era um reflexo, perfeito, dela. Ela entendeu o porquê da menina sempre estar falando coisas boas de sua mãe, até em situações em que o assunto não era ela - às vezes, Juliette fazia o mesmo.

Juliette tinha certeza que a presença de Sarah nas aulas faria uma diferença imensa, já que Lua ficava mais animada em ver a mãe ali. A menina sempre queria fazer algo a mais para mostrar a Sarah o que estava conseguindo fazer! Além do mais, Sarah tinha uma imaginação mais fértil que a da filha, por isso, durante a aula, ela havia sugerido exercícios diferentes dos que foram planejados por Juliette, que eram tão bons quanto. Por esse motivo a aula havia se estendido bastante.

Naquela manhã, Sarah havia deixado Juliette em casa. Dessa vez, a morena não havia discutido, apenas aceitou prontamente. Aquilo deixou Sarah feliz, pois ela gostava de deixar Juliette em casa depois das aulas de reforço e pretendia, também, começar a fazer isso depois de buscar sua filha na escola. Passaria a deixar a mulher em casa e depois voltar para o seu apartamento.

As duas mulheres se despediram com um abraço e um beijo no rosto. Juliette não se despediu de Lua pois ela estava dormindo, tranquilamente, em sua cadeirinha, no banco de trás do carro. Seria covardia demais acordá-la. Juliette esperou até ver o carro de Sarah desaparecer para poder entrar em seu prédio.

- Você? Em casa? - disse, abrindo a porta e dando de cara com sua amiga, Lara, deitada no sofá. Lara direcionou os olhos para a morena. Juliette conhecia aquela carinha, sabia que a amiga tinha muito o que falar.

- Senta aqui. - a mulher disse, batendo no sofá. Juliette franziu o cenho, trancando a porta.

- Ai, mulher! O que que foi, hein? - a morena correu até o sofá, jogando suas coisas na poltrona.

- Hoje é a minha folga do mês, mas eu passei na empresa, mais cedo, para deixar uma papelada que eu trouxe pra casa na semana passada. Até aí estava tudo certo. Quando eu cheguei lá, estavam falando sobre um cara, que foi demitido da empresa há um tempo, porque ele estava desviando dinheiro, lavando o dinheiro... estava fazendo um monte de merda! Sabe qual o nome do cara?

- Não? - Juliette respondeu, dando de ombros.

- Lucas! Eu lembrei de você contando o que aconteceu lá na escola esses dias, e eu tenho certeza que esse cara que é o pai da Luana.

- Calma. Me explica isso direito, Lara. - Juliette pediu.

- Tudo bem, vamos começar do começo. Quando eu entrei lá, eu lembro que a Sarah deu uma entrevista, aos jornais locais, falando que havia descoberto um esquema de lavagem de dinheiro dentro da empresa. Não disse nomes, só disse que havia descoberto e que a justiça e os culpados arcariam com as consequências. Só que, algumas pessoas que trabalhavam lá, sabiam quem era esse cara. Esse cara se chama Lucas, que estava roubando os lucros! Quais são as chances de ser o mesmo Lucas? Todas! - ela concluiu.