IV

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Rio de Janeiro, Brasil. Segunda-feira, 30 de março de 2021.

- Lara, foi bizarro. Sério. - Juliette falou, enquanto colocava a carne moída para ser refogada

- Mas como ele conseguiu uma autorização judicial, se ele tem uma ordem de restrição? - Lara respondeu, pensativa.

Juliette havia começado a contar à amiga sobre o que ocorreu mais cedo, na escola onde trabalhava, com sua aluna. Claro que havia feito a menina jurar que não espalharia isso para ninguém, já que Lara trabalhava na empresa onde Sarah era dona.

- Eu não sei! Eu sinceramente não sei - Juliette deu de ombros.

- Mas, como que foi? Me explica. - ela pediu, picando os tomates.

- A Sarah me avisou que iria atrasar, porque a reunião estava começando atrasada, e eu falei que estava tudo bem, não me importaria em esperar um pouquinho a mais. Beleza! Deu a hora da saída, e ela não estava ali, como ela já havia avisado. Só que, tinha um cara falando que era o pai da Lua e estava ali pra levar ela pra casa. Só que quando eu olhei pra ele, Lara, eu juro, eu senti meu coração pesar. Era uma energia muito ruim. Acho que nem se a Sarah autorizasse, eu deixaria o cara levar a bichinha pra casa. - Juliette explicou.

- Misericórdia Ju! Mas a escola não sabia da existência dele?

- Calma, eu vou chegar lá. Quando ele chegou, a Lua não reconheceu ele. Aí eu meio que entendi o que estava rolando, e falei pra ele que a Luana teria uma aula de reforço, que duraria uns quarenta e cinco minutos, por aí. E ele falou que não tinha problema e que estava esperando do lado de fora da casa. Quando ele saiu da sala, eu perguntei a Lua se ela conhecia o cara e ela falou que não! Foi aí que eu comecei a mandar um monte de mensagem pra Sarah e tentei ligar, mas ela não estava atendendo e nem me respondendo. E ele, vira e mexe, aparecia no vidro da sala, pra ver o que a gente estava fazendo e essas coisas. Quando ele apareceu a última vez, eu estava falando com a Sarah sobre ele. Aí o cara ficou super desconfiado e entrou na sala, muito puto, falando que tinha um mandato judicial e iria levar a filha dele. Lua estava no meu colo, mas ele tentou puxar a menina pelo braço, chegou até a pegar o material escolar dela! Aí a diretora chegou, e ela falou para eu entregar a Luana pro cara! Porque era o pai dela e blá blá lá. - Juliette revirou os olhos. - Ela queria que eu entregasse a Lua pra um cara que ela nem conhecia.

- Porra, que mulher maluca. Idiota!

- Deu tudo "certo"... - fez aspas com as mãos. - no final. A Sarah chegou, viu que ela estava bem, levou ela para casa. Me trouxe em casa, também. Mas é algo que a escola tem que se atentar, não é, porra? Seria um sequestro! - Juliette explicou.

- Ela deve ser uma mãe bem protetora. - Lara observou, colocando os tomates dentro da panela onde a carne estava. - Porque, tipo, a filha dela é supernovinha, não sabe nem o que está acontecendo, ela é mãe solo e o "pai"... - fez aspas com as mãos. - genitor. Ele não é pai. O genitor é um maluco que tenta sequestrar a filha dela. Ela deve estar preocupada, no mínimo, vinte e cinco horas por dia.

- E, quando a gente estava vindo pra cá, a Sarah falou que não era a primeira vez que isso acontecia. Tipo, essa foi a primeira vez que ele foi até a escola, mas ele já fez isso em outros lugares, entendeu? Ela estava se segurando muito pra não parecer desesperada, porque a Lua estava, muito, assustada.

- Ai, coitadinha... E pra ele ter uma ordem de restrição, não é? - Juliette balançou a cabeça positivamente, pressionando os lábios. - Ele deve ter feito algo monstruoso. Tomara que a Sarah esteja bem. Tenha se acalmado.

O estômago de Juliette gelou. Decidiu que, mais tarde, mandaria mensagem para Sarah, perguntando se estava tudo bem.

Do outro lado do Rio de Janeiro, Sarah havia conversado com a filha sobre o que havia acontecido mais cedo.

Aquarela - SARIETTEOnde histórias criam vida. Descubra agora