Flores, cigarros e textos sem sentido no final do dia

memórias e momentos

De: Garota de lugar nenhum
Para: Meninos interestelar

Eu me lembro de quando olhei para lua através de um telescópio pela primeira vez. Me lembro do local, de como estava o clima, das falas que eram ditas ao meu redor, me lembro de quais foram os meus pensamentos naquele exato momento e o mais importante de tudo, me lembro de como eu me senti.

Eu era uma criança, entrando na pré adolescência e apesar de nova já carregava um trauma muito grande. Eu gosto de me lembrar desses momentos para perceber e me lembrar o quanto eu mudei, quantas coisas aconteceram desde que aquela memória foi criada.

No final não vai existir nada além de memórias que foram criadas ao decorrer da vida, sejam elas boas ou não, elas moldam e contam quem você é.

Não existem momentos em que eu fui genuinamente feliz na minha vida, mas existem momentos que estiveram quase lá. Olhar a lua por um telescópio pela primeira vez é um deles.

Outro momento muito gratificante e importante para mim parece muito bobo para todos os que eu contei, porém descobri que aquelas duas constelações desconhecidas por mim que me perseguiam durante anos eram na verdade uma uma constelação, a de escorpião, foi marcante é de fato uma memória que eu gosto de me lembrar frequentemente. Nunca acreditei em astrologia mas essa é a minha constelação preferida.

Existe na verdade poucos momentos em que eu estava genuinamente feliz e todos eram com você. Eu era (era diferente de estava) genuinamente feliz todas as vezes em que estávamos sentados na calçada ao lado da sorveteria enquanto você demorava séculos para acabar com a sua casquinha de baunilha e eu estava com o meu picolé de uva propositalmente porque você preferia o de morango.

Eu estava genuinamente feliz enquanto você a contra gosto ia encher a minha garrafinha de água. E quando te fiz ir comigo na padaria que ficava no caminho da sua casa para que você pudesse segurar o meu cachorro do lado de fora enquanto eu comprava o pão e depois quando eu te fiz voltar todo o caminho até a minha casa porque estava de noite e eu tinha medo de voltar sozinha.

Eu estava genuinamente feliz ao te contar que a velocidade exata da luz era de 299.792.458 metros por segundo depois de passar 1 hora decorando esse número. Estava genuinamente feliz quando te mostrei que o seu contato no meu celular estava salvo como "Einstein moderno" e fiquei ainda mais feliz com a sua reação.

Mas não posso falar sobre memórias sem falar de momentos, e todos os momentos que formam a minha vida não são somente momentos bons.

Eu perdi você, em algum momento entre observar a lua pela primeira vez e descobrir sobre a constelação de escorpião. No meio disso tudo apesar de existirem memórias ficou um completo vazio, depois de você nada nunca mais teve o sentido e o significado de antes, foi quando eu nunca mais fui genuinamente feliz. Tem tanta coisa que eu gostaria de te contar.

Recentemente, uma coisa doeu tanto quanto a sua partida, acho que até mais. E eu queria tanto que você estivesse aqui para me aconselhar, para me abraçar do jeito que só você me abraçava e dizer que tava tudo bem apesar de as coisas estarem indo de mal a pior, e realmente estaria tudo bem se você ainda estivesse aqui comigo. Se tudo tivesse acontecido diferente, apesar das coisas estarem dando errado eu me sentiria muito mais tranquila porque você estaria lá por mim.

Eu tive que pedir desculpas para a minha mãe, porque eu não queria mais viver. Tive que olhar nos olhos da minha progenitora e dizer que sentia muito. Acho que nada no mundo pode doer mais que isso, além da sua ausência, claro.

Eu prometo, como você me prometeu um dia, que não vou desistir e que vou continuar insistindo e tentando por você, apesar de você já não estar mais aqui para me ouvir prometer isso e que não vai estar aqui para me ver realizando isso.

Até onde eu me lembro, o último momento em que estive genuinamente feliz foi quando você me abraçou do jeito que só você me abraçava na porta da minha casa se despedindo e logo em seguida subiu na sua bicicleta amarela que você constantemente xingava e pedia para que ela não guardasse rancor e foi embora. É assim que memórias são feitas, e nós só percebemos a grandeza delas depois que já passou.