#18

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A noite aos poucos desponta no céu, sei que estão me procurando e me recuso a ir, mesmo sabendo que não tenho muita escolha.

- Quer uma carona? - Beatrice oferece.

Penso em negar, mas quando olho no relógio eletrônico no seu braço e vejo que já são quase 18 horas, aceito a carona. Sou deixada no portão do prédio, me dispesso de Beatrice e entro.

- Boa tarde senhorita Alice - O porteiro me cumprimenta com um sorriso simpático.

- Boa tarde seu Nero - Suspiro ao responde e aperto o botão do elevador torcendo para demorar - Interfona para a minha mãe, diz que eu tô subindo - Falo e vejo a porta do elevador se abrir.

Um senhor que eu vi algumas vezes pelo prédio, sai do elevador e então eu entro, aperto o botão que dá ao andar da minha mãe e fico vendo os números aumentarem aos poucos. Penso em como poderia explica-la o que aconteceu, talvez dizer toda a verdade seja melhor que qualquer mentira... Quando a porta se abre, me deparo com minha mãe em frente ao elevador, séria e com os olhos vermelhos e enchados, dava para ver que avia chorado muito.

- Aonde você se meteu? - Ela pergunta séria.

Engulo em seco e fico parada dentro do elevador olhando para ela.

- Eu... - Parei para pensar.

Ela respira fundo e me olha séria.

- Vou te escutar - Ela fala e rapidamente estica a mão impedindo que a porta do elevador se feche.

Engulo em seco e saio do elevador, andamos em silêncio até em casa, a porta é aberta por ela e eu entro primeiro, ela entra depois e nós andamos até a sala. Ela se senta no sofá e me olha séria, me sento no outro sofá e fico olhando para o chão.

- Eu sei que errei - Falo - Eu só queria ver a Ana uma última vez... - Falo e fico em silêncio.

O silêncio durou uma eternidade, depois de segundos, minutos, horas... Não consigo saber, finalmente minha mãe começa a falar.

- Você mentiu para o Alicio, fugiu do posto de gasolina, sumiu por mais de 4 horas... - Ele se encosta no encosto do sofá e suspira, finalmente olhando para mim - Nos deixou preocupados, EU ACHEI QUE VOCÊ TINHA SIDO SEQUESTRADA! - Ela fala alto e com um tom desesperado na voz e então o silêncio volta.

- Desculpa - Peço arrependida.

- Por que você fugiu?

- Eu não sei... - Finalmente falo - Eu tenho medo de voltar para o meu pai, eu queria me despedir da Ana... - Ela me interrompe.

- Ana? Alice, o que você tem com essa Ana? - Minha mãe pergunta séria - Você gosta dela?

- Claro! - Respondo sem exitar - Não tem como não gostar, ela é minha melhor amiga - Desvio da resposta esperada.

Minha mãe respira fundo e cobre o rosto com as mãos, jogando a cabeça para trás.

- Como você pode ser tão parecida comigo? - Ela pergunta tirando as mãos do rosto.

Sinto um fundinho de graça em sua fala, mesmo assim continuo quieta com a cabeça baixa, segurando um choro insistente.

- Olha pra mim - Ela pede de forma séria.

Ergo meu rosto e olho para ela, seu rosto continua impassível.

- Você vai voltar para a casa - Ela fala - Mas vou marcar para você uma consulta psiquiátrica para amanhã, também quero que traga a Ana aqui para conversarmos.

Ela fala e se levanta caminhando para a cozinha, me levanto e vou atrás dela.

- Mãe você não vai conversar com a Ana - Falo a seguindo até a cozinha.

- Por que não? Eu quero conhecê-la melhor.

- Por que a gente não tem nada! - Afirmo - Não passamos de amigas.

- Amigas? - Ela me olha como se disse "conta outra".

- Sim mãe, e se continuar pela Ana,  nunca passaremos disso! - Afirmo e saio da cozinha caminhando rapidamente até meu quarto.

Assim que entro, vejo ele todo vazio, caminho até a cama e me jogo nela e fico olhando para o teto de gesso, todo branco.

...

Fazem dias, semana, talvez meses que eu não saio de casa a não ser para ir ao psicólogo, as aulas acabaram e teve o acampamento, embora eu já tivesse pago a viagem não fui. Também fui na casa da Ana, duas vezes nesse tempo e em nem uma delas tinha alguém lá, no início mandava mensagem para ela todos os dias esperando sua responda, que nunca veio, mas depois de um tempo vi a foto de perfil ser mudada para um senhor e concluí que ela trocou de chip, também mandei mensagem para Clarinha, diferente da irmã ela olhava as mensagens mas nunca as respondeu.

Agora estou indo mais uma vez para a consulta com o psicológico, mas diferente das outras vezes, dessa eu não vou para a casa da Ana ver se ela chegou ou para minha casa, não. Dessa vez vou sair com a Clara e o Gabriel, tentei recusar o convite mas com o nível de insistência me convenceram.

Chego na clínica, espero por alguns minutos na sala de espera, sentada sobre um sofá de couro sintético branco e observando os padrões do papel de parede. Quando finalmente o outro paciente saiu, pude entrar na sala e ver o doutor sentado em sua cadeira confortável, ao outro lado da mesa.

- Boa tarde - O doutor me cumprimentou - Como se sente?

- Boa tarde, me sinto bem - Respondo logo me sentando a sua frente.

- A semana como foi?

- Tranquila, o mesmo de sempre.

Ele anota em um pequeno bloquinho de notas e então se levanta, caminha até seu armário o abre e pega uma caixa pequena de madeira.

- Vamos fazer uma dinâmica, aqui tenho diversas imagens - Ele abre a caixa e despeja sobre a mesa diversos quadradinhos com desenhos - Vou vira-las de ponta cabeça e você vai escolher uma por vez e me contar sobre algo que te lembra, ok?

Assinto com a cabeça e então ele vira as peças uma por vez para o lado de baixo, me deixando impossibilitada de ver as imagens.

Logo após a dinâmica continuamos as conversas um pouco mais e cheguei-lhe contar sobre a saída que darei hoje, junto de meus amigos, ele disse que era um belo avanço e então logo se encerrou a consulta. Saio da clínica e vou a pé até o ponto de encontro que marquei com meus amigos.

- Lice - Clara corre e me dá um abraço assim que me vê - Meu deus, não te vejo já faz dias - Ela estala os dedos em sinal de tempo.

Sorrio e abraço Gabriel em seguida, assim que me separo dos seus braços vejo um carro encostar perto de nós, olho para Clara e ela fala que é o Uber. Entramos no carro e vamos destino ao shopping do centro.

Chegamos e vamos direto para a praça de alimentação, é quase dezesseis horas e eu ainda não comi nada além do meu café da manhã.

- Vamos comer o que? - Gabriel pergunta.

- BK - Respondo caminhando em direção ao restaurante de fast food.

Nossos pedidos são feitos e então nós nos sentamos, Clara do meu lado e Gabriel na minha frente.

- Tava no psicólogo? Como foi? - Clara pergunta curiosa.

- Tá parecendo a Júlia - Comento e ela revira os olhos - Disse que sairia com uns amigos hoje e ele me parabenizou por isso - Conto indiferente.

- Vão viajar antes do natal? - Gabriel pergunta.

- Acho que vou amanhã pra casa do meu pai - Respondo a sua pergunta - Conversaram com a Ana?

- Ela não responde nem uma mensagem minha, acho que trocou de número por que agora a foto de perfil é de um velho - Clara fala.

- Comigo a mesma coisa, com a Júlia e o com o Caio também - Gabriel continua.

Respiro fundo e então escuto o número do nosso pedido, me levanto e vou buscar.

Nossa Última Noite (Romance Safico)Onde histórias criam vida. Descubra agora