Capítulo 9 - UMA MENINA E UM BARCO

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     ANNA jogou a corda, sentiu o solavanco ao apertá-la e o barco foi puxado até bater suavemente na parede. 

     Ela ergueu os olhos. Em pé acima dela, no topo do que ela agora via era um lance de escadas cortado na parede, estava uma garota. A mesma garota que ela tinha visto antes. Ela estava usando um vestido longo e fino, e seus cabelos louros caíram em mechas sobre os ombros quando ela se inclinou para a frente, olhando para dentro do barco. 

     "Você está bem?" ela sussurrou. 

     "Sim," disse Anna, em sua voz normal. 

     "Ssh!" A garota levou um dedo aos lábios. "Não deixe ninguém ouvir. Você pode sair? " 

     Anna desceu, a garota amarrou a corda a um anel de ferro na parede e as duas ficaram juntas no topo da escada, olhando uma para a outra à meia-luz. Isso é um sonho, pensou Anna. Eu estou imaginando ela, então não importa se eu não disser nada. E ela continuou olhando e olhando fixamente como se estivesse olhando para um fantasma. Mas a garota estranha estava olhando para ela da mesma maneira. 

     "Você é real?" Anna sussurrou finalmente.

     "Sim, e você?" 

     Elas riram e se tocaram para ter certeza. Sim, a menina era real, seu vestido era feito deum material leve e sedoso e seu braço, onde Anna o tocava, era quente e firme. 

     Aparentemente, a garota também havia aceitado a realidade de Anna. "Sua mão está pegajosa", disse ela, esfregando a lateral do vestido. "Não importa, mas está." Em seguida, ela acrescentou, pensativa: "Você é uma mendiga?"

     "Não", disse Anna. "Por que eu deveria ser?" 

     "Você está descalça. E seu cabelo é escuro e desgrenhado, como o de um cigano. Qual o seu nome?"

     "Anna." 

     "Você vai ficar na aldeia?" 

     "Sim, com o Sr. e a Sra. Pegg."

     A garota olhou para ela pensativamente. Na luz fraca, Anna mal podia ver suas feições, mas ela pensou que seus olhos eram azuis com cílios escuros retos. 

     "Não tenho permissão para brincar com as crianças da aldeia", disse a menina lentamente, "mas você está de visita, não é? Enfim, não faz diferença. Eles nunca saberão. " 

     Anna se virou abruptamente. "Você não precisa se preocupar", disse ela. 

     Mas a garota a segurou. "Não, não vá! Não seja tão idiota. Eu quero conhecer você! Você não quer me conhecer? " 

     Anna hesitou. Ela queria conhecer essa garota estranha? Ela mesma mal sabia a resposta. Mas, para esclarecer as coisas primeiro, ela disse: "Minhas mãos estão pegajosas porque comi um pão doce no chá e meu cabelo está bagunçado porque não o escovei desde esta manhã. Tenho sapatos, mas os deixei na praia. Então agora você sabe. " 

     A garota riu e puxou-a para baixo ao lado dela no último degrau. "Vamos sentar aqui, então eles não nos verão se olharem para fora. Mas devemos conversar com calma. " Ela olhou por cima do ombro, na direção da casa. Anna seguiu seu olhar. "Eles estão todos lá", ela sussurrou. "Essa é a sala de estar onde as luzes estão acesas."

     Ouviu-se o som repentino de uma janela se abrindo logo acima de suas cabeças. A garota se abaixou e colocou a mão no ombro de Anna ,fazendo-a se abaixar também. Silenciosamente, elas desceram um degrau e sentaram-se encolhidas, cabeças inclinadas, a garota segurando o braço de Anna com força. Acima delas, uma voz de mulher disse: "Como é lindo o pântano à noite! Eu poderia ficar aqui sentado para sempre. " A garota estremeceu de empolgação e se abaixou ainda mais. Elas se deram as mãos, rindo silenciosamente, vendo apenas os dentes brancos uma da outra brilhando na escuridão. 

Memórias de Marnie - When Marnie was thereOnde histórias criam vida. Descubra agora