Singularity

Descontentamento

— Vejo que está perdido garoto. — O tom do Min era um tanto quanto áspero para a situação, ele nem ao menos se importava se o outro realmente estava perdido ou não. Havia escárnio em sua voz e ele sentia que poderia vomitar a qualquer momento, deu um sorriso de lado e cerrou os punhos. Não sabia ao certo o que estava sentindo e nem muito menos o que podia fazer. Seu sangue fervia e sua vontade era de chorar, mas de pura frustração e desgosto. 

Precisava sair de perto dele, mas se sentia culpado também. Odiava a situação e a sensação que queimava dentro de si. 

A quem queria enganar? Detestava Taehyung com todas as suas forças e ao mesmo tempo tinha inveja dele. Não queria reconhecer, mas o Kim tinha aquilo que o Min mais queria naquele momento e o mesmo havia lhe tirado um bem de extrema preciosidade. Hoseok dava a Taehyung a atenção que era sua, o Jung era seu grande amor. 

Era. E as vezes se perguntava se um dia ele foi. Viviam em um castelo de cartas? Nunca saberia de verdade. 

— Não estou tão perdido assim quanto acham que eu estou hyung. — Taehyung deu ao Min seu sorriso mais sarcástico e aquilo despertou sensações novas dentro do coração alheio. 

O que ele queria dizer com aquilo? Claro que suas memórias não haviam voltado de todo, era um fato, mas o que realmente aquelas palavras queriam dizer? Estava sendo metafórico como pensava? 

— Anda dando muitos truques para cima das pessoas, garoto? — Sua cadela latiu e Taehyung se assustou por um momento. —  Acha mesmo que pode continuar assim? Uma hora esse seu castelo de cartas cai e o que o nunca foi seu voltará ao lugar de origem.  — Cuspiu as palavras nele. Era o que esperava. 

Taehyung riu. Alto, claro e em bom som de forma debochada assumindo uma persona que Yoongi não esperava nunca ver. 

— O que não é meu? E o que não seria meu, hyung? — Se aproximou um pouco do Min, ambos naquela calçada movimentada, atraindo alguns olhares que estranharam a galinha dentro do transportador para gato. — No fundo você sabe que nada foi seu, desde o começo. — Cruzou os braços e balançou a cabeça levemente retirando da frente dos olhos a franja um pouco longa. — Ele iria voltar para mim desde o princípio, era questão de tempo. — Yoongi paralisou, seu estômago doeu e aquele revirar de sentimentos e sensações começou a fazer um bolo que se instalou em sua garganta. — Você sempre soube disso, não soube? Estava dando pra ele enquanto eu não podia dar? Com o que você se enganou mais, ao dar amor ou a bunda? 

Respirar ficou complicado e por um momento ele pensou em partir para cima daquele rapaz que agia com tamanha prepotência. O que era aquilo? Taehyung estaria fingindo? Queria socar o rosto dele até não restar mais nada daquele sorriso. Detestava com todas as suas forças cada parte daquele homem. 

— Você só me faz pensar, falando dessa forma, que não perdeu memórias porra nenhuma e está apenas mentindo para afastar o Hoseok de mim. — Disse entre dentes, a raiva lhe consumindo. A galinha ficou agitada e sua cadela também, parecia que sentiam a tristeza do dono e queriam bater naquele homem a frente deles. — Você acha que as coisas vão ficar do jeitinho que você, demônio, gosta? Eu não vou deixar moleque. Você fudeu sozinho com esse relacionamento no passado e não vai terminar de foder a cabeça do Hoseok no presente não. 

— Eu não disse nada disso hyung, você não pode pôr palavras na minha boca. Isso é feio, tão feio quanto ser um mau perdedor. — E tudo aquilo parecia confuso demais para o Min. Ele quis gravar aquelas palavras e poder colocar todas elas para fora em meio a uma conversa com o Jung. Mas não sabia se aquilo era um jogo de manipulação ou se estava alucinando. Taehyung incorporou alguém que Yoongi não conhecia e do nada voltou a parecer o menino perdido que se acidentou diante dos seus olhos. As coisas não se encaixavam, ele sentia.