Fevereiro de 2028, parte V

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Voltei babys, estavam com saudade?
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"Se não der, tenta ligar, a gente resume a distância. Me conta da tua janela, me diz que o mundo não vai acabar. Me conta da tua janela e me diz que o mundo não vai acabar. Daqui, eu vi o tempo parar, pra gente se lembrar da força que é alguém do lado, pra gente entender que nós e o chão somos a mesma coisa e os dias são contados pra gente viver..."

Rio de Janeiro, Brasil.

11 de fevereiro de 2028.

Sexta-feira.

Restaurante Outback.

11:20.

- E você foi embora depois do beijo? - Roberta franziu o cenho, mexendo na salada que estava em seu prato. Nas poucas vezes que Sarah saiu para almoçar com Roberta, ela reparou que a mulher sempre deixava a salada por último.

- É... a gente se beijou, aí eu fui me despedir das crianças e, depois, me despedi dela e... ela me deixou abraçá-la e... rolou outro beijo. Enfim... - Sarah juntou os ombros ao pescoço, não conseguindo evitar um sorriso.

- E, depois disso, você foi embora? - Roberta estava incrédula, como se Sarah estivesse cometido o maior erro de sua vida. - Olha, Sarah, você tem sérios problemas com... sustentar relacionamentos. Como você conquistou a Juliette, da primeira vez? Ou ela foi tão legal ao ponto de perceber que você não era boa em conquistar alguém e decidir te dar uma chance, mesmo assim?

- Eu... ah, a gente era bem nova, Roberta. A gente se conheceu no primeiro ano do ensino médio, tínhamos quinze anos de idade. Ela fala que gostou de mim porque eu era bem humorada, engraçada... - Sarah tentou se explicar, forçando sua mente a voltar no tempo, mais uma vez.

- Você mudou bastante, não é? - a mulher ironizou, rindo de Sarah, que revirou os olhos, balançando a cabeça. - Continue.

- Enfim, ela era difícil... muito. Eu lembro que só nos beijamos uma vez antes de começar a namorar! Faz a conta, dos quinze anos dezessete... um total de dois anos e só um beijo naquela mulher. Foi triste, viu? - Roberta estava rindo por causa da expressão de tristeza que estava tomando conta do rosto de Sarah. - Eu pedi ela em namoro numa viagem da escola, a São Paulo... ela disse não. - Sarah viu Roberta quase cuspir a salada que estava em sua boca, enquanto o rosto da mulher ficava avermelhado. - Ela perguntou o porquê do meu pedido, já que a gente só ficou uma vez. E eu, com minha lábia celestial, não consegui respondê-la de primeira. Estava muito nervosa e segurando o xixi... - a loira viu os pêlos de seu braço subirem, estava arrepiada, pois conseguia sentir as mesmas sensações de anos atrás. - Mas eu sou brasileira, nata, nunca desisto! Quando voltamos para o Rio de Janeiro, escrevi uma carta falando tudo o que eu sentia e... advinha?

- Ela disse não, de novo? - Roberta segurava a risada, encarando Sarah.

- Não, tolinha! Ela disse sim. Eu entreguei a carta à ela na hora do intervalo, um dia depois da viagem, no banheiro da escola. Eu coloquei um girassol, junto! Fiquei ao lado dela, esperando ela terminar de ler.

- O que estava escrito? - Roberta apoiou os cotovelos na mesa, vendo Sarah esboçar vários sorrisos seguidos. - Lembra de algum trecho?

- Eu lembro de tudo! Eu sinto que reescrevo essa carta todos os dias, é muito fresca na minha mente... Não foi uma coisa muito... escandalosa, mas... - a loira suspirou, lembrando da carta que havia escrito. - Eu não vou recitar o que eu disse, Roberta! Desista.

- Por favor, Sarah! É o mínimo que você pode fazer para pagar essas sessões de terapia que eu te dou, de graça! Pelo menos uma parte, vai?!

- Eu não soube responder uma pergunta bem simples, que era sobre o porquê de eu ter te pedido em namoro... - Sarah começou, vendo Roberta de ajeitar na cadeira, sorridente. - Posso me justificar de duas formas: eu estava nervosa demais, porque, querendo você ou não, eu gosto de você e, também, nunca conseguiria falar tudo isso cara a cara, pois você depositaria toda sua atenção em mim, através de seus lindos olhos castanhos unicos, cheios de vida, e eu mal conseguiria pronunciar meia palavra, pois me perderia neles. Então, se prepare, são muitos motivos, Ju... Eu gosto do jeito que você mexe no cabelo quando está reclamando de algo, ou quando não está entendendo a matéria. Gosto do jeito que você ri de mim, quando eu faço algo que não é muito engraçado, mas eu sei que você vai, pelo menos, sorrir. Amo quando você levanta uma sobrancelha e defende seus ponto de vista na aula de Sociologia, ou quando apresenta um trabalho da melhor maneira possível, enquanto achava que seria um desastre. Amo o jeito que você aponta o lápis, ou fica puta quando a ponta da sua lapiseira quebra, do nada. Gosto, até, do jeito que você me encara feio quando eu não calo a boca na sala de aula! Sério, às vezes, faço isso de propósito...

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