Março de 2028, parte III

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"Desculpe, estou um pouco atrasado, mas espero que ainda dê tempo de dizer que andei errado e eu entendo as suas queixas tão justificáveis e a falta que eu fiz nessa semana. Coisas que pareceriam óbvias até pra uma criança. Por onde andei enquanto você me procurava? Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava? Amor, eu sinto a sua falta e a falta é a morte da esperança. Como o dia que roubaram seu carro deixou uma lembrança que a vida é mesmo coisa muito frágil, uma bobagem, uma irrelevância diante da eternidade do amor de quem se ama..."

Rio de Janeiro, Brasil.

11 de março de 2028.

Sábado.

09:20.

Juliette observou a expressão serena de Sarah, que estava deitada, aconchegada, com o rosto próximo ao seu, já que dividiam o mesmo travesseiro. Estava longe o suficiente para conseguir depositar um beijo nos lábios da mulher, mas perto o suficiente para conferir em todos os detalhes, que não havia de esquecido, que existiam ali.

Seu lábio inferior continuava a se mexer, involuntariamente, enquanto dormia, e ela parecia, sempre, estar sonhando algo tão curioso, pois sempre parecia estar muito concentrada no mundo inconsciente dos sonhos. As mãos delas estavam coladas à cintura de Juliette, não desgrudaram dali desde o momento em que adormeceram. O toque da mão da mulher ali ainda era suave, mas estava mais firme, como se estivesse travando Juliette entre a cama e seus braços. A morena havia reparado naquilo e estava matando as saudades daquele segurança. Também havia reparado que Sarah ainda mordia o interior da bochecha enquanto dormia e era algo que Juliette adorava assistir.

Percorreu o dedo indicador pelo nariz da mulher, vendo que aquilo não atrapalhava seu sono. Repousou a mão em sua bochecha, delicadamente, movimentando o polegar de um lado para o outro e aproximou seus lábios da testa da loira, sem a intenção de se afastar dali tão cedo. Os cabelos macios da mais alta acariciavam as mãos de Juliette, que estava próxima à nuca de Sarah, fazendo um pequeno cafuné.

- Se eu estiver sonhando vou ficar muito puta. Mas muito mesmo! - a voz, abafada, de Sarah quase assustou Juliette. A loira mantinha os olhos fechados, bem apertados, e seu corpo estava rígido, tenso e, quase, perturbado por considerar que aquela situação não era real.

- Hum? - a morena confusa resmungou, fazendo algo que ela não queria, que era de afastar do corpo de Sarah. Observou a mulher abrir um dos olhos, numa careta, e soltou uma risada rouca. - Que foi?

- Me belisca?! - Sarah analisou os olhos castanhos intensos de Juliette se estreitarem, por causa do sorriso que estava nos lábios da mulher. - Se eu acordar num quarto que a parte do canto do teto está descascando vou ficar muito triste.

Juliette riu, vendo que Sarah ainda mantinha um olho aberto e outro fechado. Segurou o rosto dela, com uma de suas mãos e a encarou, se aproximando da mulher, com os olhos entreabertos e os olhos se fechando a cada milésimo de segundo. Sentiu seus lábios colorirem aos de Sarah, e seu corpo amolecer, enquanto a loira encaixava seus braços ao redor de sua cintura. Um ato tão pequeno havia causado um impacto enorme no interior de Juliette, como se estivessem quebrando seus muros e os pedaços dele estivessem se espalhando por seu organismo, alguns caindo em seu estômago e fazendo com que ele se sentisse desesperado, nervoso, reconhecendo todos os sinais de perigo.

Mas não havia perigo ali. Havia Sarah e ela fazia questão de demonstrar que ela não estava ali para saquear o estoque de alegria de Juliette, apenas fazer com que ela construísse mais um, porque só aquele não daria conta. E a morena estava acreditando, piamente, naquilo. Ela tinha que acreditar, tinha provas para fazer isso. Ela queria, muito, acreditar! E, embora o muro não estivesse, totalmente, no chão, estava numa altura considerável para que Sarah conseguisse pular e entrar... sem nem precisar bater.

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