Fevereiro de 2028, parte II

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"Sei que amores imperfeitos são as flores da estação. Eu não quero ver você passar a noite em claro. Sinto muito se não fui seu mais raro amor... Quando o dia terminar, quando o sol se inclinar, eu posso por uma toalha e te servir o jantar..."

Rio de Janeiro, Brasil.

06 de fevereiro de 2028.

Domingo.

20:37.

Sarah passeou os dedos pelo cabelo de Filippo, que dormia deitado em seu peito, enquanto Pedro prestava atenção no programa que passava na televisão, sobre como os filhotes de leoas sobrevivem quando se perdem da mãe e, ainda por cima, conseguem achá-las depois.

Sarah suspirou, encarando a televisão e não prestando atenção em nenhuma das imagens que passavam ali. Só mentalizava que faltavam alguns minutos para que ela pudesse levar os meninos de volta para o apartamento de Juliette, por isso deveria se aprontar logo. Naqueles dias em que os meninos estavam com Sarah, as duas mulheres haviam trocado poucas palavras sobre como seus filhos estavam, se precisavam que algo e sobre o horário que Sarah os entregaria no domingo. A única coisa diferente que Juliette disse foi: por favor, precisamos conversar.

Quando Sarah queria conversar, esclarecer e resolver tudo, Juliette fez tudo o que podia, e não podia, para que a loira não atingisse seu objetivo! Elas já poderiam estar bem, ou caminhando para o começo de uma recuperação. Agora, Juliette queria, a todo custo, conversar com Sarah. Na verdade, ela não queria conversar, queria se justificar. Sarah conhecia sua mulher... ex-mulher!

Sarah não sentia raiva de Juliette, nem rancor, nem ódio... sentia dela mesma! Por, absolutamente, tudo! O seu maior desejo era conhecer o cara legal que Juliette estava conhecendo para ver se ele era legal, mesmo. Queria ver e ter certeza que Juliette estava melhor sem ela, estava mais feliz... porque ela não estava! Não estava, mesmo!

Havia conhecido Roberta, que era uma mulher linda, atraente, inteligente e dona de todos os elogios existentes, mas... não era aquilo que queria. Quer dizer, estava atraída, não podia negar, mas nada além disso. Não demorava muito para que Juliette tomasse conta dos seus pensamentos e Sarah tinha certeza que também era dessa forma que acontecia com a morena. Havia percebido isso nos olhos dela na última vez que se viram. Só que nadar contra a corrente nunca é fácil, às vezes é impossível, mas nunca devemos deixar de continuar a nadar. Até porque, as obras mais bonitas dessa vida demandam tempo e paciência. Seja ela qual resultado final tiver.

- Mamãe? - Pedro debruçou sobre o peito de Sarah, fazendo a mulher esboçar um sorriso, direcionando os olhos a ele. - Você e a mamãe não vão morar juntas mais, não é? - ele apertou os olhos, encarando a mãe. - Tudo bem, mamãe, pode me falar. Eu não vou contar para o Pippo.

- Por que você acha que eu e a mamãe não vamos morar juntas mais? - ela franziu o cenho, estranhando a pergunta do maior apoiador da reconciliação das duas.

- Eu acho que você e a mamãe vão voltar, sim. Mas... não tá demorando? - ele tombou a cabeça para o lado. - Eu vi a mamãe chorando... muito. Quando eu perguntei a ela o que era, ela falou que não era nada. Só que eu sei que é alguma coisa, porque quando eu estou bravo, você e ela me dizem que ninguém chora por nada.

Sarah engoliu o nervosismo a seco, lembrando-se de quando foi embora do apartamento onde morava, vendo o rosto inchado de Juliette enquanto a morena fechava a porta, encarando-a. Apesar de tudo, elas sempre faziam seu melhor para que seus filhos não vissem essas cenas.

- Hum... - a Sarah desconcertada coçou a cabeça, procurando palavras para dizer algo que não fazia ideia o que era.

- Ela chora, às vezes, e eu fico vendo escondido. - ele deu de ombros, encarando a televisão. - Vocês podem conversar, não é? Pelo menos pra mamãe parar de chorar! - Sarah, automaticamente, assentiu, sentindo a dor da surra de maturidade que havia levado de seu filho, que ainda era uma criança. - Ela sente saudades! Eu já ouvi ela falando com a tia Carla que sente saudades de assistir televisão com você, mas não pode... eu não entendi, mas ela falou que não vai falar isso pra você, mamãe.

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