III ; family things

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Era apenas mais uma noite de sexta-feira a qual TaeHyung se encontrava sozinho em sua casa, sentado no sofá com seu pijama verde com estampa de animais aleatórios, assistindo desenho. Ouviu sua barriga roncar e suspirou, já estava acostumado com os sumiços do pai nos fins de semana, então se levantou e foi até a cozinha, caçando nos armários algo para comer, mas só tinha lámen e já estava começando a enjoar de lámen. Então se lembrou que na tarde daquele mesmo dia, a vizinha havia levado uma travessa de lasanha; correu para a geladeira e lá estava ela, ainda havia uma boa quantidade ali.

Cortou um pedaço para si e levou ao microondas, aguardando ansiosamente que sua comida esquentasse enquanto a olhava girar através do vidro grosso do eletrônico. Como se estivesse combinado, no instante que o temporizador zerou e o microondas apitou, a porta da sala foi aberta com força, tanta força que TaeHyung pulou ao levar um susto, devido ao barulho alto causado pelo impacto, provavelmente da porta na parede. Seu coração começou a bater rápido e se manteve ali na cozinha, quietinho, quando ouviu algo ser lançado contra o chão com força, algo de vidro, já que ouviu o barulho deste objeto se despedaçando.

Em passos curtos, silenciosos e cautelosos, foi até a porta que dava acesso à sala. De fininho colocou sua cabeça para fora, espiando, e então viu seu pai encarando o abajur estraçalhado no chão. Mesmo de longe, TaeHyung conseguiu sentir aquele forte cheiro de álcool misturado com tabaco e algum perfume desconhecido, seu pai então se virou e bateu a porta novamente, dessa vez fechando. Ele se apoiou na mesma, deixando as duas mãos espalmadas contra a madeira da porta, com a cabeça baixa ficou, em silêncio. TaeHyung ficou confuso, já que geralmente ele chegava e saía quebrando tudo, mas naquele dia ele ficou ali, parado, em silêncio.

Seu corpo deu alguns espasmos e antes que TaeHyung pudesse se perguntar o porquê dos espasmos, Hyun começou a vomitar.

TaeHyung arregalou os olhos e correu até seu pai, massageando suas costas e deixando que ele soltasse o que tinha para soltar, decidiu não falar nada. Hyun parou de vomitar e respirou fundo, tirando as mãos da porta e ajeitando sua postura para então se virar para TaeHyung.

Se lembrava como seu pai era um homem incrível e responsável, deixando bem claro que era o homem da casa, cuidando e protegendo TaeHyung e sua mãe. Ele sempre era sorridente e alegre, soltava piadas que TaeHyung não entendia, mas ele ria porque via os pais rindo, se sentia feliz quando os via feliz. Hyun tinha olhos brilhantes e vivos, mas naquele instante, tudo que TaeHyung pôde ver foram olhos escuros e sem vida, avermelhados, cansados, perdidos. Era como se Hyun não fosse mais Hyun, como se de repente, tivesse começado a morar com um completo desconhecido.

Hyun encarou o filho e surpreendeu quando simplesmente começou a chorar, desabando na frente de TaeHyung, que com onze anos não conseguiu entender o que se passava. Decidiu ouvir seu coração e sem ligar se seu pai estava sujo ou não, o envolveu em um abraço, que foi retribuído quase de imediato. Hyun chorava compulsivamente, mas não dizia nada, e TaeHyung também não se atreveu a perguntar, apenas ficou abraçado com ele ali, deixando ele chorar o que tinha para chorar. Depois de um tempo, eles se separaram e Hyun limpou o rosto com as costas das mãos, uma delas TaeHyung segurou e então o puxou.

— Vou encher a banheira 'pra você tomar um banho, papai.

Ele disse, antes de guiar Hyun para o andar de cima.

[ ... ]

Duas semanas haviam se passado e TaeHyung não viu mais Jeongguk, o que lhe deixou um pouco abalado. Não o via na portaria, não o via no corredor, uma vez foi bater em sua porta e não teve resposta, então acabou desistindo, só esperava que ele não tivesse se mudado. Gostava da companhia dele, era uma das poucas pessoas que lhe deixavam à vontade. Mesmo sem conhecer Jeongguk direito, se via nele às vezes, isso era reconfortante.

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