Capítulo 4 - Uma noite no porão

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O sol nasceu atrás das colinas e esquentou bem rápido aquela manhã ruidosa de quinta feira. As máquinas trabalhavam no campo, os bichos eram alimentados nos currais. O moinho se fortalecia em suas estruturas sob as mãos fortes dos homens liderados por Sam.

Da janela de seu escritório, Eduarda assistia de camarote cada movimento de seu marido. Ela tentava acordar antes dele, mas era impossível. Eduarda nunca viu um homem acordar as cinco da manhã com tamanha energia.

Ele era como uma máquina programada para fazer as coisas. Era extremamente focado e organizado. Tudo que ele se dignava a fazer saia como planejado. Algo nisso, nessa mesma paixão que ambos sentiam pelo que faziam, motivou Eduarda a pensar de forma mais positiva em relação ao esposo.

Enquanto, ela lidava com as burocracias de abrir o hotel. Ele se encarregava de tudo que era mais bruto. Em breve faria um mês de sua estadia na casa e, somente com sua mão e liderança. Avançaram e muito. Eles podiam até mesmo escolher a data de inauguração.

Rubinho se aproximou com o quadriciclo que era usado para movimentação na fazenda. Ele adorava dirigi-lo para cima e para baixo. Levou consigo um galão d'agua gelada para os trabalhadores e aproveitou para conversar com seu amigo Sam.

— Fala, meu patrão! – Ele deixou o galão em cima de um toco cortado de árvore. Tirou do carro outra garrafa e deu para Sam. – A Duda mandou para o senhor.

— Ela me mandou? E o que é?

— Suco de goiaba. – Sam olhou para a janela da casa grande onde ficava o escritório e viu ao longe a cortina se mexer. Ela o estava vendo. Não era a primeira vez que isso acontecia. Ele podia vislumbrar a silhueta daquela mulher até de noite. Era ela. Estava observando-o. Algo nisso o alegrou.

— Ei, Rubinho. Me diga uma coisa, o que a sua irmã gosta? Tipo, flores, bombons, joias...essas coisas. Ela tem alguma preferência? – Queria de alguma forma retribuir a gentileza, mas eles não tinham tanto contato. Não conhecia ela tão bem.

— Ah, meu patrão. Ela né mulher chegada nessas coisa não. Mesmo que vista umas roupa assim mais jeitosa. Só que ela só usa em ocasião especiar. Se quiser agradar a sua mulher, devia era dormir no quarto com ela.

— Ei! – Todos olharam para Sam. Rubinho falou demais e alto o suficiente para todos ouvirem. Como sempre. – O que está falando? A gente só teve uma briga. Acontece, não é?

Ele deu uma desculpa qualquer, sorrindo sem graça para os homens que olharam curiosos. Sam levou Rubinho para longe do pessoal.

— Você não pode falar essas coisas por aí. Ninguém pode saber que a gente dorme em quarto separado.

— Oxi, mas todo mundo sabe. – Ele disse sem entender porque da agonia dele. Até onde Rubinho sabia a fazenda toda conhecia a história dos quartos separados.

— Como assim?

— Ara, mas o povo nem estranha. Eles pensam que a Duda é uma espinhosa e que ocê dorme em quarto separado, porque não aguenta os espinhos da muié. – Ele riu sozinho da piada. Sam não gostou.

— Mas, você é muito linguarudo! – Sam puxou a orelha de Rubinho. Literalmente.

— Eu não falei mentira, ô! – Rubinho correu para ficar longe dele. – E vê se tu se esperta. Porque a mana tem um montão de pretendentes. Se eles souberem que tu não dá no couro. Já era, patrão.

Ele fez um gesto como de guilhotina. Subiu no quadriciclo e partiu, deixando a cabeça de Sam fervilhando. Com vontade de surrar Rubinho e ao mesmo tempo matar todos os outros pretendentes.

Eu Não Devia Amar Você [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora