Capítulo 5 - Malandro não dorme

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Amanheceu pela primeira vez em três dias sem um sinal de chuva. O sol apareceu galhofeiro naquela manhã, para a alegria de Sam que não suportava mais ter seu trabalho adiado. Assim como não aguentava mais ficar de fora da sala de escritório de Eduarda.

Mauricio e ela ficaram esses três dias enfurnados lá, como se não houvesse outra coisa a se fazer. Sam não era hipócrita em relação aos próprios sentimentos. Ele estava com ciúmes de Eduarda. Não que ele não tivesse antes, mas agora era bem mais difícil esconder.

— Tia, eu preciso da sua assinatura aqui nesse documento. Eu preciso escaneá-lo e mandar ao advogado ainda hoje. – Eduarda apareceu na cozinha, entregou o papel e a caneta para a tia. Foi até a bancada ao lado da pia e pegou uma maçã. Estava faminta, mal tinha se alimentado no café da manhã.

Sam que estava sentado à mesa se levantou para tentar conversar com ela. Tinha muitas coisas para dizer, como o fato de que a piscina estava limpa, os descampados no lado direito da fazenda com as gramas aparadas. O Jardim precisando apenas de alguns retoques.

Ele fez uma lista mental de tudo que queria contar à esposa. Não é porque choveu que ele não pôde se ocupar de outros assuntos. Ele colocou todos os funcionários para trabalhar. Não deixou um sem nada o que fazer.

Ele se esforçou e queria contar para ela o que fez.

Enfiou as mãos na calça jeans, meio sem jeito de se aproximar, algo que nem ele entendia muito. Não era acostumado a se sentir assim, mas Eduarda tinha um jeito um tanto imprevisível e arisco.

Ainda lhe custava um pouco saber como lidar com ela. Sem falar que estava a três dias sem muito contato com a mulher como iria se aproximar assim do nada. Era difícil.

— Eduarda, você teria um tempo para que a gente converse, é que tem umas coisas em relação a preparação para a inauguração que eu queria discutir... – Mauricio entrou na cozinha correndo com o celular na mão. Sempre o maldito irmão.

— Conseguimos um grupo de investidores, fornecedores e empresários em geral para passarem cinco dias incríveis aqui no hotel. Os hospedes chegam em uma semana! Bem a tempo da inauguração. Isso não é maravilhoso? – Eduarda correu para os braços de Mauricio e beijou sua bochecha. Tia Leni abraçou Melissa. Todos comemoraram menos Sam. – Eu não disse que iriamos conseguir abrir o hotel em bem menos tempo do que você tinha previsto? Eu falei!

— Você é um gênio, Mauricio. Gênio! – Sam sentiu um gosto amargo na garganta. Passou pelos dois e caminhou até a porta da cozinha.

— Você não vai dizer nada, irmãozinho? – Mauricio perguntou para colocá-lo em saia justa. Sam apenas enfiou o boné na cabeça desinteressado.

— Parabéns. – E saiu.

***

Rubinho estava sentado num tronco de árvore antigo, debaixo do sereno da noite. Nos fundos do casarão distante uns cinquenta metros do que era o curral. Aquele era seu lugar favorito, onde ele podia pensar solitário no seu amor impossível. Ele estava tão distraído que se espantou quando Sam puxou sua garrafa de cerveja das mãos dele.

— Mas ara! Você compre sua cerveja, me devorve a minha. – Sam entregou a garrafa a ele, não porque iria obedecê-lo, mas porque era ruim.

— Putz! Que negócio horrível!

— Há! Bem vi! Homem de cidade não guenta o poder do "barranco". – Ele riu satisfeito bebendo mais um gole, sem nem fazer cara feia.

— "Barranco"?

— Sim, patrão. É o nome dessa misturada que nós toma aqui na fazenda há anos. Essa bebida ajudava os peão de antigamente tocar as boiada em dia de chuva. Mas eu... eu tomo para esquecer.

Eu Não Devia Amar Você [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora