"Beatrice.
Estou nesse momento cruzando o oceano. Sua luz me deixou perdido no meio da Sicília escura e sombria. Eu sei, eu realmente sei que sou culpado... Mas... Meu Deus, o que dizer a você? Eu ainda não sei como lidar com o fato de que a mulher que eu amo é filha da família que odeio..."Matteo olhou aquelas palavras e amassou o papel. Ele se perguntava o que diabos estava fazendo escrevendo. Ele amava aquela mulher com loucura e com desespero. Ao mesmo tempo, doía sua alma por não conseguir jamais vingar sua família, seu pior impecilho era seu maior amor.
Enquanto olhava para o mar embaixo de si, Matteo se perguntava como seria se a encontrasse. Ele diria o que? Seria capaz de passar por cima do sobrenome dela? Beatrice então seria capaz de perdoá-lo? Matteo não sabia... Tudo o que ele tinha certeza é que desde o momento que Giovanna lhe disse que Beatrice estava em Nova Iorque, ele foi em busca da luz que havia perdido.****
Matteo havia chegado nos Estados Unidos há um dia e já estava brigando com meio mundo.
Nova Iorque estava como ele se lembrava: iluminada, cheia de pessoas e vazia se sentimentos, como sua alma.
Ele caminhava pelas ruas e observava cada loja e cada beco. A localização que Giovanna obteve foi de vários kilometros e ele estava disposto a vasculhar cada canto daquele lugar. Enquanto andava, se pegava pensando na facilidade que tinha de se auto sabotar. Por causa da sua vingança e ódio, desperdiçou o único amor que um dia teve. Ele ainda não entendia tudo, ainda não conseguia esquecer que Beatrice era uma Grecco. Na verdade, Matteo não sabia o que fazer para conciliar o que sentia por sua Luce e toda a história de vida com aquela família. Eles haviam destruído sua vida, haviam matado seu irmão e quase arrancado Giovanna de suas mãos.
"— Matteo, estou buscando pelo novo nome dela. Se há algum registro no sistema. Giovanna disse pelo telefone.
— O... O quê eu direi quando encontrá-la? Matteo verbalizou sua angústia. Como concertar o que estava quebrado? Como passar por cima do seu orgulho e do orgulho dela? Como sair da escuridão que os colocou?
— Você saberá o que dizer Matt.
— Espero que sim. Ele respondeu desligando."
Naquela noite, depois de caminhar todo o dia e bater em cada hotel que encontrava, Matteo se sentou exausto em um bar. Ele pediu whisky e virou de um só vez, sentindo o ardor familiar queimar sua garganta. Matteo encarava o copo e passava o dedo sob a borda, se perguntando o que faria a seguir. Ele estava fora de qualquer comportamento minimamente aceitável e lhe doía não se reconhecer naquele momento.
— Vejo alguém de coração partido. Uma voz feminina sussurrou em seu ouvido e ele sentiu mãos leves passando sobre seu braço enquanto a mulher se sentava ao seu lado. Sem responder, pediu ao garçom mais uma dose de whisky e ignorou a mulher que se mexia descontrolavel na cadeira.
— Não quero ver seus peitos, portanto, pare de tentar mostra-los. Ele disse enquanto virava a dose e pedia mais uma.
— Um homem com coração partido é tão gostoso de consolar. A mulher respondeu o tocando novamente. Matteo sentiu sua pele se queimar de repulsa e se afastou, recebendo outra dose e virando. — Não vai me pagar um bebida? Ela perguntou sorrindo. O olhar daquela mulher é como todas as outras, olhar de devassidão, de desejo e de luxuria. Olhar esse que antes lhe dava prazer e agora lhe dava repulsa.
Depois de conhecer o amor e a paixão com Beatrice, nada nunca poderia se comparar àquilo. Engolindo o bolo que se formou em sua garganta e tentando abafar da sua mente os gemidos de prazer que sua luce soltava mediante seu toque, Matteo se levantou da cadeira, pegou um bolo de notas do bolso e jogou em cima do balcão. Ele só queria ver, mais uma única vez, aqueles olhos esmeraldas.
Dia após dia, Matteo a buscava sem cessar. Estava difícil encontrar vestígios de alguém que não queria ser encontrado.
"— Me dê boas notícia Giovanna! Ele disse ao atender a irma no telefone.
— EU ENCONTREI! Encontrei Bea. Na verdade, encontrei Helena."
***Saber que estava prestes a ver Beatrice após tudo que havia acontecido o deixava com um frio na barriga e um gosto amargo na boca. Ele sempre fora destemido e nada o abalava facilmente, mas depois de Beatrice nunca mais foi o mesmo.
Giovanna com muito custo conseguiu rastrear a tal ONG em que ela trabalhava e naquela tarde, ele alugou um carro e dirigiu até o local. O prédio ficava em um lugar afastado, era um tanto grande e tinha uma fachada discreta. Enquanto olhava os vidros espelhados, tentava ver ali olhos verdes brilhantes.
Matteo ficou dentro do carro por horas buscando dentro de si palavras para serem ditas quando olhasse para a Aurora Boreal em uma noite escura que eram os olhos de sua Beatrice. Assim que a noite começava a cair e a chuva também, Matteo notou uma movimentação e viu algumas pessoas saindo pelo portão do lugar. Algumas com guarda chuva, outras corriam dos pingos que ficavam mais fortes. Foi então, que cabelos castanhos lhe chamaram atenção. Beatrice estava ali, bem perto do seu alcance! Ela vestia um vestido preto que ia até os joelhos, suas pernas eram cobertas por uma fina camada de meia, e em cima um casaco também preto comoelmentava. Matteo se escondeu para dentro do carro, mesmo que seu vidro fosse escuro e ela não pudesse enxergá-lo. Enquanto caminhava, os quadris dela balançavam em ritmo com seus cabelos esvoaçantes e Matteo sentiu a saudade o invadir a tal ponto que seus olhos umedeceram e com horror, ele enxugou uma lágrima que escorreu por sua bochecha. Matteo a via se afastar na medida que dividia um guarda chuvas com uma menina de cabelos negros e traços asiáticos.
— Helena! Ele ouviu uma mulher gritar atrás dela e correr ao seu encontro, lhe entregando algum tipo de sacola.
— Cindy! Obrigada. Ela agradeceu com um pequeno sorriso que não chegou aos seus olhos e Matteo sentiu seu maldito coração despedaçado se quebrar ainda mais.
Ele observou ela caminhar junto aquela mulher até parar um lugar que ele acreditava ser um ponto de ônibus, suas mãos suavam, tudo o que mais queria era correr até ela e dizer tudo que estava o sufocando, assim que destravou a porta do carro para descer, viu um ônibus parar e Beatrice entrar, antes que pudesse se lamentar, ligou o carro disposto a seguir o veículo para onde quer que ele fosse.
Enquanto desviavam do trânsito e Matteo tentava seguir o ônibus sem perdê-lo, suas mãos suavam e escorregava do volante. A chuva havia ficado mais intensa e o seu desespero em perder o caminho era latente. Assim que o ônibus parou mais uma vez, Matteo a viu descer junto com a menina. Elas entraram por uma rua pouco movimentada e ele as seguiu devagar já a pé e se escondendo entre as árvores e arbustos. Matteo então viu o momento que Beatrice tateava a bolsa em busca de algo e com isso, havia deixado ela cair.
Perto o suficiente, mas ainda assim imperceptível, ele viu que o seu corpo antes cheio de curvas, agora estava muito magro e aquele brilho nos olhos havia desaparecido, por mais que ela sorrisse para a mulher. Ele ficou parado sem conseguir reagir, tudo que ele mais quis nos últimos dias foi tê-la ao seu alcance e agora ela estava ali, a apenas alguns metros de distância dele. Assim que ela conseguiu colocar a chave no portão, a outra mulher entrou e enquanto Beatrice fechava o guarda chuvas, por um rompante ela o olhou. Seus olhos verdes perduraram sua alma enquanto o encaravam. Como um imã, seu corpo completamente molhado foi puxado ao dela, o fazendo ficar total e completamente exposto a ela. Matteo viu os lábios carnudos dela tremerem e o olhar apático se inflamar. Matteo começou a caminhar e Beatrice lhe virou as costas, tentando novamente abrir o portão que havia travado.
— Beatrice. Ele sussurrou enquanto levava a mão com a intenção de toca-la.
— Não se atreva! Ela gritou, puxando o braço do seu alcance e abrindo novamente o portão, correndo pelo saguão e subindo as escadas. Matteo correu atrás dela, ele ainda não sabia o que dizer, mas a sua luz era tão intensa que o atraia como uma mariposa.
Enquanto ela corria, parecia que o seu coração saltaria. Ele precisava falar com ela, precisava dela!
— Por favor, espere. Ele disse a puxando para si. Foi então que ele sentiu a ardencia em sua bochecha. Beatrice havia o golpeado e com a sua surpresa, ela conseguiu empurra-lo.
— Nunca mais toque em mim! Ela gritou. Seus olhos estavam em chamas e ela o olhava com algo que o destruiu: ódio.
— O que está acontecendo aqui? Um homem perguntou e Matteo se virou. O maldito professor corria e foi para cima dele, acertando um soco em seu rosto, o derrubando.
— Lucca! Pare!
— Desgraçado! O professor dizia enquanto lhe dava mais um soco. Mas o olhar de Matteo não se desviava de Beatrice. Ela tinha um olhar que o estava destruindo. Um olhar de decepção e de desprezo que entrou no fundo da sua alma.
— Lucca! Pare. Ele não vale a pena! Ela gritou. Foi então que o professor parou e o olhou. Com o coração partido ele viu Beatrice puxar a menina que havia chegado atrás do maldito professor com os cabelos cobertos por um tecido e lhe virar as costas sem lhe dizer nenhuma palavra.
— Deixe ela em paz! Você morreu para ela. Lucca disse, e Matteo percebeu que o desgraçado provavelmente estava certo. Ele não existia mais para Beatrice.Continua...
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Diurno - Entre A Luz E A Escuridão
Literatura Feminina(Livro II de Notturno) O que você faria se descobrisse que nada do que acreditava era real? Se houvesse nutrido essa sede de vingança e se deparasse com o amor verdadeiro e esse amor o destruísse? Em Diurno você encontrará novamente Beatrice e Matt...