Capítulo 8 - Beatrice

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*Pode contar gatilhos ( cenas violentas)

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Beatrice se sentia impotente, seu corpo doía por estar a horas na mesma posição, o cheiro forte que emanava daquele lugar e deixava com náuseas. Suas lágrimas eram a sua única companhia ali naquele inferno, ela ouvia vozes vinda do lado de fora daqueles homens dizendo coisas asquerosos a seu respeito.
Beatrice havia perdido a noção do tempo, não sabia mais se era dia ou noite, pensava em Mavi e se ela já tinha percebido a sua demora, em Lucca que com certeza estaria preocupado e ate mesmo em Matteo. Ela não queria pensar no homem que fez o seu coração em pedaços, mas ele habitava a sua mente de forma absurda. Beatrice continuava sem entender o porque dele vir atrás dela mesmo depois de expulsá-la de sua vida como se não significasse nada, mas por um momento desejou que ele a encontrasse assim como a encontrou quando ela e Aurora foram levadas. Beatrice ouviu uma ruído e a porta se abriu. Um homem bem vestido que ela ainda não tinha visto se aproximou.
— Me solta. Por favor me tira daqui. Por favor eu imploro! Gritou desesperada se debatendo ao ver que ele possuía uma seringa com um líquido.
— Quietinha, o chefe quer você calminha para quando ele chegar. Disse após contra sua vontade aplicar a injeção na sua perna.
Em questão de segundos tudo se tornou um borrão...

"Beatrice estava sentada sobre a grama verde e o cheiro da natureza invadia o seu olfato, o sol brilhava fortemente no horizonte e uma brisa fresca balançava o seu vestido azul com flores multicoloridas.
— Bea, Bea! Os gritos de Aurora misturados a risadas a fez olhar para trás.
— Você não é pario para o monstro das cócegas. Dizia Matteo pegando Aurora no colo e fazendo cosquinhas em sua barriguinha e logo atrás dele vinha Giovanna com uma cesta de piquenique.
Aquela cena tirou um enorme sorriso de seu rosto, ela olhou ao redor e viu que estavam na fazenda em que vivia com seus pais quando era criança. Ela se levantou e correu até eles.
— Me salva Bea, me salva. Dizia entre risadas melodiosas.
— Eu sou muito mais forte que esse monstrinho. Disse se aproximando de Matteo que parou com as cócegas e deu um beijo casto em seus lábios
— Bea você precisa acordar. Ele está chegando. Giovanna disse em um sussurro ao se aproximar. — Acorda!
Toda aquela paisagem bucólica desapareceu, e uma escuridão se apossou do lugar. Ela olhou na direção em que Matteo, Giovanna e Aurora estavam e eles haviam desaparecido."

*****

Beatrice sentia um cheiro, aquele cheiro que a perseguia em seus pesadelos. Mas agora era tão real que por um momento ela não soube o que estava acontecendo até que ao abrir seus olhos se deparou com aqueles olhos.
Um lamaçal castanho a observava com aquele mesmo olhar de anos atrás, um felino em busca da sua presa. Porém sua presa estava ali, sentada em uma cadeira com as mãos amarradas atrás, total e completamente a sua mercê. O cheiro inconfundível de cigarro caro entrou em suas narinas, revirando seu estômago,  a fazendo sentir a bili subir por sua garganta.
Beatrice estava fraca, pois havia comido há mais de vinte e quatro horas e nesse momento ela se arrependeu de não ter aceito o pão que aqueles homens a ofereceram.
— Minha doce CARAMELLA.  Ele disse e sua voz enviou arrepios por todo seu corpo. Pasquali soprou a fumaça fétida do seu cigarro caro em seu rosto e Beatrice se forçou para não vomitar enquanto imagens invadiam sua mente. Aquele homem havia destruído seu corpo e sua mente, e ele pretendia fazer de novo. — Você não sabe o quanto ansiei por te ver de novo! Ele disse sorrindo, se aproximando do seu rosto com o tabaco de cigarro. Naquele momento Beatrice fechou os olhos, já sentindo o ardor daquelas cinzas em sua pele. Porém aquilo não aconteceu e ela ouviu apenas uma gargalhada. Ao abrir novamente os olhos, Pasquali havia apagado o cigarro com a própria mão e levou a outra mão até o rosto dela, contornando sua cicatriz. — Vejo que nunca se esqueceu de mim. Ele disse, fazendo Beatrice se afastar do seu toque. Sua boca, tampada pelo tecido a impedia de gritar e as cordas ao redor das suas pernas e braços, de se mexer.
— Você assim, tão quieta não me dá prazer... Eu gosto de domar, gosto de ver você gritar enquanto a fodo.  Gosto de vê-la se contorcer enquanto toco cada parte desse seu corpo perfeito. Ele disse, enquanto ia para trás dela e a fazia sentir umm puxão soltando sua corda. Beatrice queria chorar, queria gritar, queria morrer. Mas aquele sonho ainda permeava sua mente, por mais que aquela família não fosse mais sua, mas a esperança de rever Aurora nem que seja por um dia, a deu forças para não subir a necessidade de se entregar aquela escuridão que a dominava naquele momento. Logo em seguida ela sentiu um puxão no tecido em sua boca, liberando s lábios já rachados pelo secura. Ela sabia que isso não adiantaria nada, mas com toda a força que tinha, gritou, mesmo que houvesse saído apenas um sussurro.
— Agora sim. Agora começamos nossa brincadeirinha.  Ele disse indo para frente dela, enquanto Beatrice encostava na parede.
— Porque? Foi tudo que ela conseguiu sussurrar enquanto segurava suas lágrimas que estavam insistindo em cair.
— Nunca te esqueci minha menina. Seu corpo, seu cheiro... A forma que você reagia ao meu toque... Eu nunca esqueci! Cada maldita noite eu sonhava com você.
— Você é doente! Ela disse mais alto, enquanto apertava suas mãos e sentia sua unha cravar sua própria pele.
— Talvez eu seja... E minha doença é você! Ele disse se aproximando, a fazendo se desviar.
Beatrice se sentia sozinha e perdida e se aquele homem a tocasse de novo, ela sabia que não conseguiria sobreviver. Ela morreria. — Eu tentei diversas e inúmeras vezes tirar minha doce CARAMELLA da cabeça.  Cada maldita menina e criança que eu fodia, era você que eu enxergava. Cada maldita virgindade que eu tirava, era você que eu via! Eu preciso e de você,  mesmo que aquelas meninas tenham sido minimamente satisfatórias. Ele acabou de dizer e o nojo que Beatrice sentiu foi tão intenso que foi impossível segurar o vômito. Ela derramou basicamente o ácido do seu estômago no chão enquanto descobria que aquele monstro havia feito o mesmo com várias outras meninas. Que havia destruído várias outras vidas. Meninas como ela, como Aurora.
Um fogo que ela não conhecia começou a crescer em seu interior enquanto ele se afastava e xingava algo. Beatrice continuava mantendo sua cabeça baixa,  mas aquele fogo foi ficando mais forte, mas intenso. Suas unhas cortavam sua mão e ela podia sentir o gosto de sangue em sua boca enquanto apertava com força os dentes em sua bochecha.
Imaginar aquele nojento abusando de meninas como havia feito com ela, imaginar todos aqueles seres inocentes sendo destruídos por um psicopata a havia dado forças que nunca imaginou ter.
— MALDITO PEDÓFILO! Ela gritou enquanto seu corpo respondia sozinho àquele fogo e suas pernas começavam a tomar impulso, correndo até onde ele estava limpando seus malditos sapatos caros. Ele ergueu a cabeça e sorriu, porém seu sorriso se desvaneceu na medida que via algo em seu rosto: vingança! Beatrice não parou, seu corpo havia se tornado fogo e ele havia consumido ela por inteiro. Ela não se importava no que aconteceria.
— Desgraçado! Ela gritou, avançando até ele e socando seu nariz. Com satisfação ela viu o jorro de sangue sair e antes que ele pudesse entender o que estava acontecendo, Beatrice afundou sua unha naquele maldito lamaçal marrom e viu com satisfação o olho dele estourar. Com alegria ela ouvia o uivo daquele maldito.
Beatrice sabia que existiam momentos em que a vida passava diante dos olhos, e lá estava ela em um daqueles momentos.
Seu coração batia em um ritmo acelerado fazendo-a imaginar que ele poderia saltar do seu peito a qualquer instante, suas mãos estavam trêmulas e cobertas por um sangue vivido e carmesim, cobrindo sua pele branca, inundando suas unhas limpas, manchando sua alma no processo.
Ela sabia que daquele momento em diante, nada seria como antes, algo havia mudado irremediávelmente dentro de si.
— Beatrice! Ela ouviu um grito de uma voz. Ela conhecia aquele timbre e foi aquele tom que perfurou a camada negra e sombria que ela se encontrava. Como um pequeno refresco uma luz surgiu no meio de toda aquela escuridão e Beatrice conseguiu olhar para sua frente, se assustando logo em seguida com o barulho de um disparo. O fogo se recolheu, mas continuava a queimar, porém suas pernas bambearam e cederam ao chão que pingava sangue.
— Mia Luce, Beatrice você está machucada? Fale comigo! Por favor, olhe pra mim. A voz dizia enquanto seus membros continuavam inertes. Tudo o mais foi um borrão de coisas.
Ela ouviu Matteo gritar ordens enquanto disparos eram ouvidos. Ele havia falado algo sobre um segundo tiro em Lucca e ela queria perguntar como seu amigo estava, mas sua voz simplesmente não saia. Ela sentiu o calor de algum tecido a cobrindo enquanto seu corpo ainda inerte era levantado e aconchegado aquela muralha forte e quente que lhe era tão familiar. As palavras de Matteo entravam dentro dela, mas não conseguia assimilar direito.
Ângelo Grecco nos mandou, ele disse que Lucca Cantelli precisava de ajuda. Um homem dizia enquanto outro complementava: — Ele disse que era para fazermos o que o senhor mandasse.
— Levem esse maldito para o porão! Eu irei voltar! Tenho contas para acertar com o desgraçado.
— Sim senhor! Lucca Cantelli foi levado ao hospital, infelizmente antes que conseguissemos impedir, um dos homens o acertou por trás e a bala transpassou suas costas e abdômen.
— Me notícias do senhor Cantelli na medida que tiver.
— Ele está em cirurgia, ao que parece perfurou algum órgão.
— Irei cuidar de Beatrice.
— Avisarei ao chefe que ela está bem.
Beatrice ouvia tudo aquilo, mas seu corpo não respondia. As palavras do demônio continuavam martelando sua mente, o fogo continuava a consumindo. Ela sentiu quando foi colocada sentada no vaso sanitário, sentiu Matteo retirando delicadamente suas roupas e quando foi colocada debaixo do chuveiro. Ela sentia o sangue escorrer pelo seu corpo e ser observada por Matteo que procurava qualquer sinal de machucado.
Ela viu ele maldizer assim que tocou seus pulsos e ouviu cada palavra que ele dizia.
— Mia Luce, você precisa descansar. Ele disse a colocando em uma cama enquanto passava a mão em seus cabelos. Beatrice fechou os olhos diante da carícia, mas seu corpo ainda pulsava com aquele fogo.
— Trouxe o que pedi? Matteo disse ao longe. Beatrice fingia dormir, mas seu incômodo era intenso demais.
— Sim senhor.
— Cuide dela... Eu... Eu não a deixaria, mas aquele maldito irá pagar pelo que fez.
Não se preocupe senhor, tenho ordens de Angelo Grecco para mante-la segura.
— E ordens minhas! E se Beatrice acordar me chame!
— Sim senhor.
Ela ouviu que Matteo estava indo até o porão. E assim que ouviu os passos dele se afastar, ela abriu os olhos. Seu corpo continuava parado, mas sua respiração era ofegante. Aquele fogo se avolumava na medida que seu anseio por sangue crescia. Imaginar tantas meninas passando pelo que ela passou estava doendo horrores e depois de um tempo remoendo aquilo, ela se levantou. Com força, abriu a porta e se deparou com im homem calvo e forte que a encarava assustado.
— Senhorita, precisa de algo?
Beatrice passou por ele sem dizer nada e sentiu quando o homem a segurou pelo braço com delicadeza.
— Por favor senhorita, fique no quarto. 
— Me solte!
— Irei chamar o sr. Moretti.
— ME SOLTE! Ela gritou enquanto puxava seu braço.
— Senhorita, por favor   não me coloque em uma situação complicada.
— Diga a Angelo que a maldita Beatrice Grecco faz o que quer! Ela disse, enquanto corria para o térreo.  Se Matteo estava no porão, então Pasquali também estaria. Assim que encontrou uma porta, a abriu e se deparou com aquela cena.
Matteo estava coberto de sangue, em suas mãos haviam objetos também cobertos de sangue e Pasquali ainda respirava, mesmo que não se visse direito a sua pele. 
— BEATRICE! Matteo gritou enquanto a via entrar naquele lugar.
— Esse acerto é meu!

Continua...

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