1- take me back

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Onde tinha tudo para ser mais uma noite comum, senão fosse pela grande tempestade fora de época que lavava as estreitas ruas de Shiganshina, Erwin Smith também havia feito algo fora de seu habitual, saíra com Mike e mais uns amigos e beberam até passar do limite, o loiro não era de ter tais atitudes pois se não estivesse no controle de qualquer situação e do seu próprio corpo, - em sua mente, - estaria arruinado.

E isso também valia para momentos assim, onde deveria se divertir e espairecer a mente, mas algo dentro de si, - uma voz que falava mais alto que seus desejos, - nunca o permitia se aproveitar completamente.

Sentia sua cabeça pesar toneladas, o gosto amargo da cerveja ainda era vivido em sua boca, sua visão turva via o quarto girando o fazendo se sentir enjoado, era uma confusão até que boa, mas só até ele começar a se sentir culpado.

Fazendo um esforço quase sobre humano para se levantar da cama e ir atrás de um copo d'água pois sentia que sua garganta seca iria se rachar em várias partes se não tomasse um belo copo cheio naquele momento, ainda cambaleando e sentindo que iria desmaiar a qualquer instante, conseguiu chegar na cozinha e se servir do líquido tão desejado, caindo pelos cantos de sua boca, quase como um viajante que atravessara o deserto sem uma gota de água por semanas.

Fazendo o caminho de volta, mesmo com o barulho da chuva forte, Erwin escuta um barulho vindo de seu quarto; primeiro ele pensa que está delirando por causa da bebida e então começa a abrir a porta do quarto bem lentamente sentindo um formigamento estranho pelo seu corpo.

Piscava várias vezes além do normal para tentar focar no que via a sua frente, então entrou no quarto pisando suavemente no assoalho cansado que rangia de qualquer maneira mesmo que pisasse devagar, e não viu nada a sua frente, e olhando para o lado esquerdo não tinha nada também, tudo normal, até ouvir um xingamento baixo em forma de resmungo, um resmungo que parecia doloroso.

Nesse momento Erwin, - que não era nada religioso, - fechou os olhos e fez uma rápida prece para alguma entidade, pedindo que aquilo fosse só uma ilusão auditiva, que não fosse nada demais, e prometeu que da próxima vez iria se comportar e beber só o que seu corpo aguentasse.

Mas agora nem divindades e nem ninguém poderia interferir no jogo do universo, eles não tinham esse poder.

Erwin se virou com tudo e tomou um susto, sua boca se abria e fechava numa tentativa falha de buscar as palavras certas para se dizer com tal visão perturbadora, só havia visto tanto sangue e hematomas dessa forma uma vez, na morte de seu pai, quando achou seu corpo brutalmente violentado sentado na cadeira atrás de seu estimado birô, - onde não fazia nada além de ensinar as crianças tudo o que elas precisavam saber para ter seus próprios pensamentos e opiniões sobre a realidade que os cercavam.

Seu pai foi um homem gentil e paciente, havia lhe ensinado muita coisa e Erwin levava esse acontecimento traumático como aprendizado, - pois não havia outra forma de lidar com isso senão transformá-lo em um mecanismo de defesa, - que iria florescer anos depois, de forma grandiosa.

O rapaz franzino estava no chão com uma mão ensanguentada pousada em seu abdômen, mechas de seu cabelo um pouco grande e escuro como carvão grudara em seu rosto por causa da chuva, fazendo com que Erwin achasse difícil olhá-lo mas pôde ver, claro como a luz do poste que atravessava a janela do seu quarto e o iluminava, as orbes azuis marcantes lhe encarando.
Eram de tirar o fôlego, pareciam...perigosas.

Mas algo mais reluzente que seus lumes era a faca que ele mantinha apontada para Erwin desde que seus olhares se cruzaram, ele agarrava o cabo da faca como quem sustenta toda sua vida nisso.

As respirações de ambos estavam irregulares, o loiro não se sentia mais tonto, era como se toda sensação de embriaguez houvesse passado assim que viu aquele rapaz, - que ainda não sabia quem era e nem de onde viera, - mas que queria ajudá-lo.

the night we met - eruriOnde histórias criam vida. Descubra agora