ఌ︎ 4 - Detalhes que frustram o orgasmo

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Saí para comprar um telefone celular pré-pago assim que acordei. Meu pai era uma péssima opção, mas não era como se eu tivesse muitas alternativas viáveis.

Coloquei o boné e os óculos escuros no canto da cozinha, em cima da mesa e esfreguei as têmporas encarando o telefone.

Com aquele aparelho a ligação não poderia ser rastreada. Eu precisava saber se poderia ou não confiar nele antes de lhe dizer onde eu estava. Sentei na cadeira, expirando, exausto. Já tinha me metido em roubadas antes, mas essa estava no topo da lista. E seria melhor se eu estivesse sozinho...

Lili era uma companhia inesperadamente divertida. Claro que ela não era divertida de propósito. Mas em alguns momentos do último dia, ela quase me fez esquecer que nunca mais minha vida seria a mesma.

A merda do Yuri Kulik.

Estávamos fodidos. Algo me dizia que ela ainda não tinha percebido o quanto,e eu simplesmente não queria ser a pessoa que teria de lhe explicar.

Um passo de cada vez.

Eu não saberia dizer por que comecei a pensar no jeito como ela segurou minha mão e no beijo de fuga que me deu na estação de trem. Mas a lembrança estava ali.

Fuja dos corações.

Provocar Lili era engraçado. Tirava minha mente da nossa situação de insegurança. Ela se envergonhava com facilidade e rapidamente passei a "testar os limites de sua vergonha" em meu projeto pessoal. Um hobby para ocupar as horas vagas na estrada até aqui.

Era possível que ainda me divertisse muito com isso nos próximos dias: a boate não abriria até sexta, o que nos daria uma boa semana trancados ali dentro, com nada a não ser um ao outro.

Talvez por isso eu estivesse me lembrando do beijo. Estava acostumado a situações de merda, mas sempre me enfiava nelas sozinho. E sempre saía delas sozinho também. Estava acostumado a não ter ninguém para me beijar quando fosse necessário, para se esconder da polícia, e esse acréscimo estava demorando a se acomodar no resto do meu cenário. Era minha mente ainda indecisa se Lili seria uma complicação ou uma solução.

- Não te agradeci. - Virei-me sobressaltado, com o coração rugindo de susto.

- Quer me matar do coração? - reclamei.

- Desculpe - resmungou, cheia de incredulidade. - Só vim agradecer. O que está fazendo? - Moveu o queixo indicando o celular em minhas mãos.

- Ligando para o meu pai, lembra? Pelo que queria agradecer?

- Não é perigoso ficar com um celular? Nos filmes, eles sempre dizem que é perigoso.

- Esse é pré-pago. Acabei de comprar. Pode ficar tranquila, cinéfila. E você disse que queria agradecer...?

- O que o seu pai disse? Quando a gente pode voltar?

- Não é assim tão simples. - Engoli em seco. Ainda não tinha feito a ligação, mas era o tipo de coisa que eu preferia fazer quando ela não estivesse por perto.- Mas ele vai ver o que pode fazer - suspirei.

- Tudo bem. - Gesticulou, afirmando e encarando o vazio ao se sentar.

- Lili? - ri. - Você vai agradecer ou desistiu?

- Ah! - estalou. - Vou! Obrigada!

- De nada. - Ela tinha um jeito adorável, que me fazia sorrir até sob risco de morte. Literalmente.

- Mas pelo quê?

- Salvou minha vida. - Levantou os ombros. - Algumas vezes. E percebi que gritei com você um bocado, mas não te agradeci. Então... Bem... Obrigada.

ꨄ︎ 𝐒𝐄𝐌 𝐕𝐄𝐑𝐆𝐎𝐍𝐇𝐀 ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗ Onde histórias criam vida. Descubra agora