ఌ︎ 12 - Modos de se despedir

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Tudo precisava ser feito em uma velocidade sobre-humana. Os capangas de Kulik haviam levado o moleque, e eu precisaria segui-lo.

Esperei poucos segundos depois que eles se foram, antes de correr para a escada. Alguém acendeu a luz do salão e gritou. Um grito alto e agudo que atravessou minha pele, rachando minha confiança.

Eu odiava ouvir mulheres gritarem de desespero. Ativava uma parte superprotetora em mim à qual eu não tinha tempo para ceder: não era hora de confortar ninguém, era hora de seguir lutando.

Abaixei-me, evitando pisar na poça de sangue e coloquei meus dedos sobre a jugular da mulher negra caída ao chão.

Nada.

– Não! Ai, meu Deus! Spider! – A mulher loira que tinha gritado se ajoelhou no meio do sangue e segurou a amiga nos braços. Um barulho súbito acima de nós me fez levantar a arma para uma senhorita Reinhart de olhos arregalados e um semblante do mais absoluto pânico.

– Vou chamar uma ambulância.

Ela correu por nós após ter lançado um olhar temeroso para a loira no chão, mas a segurei pelo cotovelo.

– Um computador? Com internet? – pedi. – Ou um celular, de preferência.

Ela balançou o braço, se livrando do meu toque com violência.

– Vou chamar ajuda primeiro! – rosnou, com os dentes semicerrados.

– Eles levaram seu namorado! – Segurei-a de novo, e dessa vez, colaborou sem resistir. – Preciso de internet para rastrear meu celular.

– Seu celular? Quem era? – Sua voz falhava e seus olhos se abriam cada vez mais. – Para onde levaram o Cole?

– Posso responder suas perguntas ou posso ir atrás dele. O que prefere que eu faça?

Mordeu o lábio e acenou com um gesto.

Ela parecia em choque. Mas estava funcional.
Eu admirava pessoas assim.
Pessoas que não desligam o cérebro quando a merda se alastra.

Ela correu para algum lugar, e a segui. Revirou uma bolsa ou duas no camarim apertado do clube e me entregou um celular.

– Não é meu. Você vai precisar devolver – explicou.

Era cômico como isso acontecia com pessoas comuns, que não eram acostumadas com problemas de vida ou morte. O inferno estava caindo sobre suas cabeças e elas encontravam em si forças para prestar atenção nos mais mínimos e irrelevantes detalhes.

Como a dona de casa que perdeu toda sua moradia em um terremoto e só conseguia pensar em como as roupas recém-lavadas e penduradas no quintal haviam ficado imundas.

Vou ter que lavar tudo de novo. Ela tinha dito.

Parecia ser o modo como as pessoas conseguiam encontrar racionalidade em um ponto além de qualquer razão: atendo-se a detalhes insignificantes.

– Eu trago de volta – avisei, dando ao aparelho os comandos necessários para encontrar o meu celular.

– Com o Cole! – Ela gritou. Nem sequer olhei para trás. Comecei a ligar para amigos da polícia holandesa. Com corrupção ou não, agora eu precisaria de ajuda.

Lili estava correndo para o telefone da boate na sala de Luckas.

Seu plano devia ser ligar para uma ambulância, pedir socorro, chamar por ajuda…

Ela poderia fazer o que quisesse, não importaria: um dos tiros havia atingido a cabeça de sua amiga. Morreu antes mesmo de cair no chão.

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ꨄ︎ 𝐒𝐄𝐌 𝐕𝐄𝐑𝐆𝐎𝐍𝐇𝐀 ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗ Onde histórias criam vida. Descubra agora