Trinta e dois.

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Silêncio. Era a única coisa que acontecia ali. Brunna me encarava com os olhos arregalados e eu simplesmente estava paralisada.

Abri a boca diversas vezes, mas nada saía. Eu estava completamente muda, eu não sabia como explicar e nem sabia se tinha um jeito leve de fazer isso.

— Ninguém vai dizer o que está acontecendo? — Jorge falou — Cadê o Renato?

— Papai — Brunna disse baixo — Nós estamos juntas.

Mirian arregalou os olhos e me olhou, depois encarou Brunna e então olhou para Jorge.

— Vocês estão brincando comigo, não é? — Mirian disse forçando uma risada.

— Não estamos, dona Mirian. Eu e Brunna estamos juntas.

— E Renato?

— Ele viajou. Meu pai sabe sobre nós. Está chateado, mas aceitou.

— Mas isso é inaceitável! — Mirian disse — Meu Deus, ela é a filha do seu ex-noivo, Brunna!

— Eu sei, mamãe. Você acha que eu escolhi me apaixonar por Ludmilla? Nem eu e nem ela queríamos isso, mas aconteceu.

— Aconteceu... — Ela repetiu a última palavra forçando o riso — Não acho que se apaixonar pela filha do seu noivo é algo que aconteça. Quando isso começou?

— Assim que eu cheguei, na primeira vez que Renato foi viajar.

— Meu Deus! — Ela gritou — Você só pode estar de brincadeira, Brunna. Você repetia para Deus e o mundo o quanto era apaixonada por Renato, que ele era o homem da sua vida e que você nunca amou tanto alguém daquele jeito.

— E eu realmente acreditava nisso. Todas as vezes que eu disse que era apaixonada por ele eu realmente acreditava em minha palavras, não era da boca pra fora. Entretanto, quando eu conheci a Ludmilla, mais precisamente na primeira noite que ficamos sozinhas, eu senti algo diferente dentro de mim, como se tivesse um imã nela que me atraísse. — Jorge a interrompeu.

— Chega, Brunna. Eu já vi essa história antes.

— Eu sei bem, Jorge — Eu disse e ele me olhou surpreso.

— Eu não consigo aceitar isso. Brunna, você nunca me disse que gostava de mulheres. — Ela estava visivelmente irritada e eu não sabia se era pela situação ou por eu ser uma mulher.

— Nunca disse porque nunca tive algo sério, já havia ficado com uma, mas não passou disso. E, Ludmilla não foi questão de gênero, mas sim o jeito dela.

— Isso é demais pra minha cabeça processar. — Mirian disse — Vamos embora por favor. Eu volto amanhã.

— Mamãe — Brunna chamou Mirian que a olhou negando com a cabeça.

Taylor que estava quieta até agora, se levantou e os seguiu para fora da casa, mas antes parou em minha frente e sussurrou.

— Vou conversar com ela.

— Obrigada — Sorri e ela saiu.

Fechei a porta e Brunna estava sentada no sofá chorando, fui até ela e a abracei.

— Vai ficar tudo bem, meu amor — Eu disse beijando o topo da sua cabeça.

— Eu tenho medo dela não aceitar, nunca conversei com ela sobre esse assunto, Lud, não sei o que ela pensa sobre.

— Calma, meu amor. Ela vai se acalmar e eu tenho certeza que vocês terão a chance de conversar, tá bom?

— Eu espero que sim, amor — Ela me olhou e eu a beijei. Precisava que ela sentisse que independentemente do que acontecesse eu sempre estaria ao seu lado, porque eu a amo.

— Eu te amo — Ela sussurrou.

— Eu também amo você. — Sorri.

— Vem, vamos deitar. — Puxei-a, e subimos para o meu quarto. Em dois dias iriamos nos mudar e logo meu pai estaria de volta — era o que eu esperava pelo menos.

*****

— Mama! Mama! — Gritei enquanto corria até a cozinha.

— Meu amor, mama já pediu para que você não corra pela casa, vai que você se machuca.

— Eu fiz esse desenho para você. — Entreguei a folha com o desenho da nossa família. Eu, mama, papa e os milhares de cachorrinhos que eu queria ter.

— Está lindo, meu amor. Parabéns! Mama amou! — Ela me encheu de beijos, fazendo-me rir.

— Mama, a senhora sabia que eu vou ser uma grande médica veterinária? — Eu disse animada e seu sorriso aumentou.

— Mama fica tão feliz em saber que você ama ajudar os animaizinhos. Qualquer decisão que você tome, terá o meu apoio, amor. Eu te amo.

— Eu também te amo, mama. — Pulei em seu colo e beijei seu rosto.

Acordei com uma estranha sensação de paz que eu nunca havia sentido em sonho algum com mama. Eu pude senti-la perto de mim, apesar de ser bem pequena no sonho.

"Qualquer decisão que você tome, terá meu apoio"

Ela estava me apoiando, ela estava do meu lado como sempre esteve e sempre vai estar. Isso me deixava tão feliz, senti-la tão perto de mim quando parecia que ela estava tão longe era incrível.

Senti meus olhos marejarem e me permiti chorar. Encarei Brunna e sorri, não poderia estar mais feliz, mesmo sabendo que nem tudo estava bem e que ainda precisava me resolver com meu pai. Entretanto, eu sabia que no final tudo daria certo.

— Está chorando, amor? — Brunna disse, sonolenta. A olhei e sorri.

— Estou, mas é de felicidade, meu amor. Eu amo você. — Beijei sua testa e a abracei forte.

Independente da situação, eu sabia que eu e Brunna iríamos continuar juntas.

Minha querida madrasta. Onde histórias criam vida. Descubra agora