Vinte e seis.

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Meu pai continuava nos encarando e obviamente estava esperando alguma explicação para a cena que ele tinha visto e escutado. O problema era, não havia uma simples explicação para aquilo, pelo menos não uma explicação leve. Eu não havia pensado em como conversaria com meu pai sobre isso, eu achava que ainda tinha tempo, não estava preparada. Totalmente errado da minha parte, já que eu sempre soube do quanto ele gostava de fazer surpresas, mas precisava vir tão cedo?

— Quem vai começar a falar? — Ele perguntou, se ajeitando na poltrona.

— Estamos juntas — Eu disse, com o resto de voz que me sobrava.

Definitivamente, aquilo era constrangedor. Entretanto, eu não podia negar que infelizmente eu não tinha muito o que reclamar aqui, eu estava errada e deveria aceitar qualquer reação da parte dele e qualquer consequência também.

— Isso eu percebi — Ele disse, suspirando — Desde quando?

— Desde o dia que você foi viajar. — Respondi.

— Foi a primeira vez?

— Não — Respirei fundo, tentando ignorar o nó que se formava em minha garganta — Na primeira vez que você viajou nós nos beijamos. Depois tivemos mais algumas coisas, mas paramos. Durou dois meses e a agora que você foi viajar nós ficamos de novo, e resolvemos aceitar que nos gostávamos.

Meu pai me olhava perplexo. Certamente nem desconfiava, e eu entendia. Se eu tivesse uma filha e ela estivesse transando com a pessoa que eu namoro jamais imaginária que elas estão juntas.

— E você Brunna, não vai dizer nada? — Ele perguntou — Você dizia tanto que me amava e era grata por me ter em sua vida.

— E eu realmente era grata. Talvez eu realmente tenha te amado Rê, pelo menos no começo eu tinha completa certeza disso, até perceber o quanto Ludmilla mexia comigo. Eu não planejei gostar dela, muito pelo contrário, eu lutava internamente contra qualquer o desejo que eu sentia por ela, mas quando eu percebia já estava com ela de novo. Eu não tinha e não tenho controle sobre minhas reações quando se trata dela.

— Estou chateado com vocês. Preferia ter escutado isso da boca de vocês antes de ouvir o que ouvi e ver você no colo da minha filha.

— Não tivemos culpa. Nós realmente iríamos contar, mas você chegou de surpresa e nós não iríamos contar por telefone. Estávamos realmente esperando você chegar para conversar sobre isso.

— Certo. E o que aconteceu antes, eu ficaria sabendo?

— Não sei — Respondi, sendo o mais honesta possível — Talvez essa parte não teríamos coragem de falar. A única coisa que eu posso dizer agora é pedir que você me desculpe, mas eu estou apaixonada por Brunna e ela por mim. Nós iremos ficar juntas.

— Eu vou para um hotel, preciso pensar. — Ele se levantou e eu senti meus olhos começando a lacrimejar, pela primeira vez desde a hora que chegamos.

— Não, papa. Fique aqui, nós saímos.

— Não, Ludmilla — Ele negou com a cabeça — Eu preciso pensar longe daqui. Depois conversamos. Não vou falar nada de cabeça quente porque não quero me arrepender depois — Ele pegou as chaves do carro e saiu de casa.

Olhei para Brunna e simplesmente me joguei no sofá. Desmoronei. Chorava copiosamente enquanto Brunna acariciava meus cabelos ajoelhada ao meu lado. Não sei se me sentia aliviada pela falta de bronca, ou se me preocupava. Meu pai sempre foi realmente muito calmo, mas nunca imaginei que essa seria sua reação em relação a isso tudo. De qualquer forma só me restava esperar. Porém, eu estava completamente desesperada e esperar não me agradava em nada.

— Lud, vamos deitar — Ela se levantou e me puxou.

Apenas me levantei sem dizer nada. Meu coração estava tão apertado por causa do medo que eu sentia. Doía. Doía muito. Demais.

Segui Brunna até o quarto sentindo minhas pernas bambas, se ela não estivesse me segurando eu cairia. E foi então que uma dúvida surgiu em minha cabeça, Brunna me amava bastante a ponto de continuar sempre ali do meu lado me segurando para eu não cair? Seria sempre assim eu e ela?

Quando nos deitamos, me virei para ela que estava virada para mim e a encarei. Seus olhos verdes e penetrantes, suas bochechas que me davam vontade de apertar, sua boca que, puta que pariu, era minha perdição. Levei minha mão até seu rosto e o acariciei com o polegar enquanto ela me olhava sério.

— No que está pensando? — Ela disse baixinho.

— Em como eu me apaixonei por você — Suspirei. Seus olhos brilharam de uma forma que eu nunca havia visto antes.

— Você tem dúvidas do que eu sinto por você?

— Não! — Procurou as palavras certas — Eu tenho medo do futuro.

— Do que exatamente? — Ela também começou a acariciar meu rosto. Desci meu polegar até sua boca e fiquei acariciando seus lábios.

— Que a gente acabe se separando.

— Lud — Ela suspirou, mordendo os lábios em seguida. Oh, não faça isso — Eu não posso te prometer que vamos durar para sempre, porque nunca sabemos como as coisas estarão mais para frente. Mas, agora, se depender de mim, iremos durar até ficarmos bem velhinhas e rabugentas.

— Não serei uma velhinha rabugenta — Fiz cara da brava a fazendo rir.

— Será uma velhinha terrível. Coitada de mim — Rimos juntas — Eu amo você, Ludmilla Oliveira.

— Eu amo você, Brunna Gonçalves.

Ela me beijou, mas aquele beijo não tinha malícia. Aquele beijo, acalmou meu coração de uma forma que eu tive certeza que valia passar por qualquer coisa para ficar com Brunna. Ela era meu refúgio, meu porto seguro. A pessoa que eu quero ficar junta, mesmo sendo muito cedo para falar isso. Entretanto, eu realmente não ligo. Paramos o beijo com selinhos, Brunna me abraçou, e eu retribui o abraço fortemente. Em pouco temos adormecemos, juntas.

*****

Brunna estava sentada em meu colo enquanto tomávamos café. Ela dizia coisas engraçadas a cada cinco minutos apenas para me fazer rir. O que me fazia ter vontade de agarra-la por ser tão linda e maravilhosa.

Ouvi a porta da sala ser aberta, Brunna se levantou e foi olhar. Logo vi meu pai entrando na cozinha, ele estava com olheiras, mas a expressão continuava a mesa. Eu também estava, já que na noite anterior acordei uma hora depois, após um pesadelo. Então, não dormi o resto da noite. Simplesmente não conseguia.

— Papai — Me levantei.

— Podemos conversar em particular, Ludmilla?

— Claro. — Dei um beijo na testa de Brunna e o segui até seu quarto.

Meu coração estava acelerado e apertado ao mesmo tempo. Bem, seja o que Deus quiser.

Minha querida madrasta. Onde histórias criam vida. Descubra agora