46. She's here

810 77 9
                                    

Respirei fundo enquanto toques indetermináveis eram ouvidos pelo aparelho. Suspirei pela décima vez e comecei a roer a unha, um tique nervoso que ganhara recentemente enquanto olhava de um lado para o outro. Quando finalmente a sua voz se fez soar do outro lado do telefone o meu coração disparou.
"Estou?" ouvi a sua voz entrecortada e encolhi-me um pouco, sem conseguir respirar como deve ser.
"Olá..." ouvi a sua respiração ser presa e fechei os olhos tentando concentrar-me. Não posso deitar tudo a perder. Ouvi-o trocar umas palavras com alguém que calculei ser os rapazes e depois ouvi a sua respiração rápida. Tenho a certeza que neste momento ele estaria a puxar os seus cabelos tentando acreditar no que estava a ouvir, que estavaa andar de um lado para o outro e que estava com dificuldades em respirar.
"Joy..." a voz dele fez-se soar novamente e eu tive que me sentar para não cair. As minhas pernas haviam perdido toda a força. Ele estava desesperado e preocupado, e aqui estava eu na mansão enorme do meu pai, descontraída. Apertei a minha mão livre e fechei os olhos com força soltando um suspiro forte.
"Sou eu" respondi trémula e repreendi-me a mim própria por não conseguir manter o tom confiante que precisava. Encolhi-me no lugar onde estava e suspirei esperando a resposta do moreno. Do outro lado do telefone não se ouvia um único som e eu perguntei-me se a chamada ainda se mantinha apesar de não mexer no telemóvel para o caso dele responder.
"Onde... Onde é que tu estás?" ele finalmente disse depois de um silêncio indeterminável. Suspirei e disse a mim própria para aguentar e não ir abaixo agora. Previsava do Zayn aqui, era altura de acabar com isto.
"Eu estou bem. Vou mandar-te uma morada por mensagem. Tens que me vir aqui buscar" eu disse, e fiquei orgulhosa por manter o meu tom confiante, sorrindo para mim mesma. Ouvi uma troca de vozes do outro lado antes de ouvir o tom de Zayn.
"Está bem. Envia. Espero que estejas em segurança, amo-te" ele disse e eu desliguei o telemóvel escrevendo depois a morada do meu pai nas tecla e enviando a mensagem. Encostei-me à enorme parede branca e tirei o maço do bolso suspirando. Lembrei-me de tudo. De quando Zayn matou Barney. Nunca percebera esse episódio. Barney sempre fora como um irmão para o meu pai, eu chamava-o por  "Tio Barney", quando eu era miúda ele dava-me prendas fantásticas e bricava comigo. Ele sempre me dera mais atenção do que o meu pai e quando eu fiz 16 anos enviou-me por correio a prenda que mais queria na altura: uma arma. A pistola que ele me mandou era linda, totalmente preta, baça, com Joy escrito de lado numa letra manuscrita maravilhosa. Ele mandara pôr pequenos detalhes roxos devido a ser uma das minhas cores preferidas e eu ficara extasiada. Era a coisa mais maravilhosa que já me haviam oferecido e a minha mãe tirou-ma quando soube que a tinha. Ela era contra a violência, contra as armas, contra a corrupção. O que a minha mãe nunca entendera era que precisávamos de todas estas coisas para sobreviver nesta sociedade. Era um mundo injusto, complicado e a única forma de lidar com ele e controlá-lo ao máximo era fazer o que o meu pai fazia. A minha mãe suportava o seu negócio inicialmente mas quando as coisas se viraram para nós ela não aguentara mais e deixara o meu pai de vez.
Por isso quando o "Tio Barney" apareceu e me tentou violar eu fiquei sem palavras. O meu pai disse que ele provavelmente já não se lembrava da minha cara e não percebera que era eu visto que ele mesmo tinha tido problemos a entender. Quando Zayn deu um tiro a Barney parte de mim ficou magoada, outra parte ficou aliviada. Por um lado Zayn havia morto uma das melhores pessoas da minha família, por outro essa pessoa estava a tentar violar-me, e eu não podia defender-me sem que o meu disfarce fosse por água abaixo. Por isso Zayn salvou-me matando uma parte de mim. E não sei o que sentir em relação a isso.
Depois houve o episódio com Harry. O plano sempre fora chegar a Zayn mas quando Harry apareceu eu distrai-me. Eu lembrava-me de Harry. Nós éramos amigos de infância. Nessa altura eu era morena de olhos verdes, muito parecida com ele, tanto que as pessoas diziam que éramos gémeos. Eu usava o nome Francesca, pois o meu pai gostava mais desse nome e sempre me chamou por ele, esquecendo o meu primeiro nome, que a minha mãe escolhera. Harry e eu andávamos juntos para todo o lado, éramos parceiros. Quando me fui embora, aos 12 anos, Harry não me deixara ir sem um beijo de despedida. Harry fora o meu primeiro amor e o meu primeiro beijo e quando ele me tirou a virgindade na noite da festa, eu tive medo que ele me reconhece-se. Assustara-me quando o ouvira a gemer "Francesca" durante a noite e sabia que ele ia acabar por reconhecer algum mínimo detalhe sem o efeito do álcool e por isso tive que me ver livre dele. A sua ligação emocional comigo fora óbvia este tempo todo mas enquanto ele pensava que se havia apaixonado por outra pessoa ele ainda amava a mesma rapariga.
Depois havia Marylin. O meu irmão manipulara a pobre rapariga para ela me fazer chegar aqui sem ninguém se aperceber. Lyn sempre fora uma boa pessoa, ela nucna me tratara mal ou fizera algo de errado. E depois o meu pai arranjara forma de manipular a pobre rapariga e agora ela devia estar desesperada e assustada, sabe-se lá onde.
Ainda havia a história do meu avô. O meu pai realizara um enorme acidente para o enviar para o hospital. Eu contara-lhe da minha conversa com ele e o meu pai ficou ofendido pelo facto de ele me te magoado e disse que ia resolver o assunto. "Ele está no meu caminho Francesca" ele dissera "e eu elimino o que se põe no meu caminho." Não fazia ideia se o objetivo dele sempre fora ver-se livre do meu avô ou se isso foi algo que acabou por acontecer, mas não gostei da atitude. Noah sempre fora um bom homem, é verdade que não gostava muito do meu pai mas isso não parecia ser algo terrível. Sempre pensei que no final Noah fica-se em casa, descansado enquanto Zayn andava atrás de mim. Mas eu devia ter adivinhado. O meu pai era muito protecionista e possessivo e não queria ninguém no caminho. O meu avô era um obstáculo, eu sabia-o, mas apenas no momento em que ele me dissera todas aquelas coisas más é que o meu pai se decidira ver-se livre dele de vez.
"Mana..." ouvi a voz do meu irmão ao meu lado e virei-me para o encontrar de pé a olhar para mim com um enorme sorriso no rosto. Levantei-me de um salto e abracei-o, ouvindo-o queixar-se da perna. Olhei para a zona envolta em ligaduras.
"Dói muito?" eu perguntei e ele sorriu fracamente para mim. Acenou negativamente com a cabeça. "Dói um bocado mas tu fizes-te o que estava certo. Trabalhas-te bem mana, estou orgulhoso de ti" ri-me um pouco, afinal o meu irmão estava a dizer que estava orgulho de mim por o ter alvejado. Sorri e dei-lhe um beijo na bochecha.
"És um ótimo ator Liam" eu disse sorrido e ele sorriu-me de volta, dando-me um beijo na testa.
"Obrigada maninha" ele disse encaminhando-me para dentro. "O pai pergunta se já tratas-te do assunto" eu assenti com a cabeça. Ele abanou a sua cabeça afirmativamente e sorriu-me beijando o topo da minha cabeça. "Vamos preparar tudo então" ele disse e saiu da sala. Suspirei e comecei a preparar o que me cabia a mim. Pus a poltrona vermelha de veludo virada para a porta e coloquei uma pequena mesa ao lado desta com um cinzeiro e o meu maço de tabaco. Sentei-me na cadeira enquanto ouvia as várias vozes anciosas a trabalhar atrás de mim e nas outras divisões. Não ia deixar que nada acontecesse aos rapazes. Eu ia falar com eles e resolver os assuntos em falta, e depois ia embora, de volta ao sítio onde pertencia, sabe-se lá onde isso seria. Ouviu-se uma voz da varanda dizendo que eles tinham chegado e eu acendi o meu cigarro virando-me para a porta e cruzando a perna. Inspirei o cigarro quando Zayn entrou pela porta com os outros rapazes atrás dele. Todos eles estavam com um ar cansado e desperado, via-se o stress nas suas caras, as suas armas nas mãos. Fiz-lhes sinal para baixar as armas e sorri para Zayn confiante. Este respirou fundo e correu na minha direção, deixando-se cair no chão e pousando a cabeça no meu colo.
"Calma" eu sussurrei enquanto lhe dava festas na cabeça. "Eu estou aqui"

---------------------------------
Meh.

That Girl. (z.m) - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora