Capítulo V - Steven com V

700 95 55
                                    


Fazia três dias que estava perambulando pela velha Londres, em uma busca incansável por Marc Spector. Entretanto, obtive nenhum sucesso. O mercenário parecia ter virado pó, sumido do mapa. Procurei por um endereço, pessoas conhecidas, um possível local de emprego, mas nada.Nem mesmo rastrear sua essência eu e Hórus conseguimos e essa era a forma mais eficiente de encontrar nossos alvos, na falta de pistas físicas. E eu passei horas olhando para a foto de sua ficha, absorvendo o máximo de informações de sua essência passada pela fotografia.

Como esperado, a essência de Marc Spector emanava puro caos, misturado com coragem, raiva, dor e tristeza. Ele era como uma pobre alma perdida, o qual lhe fora negada a entrada nos Campos de Junco e recebera o destino de vagar eternamente, sem descanso. Por sinal, era uma essência relativamente fácil de encontrar, uma vez que destacava-se das demais. Ou foi assim que eu pensei.

Era começo de noite, eu voltava para o hotel em que estava hospedada depois de mais um dia de procuras mal-sucedidas. Tentava me conformar observando a movimentação agitada de Londres enquanto caminhava, sentindo a brisa fria da noite batendo nas bochechas. Estava passando por uma pracinha lotada de pessoas, carrinhos de comida e pequenas atrações. Minha visão rapina permanecia ativada, por consequência, era bombardeada por essências, de todos os tipos e formas. Chegava a dar uma leve dor de cabeça.

Enfiei as mãos dentro do sobretudo marrom e apertei o passo, desejando poder me teletransportar para a cama enorme e aconchegante do hotel, do qual levantaria somente no outro dia de manhã. Estava tão concentrada em meus passos, que nem notei o homem levantando da fonte no centro da pracinha e tomando o caminho contrário ao meu, resultando em um belo esbarrão. Por reflexo, minhas mãos foram parar nos ombros do homem, enquanto as suas agarraram a minha cintura com força. Fiquei levemente zonza ao sentir seu cheiro amadeirado, misturado com o aroma ameno de creme de barbear. Era tão atraente.

- Meu Deus! M-me desculpe senhorita, eu estava distraído e não te vi - o homem gaguejou sem parar.

-Calma, está tudo bem, só foi um esbarrão - ri de seu nervosismo.

O encarei e eu quase caí dura no chão ao analisar suas feições. Fisicamente falando, era Marc Spector na minha frente. Entretanto, a sua essência me dizia o contrário, era o total oposto de Marc. Havia inocência, timidez, insegurança, solidão e uma pitadinha de melancolia.

Será que Spector possuía um irmão gêmeo e não era informado em sua ficha?

"Investigue mais a fundo e veja se não é mesmo Marc Spector" - Hórus respondeu meu questionamento através da mente - "Ele pode estar ocultado por essa essência."

Marc me encarava de um jeito catatônico. Seus olhos caramelados captavam cada detalhe do meu rosto, por pouco parecendo contemplativa a forma como o fazia. E suas mãos pareciam ter congelado em minha cintura.

-Está tudo bem? - perguntei de forma branda, para não assustá-lo.

-S-sim, está sim - piscou duro, como se despertasse de um transe - Desculpe, mas nos conhecemos?

-Eu ia fazer a mesma pergunta - sorri, vestindo uma máscara de inocência e doçura.

Se Marc pretendia jogar o jogo do disfarce, eu faria o mesmo. E, caso esse homem não fosse Spector, pelo menos eu o pouparia de saber coisas demais.

Pigarreei, desconfortável por Marc não soltar minha cintura por nada. Ele finalmente pareceu notar meu desconforto e me soltou, dando um pequeno pulo para trás.

-Oh, me desculpe por... Por ter te segurado desse... Desse jeito, pensei que você cairia com o esbarrão e... - começou a tagarelar.

-Hey, calma - o cortei rindo, ele chegava a ser adorável nessa forma tímida - Está tudo bem senhor...

Sunrise and MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora