Capítulo XXVI - Ordem e Caos

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AVISO IMPORTANTE: este capítulo contém cenas de violência contra gestante, menção de aborto e conteúdo melancólico. Se o leitor é SENSÍVEL a esse tipo de conteúdo, pelo amor dos deuses, NÃO LEIA!!

TEBAS, EGITO - 1468 a.C

As cortinas brancas do enorme aposento de Hatshepsut eram beijadas por uma leve brisa, quente como as próprias areias do deserto no pico do dia. Era um quarto de formato retangular, com uma banheira quadrada no centro, uma cama próxima às grandes janelas, espelhos emoldurados de ouro ocupando quase a parede direita inteira, um vestíbulo próximo de parede esquerda, vasos opulentos e belos, que continham os mais diversos tipos de flores e plantas, decoravam praticamente todo o aposento da faraó; e um grande altar com as estatuetas de Amon-Rá, Hórus, Ísis e Tefnut, decorada com incenso e utensílios de ouro, estavam próximos da porta.

Akila, a Comandante dos exércitos de Hatshepsut, ajudava a governante a terminar de se vestir para mais um dia. Virou um costume a faraó utilizar calças e uma barba postiça, mesmo sendo uma mulher, para representar seu poder como faraó do Egito.

-Ouvi de um conselheiro que há cidadãos insatisfeitos com minhas escolhas como regente - Hatshepsut confidenciou enquanto permanecia sentada em uma cadeira, com Akila terminando de ajustar sua barba postiça - Estão dizendo por aí que não devia estar expandindo o horizonte com tanto vigor, pois abre brechas para uma invasão.

-As pessoas têm medo do novo, minha senhora - respondeu Akila, terminando sua tarefa do momento - Se vale a minha opinião, de que forma aumentaríamos a riqueza do Egito sem expandir nossas fronteiras e buscar por ouro, animais e especiarias em uma nova terra?

-Sua opinião vale muito, Akila - a faraó sorriu, pegando nas mãos mornas da outra - Antes de qualquer posto, você também é minha amiga e confidente há anos, é importante sua palavra para mim.

Akila correspondeu o sorriso da faraó com a mais pura felicidade e emoção. Seus olhos se encheram de lágrimas e ela precisou contê-las com certa vergonha. Os hormônios de sua gravidez avançada fizeram uma bagunça em seu emocional, coisa percebida por todos a sua volta, em especial sua faraó e seu marido, as pessoas mais próximas da mulher.

-Ora, poupe lágrimas para o nascimento de seu filho, querida - Hatshepsut riu divertida e olhou para a barriga saliente da guerreira - Acha que já está próximo o parto?

-Kytzia disse que pode ser que ele ou ela nasça daqui um mês - respondeu carinhosa, acariciando a barriga - Mal posso esperar.

-Posso imaginar, senti o mesmo quando esperava minha filha - comentou saudosa.

Hatshepsut se levantou, ajeitando sua túnica bege adornada com fios de ouro e lápis lazuli. Ela arrumou sua peruca comprida e caminhou com Akila para fora do aposento. Juntas, andaram para o salão do trono, mantendo uma conversa leve.

O salão do trono era um ambiente majestoso, criado para passar a impressão de imponência e riqueza. Oito grandes pilastras brancas mantinham o salão de pé, eram decoradas com hieróglifos pintados de ouro e detalhes em azul. O chão estava impecavelmente limpo e iluminado pelas janelas do palácio com abobadas características. No fundo do salão, subiam três degraus que davam para um trono feito de ouro maciço, o qual possuía entalhos contanto a história de governança de Hatshepsut. A faraó se sentou lá e sua Comandante se prostrou ao seu lado.

A manhã correu como qualquer dia rotineiro, Hatshepsut lidou com questões diplomáticas, econômicas e sociais ao lado de seus cinco conselheiros, ao passo que Akila permaneceu por perto, garantindo a segurança do faraó junto de alguns guerreiros. Ainda que a guerreira estivesse com a gravidez avançada, ela fazia questão de se manter trabalhando normalmente - ou seja, cuidando da guarda, dando treinos, montando expedições e recrutando novos soldados - o que deixava seu marido, Marc, maluco.

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