Capítulo 11

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     Os dias após o ocorrido com Richard são os mais estranhos da minha vida.

     Não como direito. Não durmo bem. As horas se arrastam quando não estou com o príncipe. Sempre que ele surge no mesmo ambiente que eu, minhas mãos suam e eu sou incapaz de fingir que não noto sua presença. Sinto-me entediada e irritadiça quando não o vejo e mudo drasticamente para eufórica e extasiada com apenas uma troca de olhares com ele. A memória de seus beijos se mantém fresca e viva em meus pensamentos, não importa o quanto eu tente me concentrar em meus deveres. É horrível. E maravilhoso.

     Não tivemos tempo para conversar sobre aquela tarde, ou sobre qualquer outro assunto não oficial, na verdade. Sempre estamos rodeados por meus conselheiros, por guardas ou por minhas damas de companhia - cuja presença no palácio tem se tornado cada vez mais constante e irritante. As palavras não ditas e a falta de esclarecimento para o que quer que tenha acontecido entre nós dois me deixa terrivelmente frustrada, a ponto de os riscos de guerra com Avival e o mistério da criatura bestial parecerem problemas irrelevantes. Isso me assusta. Sou a rainha de um reino imenso e não uma tola enamorada.

     A pior parte é que, por apenas um momento - um mísero segundo entre um beijo e outro de tirar o fôlego - eu passei a imaginar como seria estar casada com Richard. Como seria beijá-lo todos os dias, dividir o leito e a vida íntima com ele. Torná-lo meu e ser dele. Por apenas um instante, senti que poderia fazer isso. Então, quando nos separamos e eu esfriei meus pensamentos e sentimentos após um banho, recobrei a razão. Não posso me casar com ele, mas quero tê-lo para mim, de alguma forma. Isso me envergonha e me faz sentir mesquinha e egoísta. Repito para mim mesma que eu mal o conheço e que devo detestá-lo, mas basta um olhar, um meio sorriso, uma piscada daqueles cílios encantadores e eu me esqueço de absolutamente tudo que estou pensando.

     Então, quando sinto que estou prestes a estourar com meus pensamentos contraditórios, convoco o príncipe Richard para uma reunião privada. Ele vem sem demora, acompanhado, como sempre, de seu guarda pessoal.

     - Bom dia, Majestade - Richard faz uma elaborada reverência para mim, curvando o corpo e dando um meio sorriso eufórico.

     Mantenho meu rosto neutro e olho para o guarda. Como dispensei meus próprios guardas e insisti para que ficassem fora da sala, peço o mesmo do guarda dele, que obedece sem hesitar. Tão logo a porta é fechada e ficamos sozinhos, meu coração dispara.

     - Acho que precisamos conversar - digo, remexendo as mãos com inquietude.

     O príncipe parece despreocupado e ocupa a cadeira mais próxima dele diante da mesa de reunião. Seu suspiro alto e sincero me pega desprevenida.

     - Vai dizer outra vez que estava embriagada? - há uma incredulidade zombeteira em seus olhos.

     Dou uma risada curta e nervosa e desvio o olhar para os mapas nas paredes.

     - Não, não vou.

     - Lembra de tudo, então? - ele arqueia uma sobrancelha. - Pensei que estivesse me evitando porque não lembrava... Às vezes me esqueço que as pessoas têm diferentes graus de tolerância ao álcool e depois fiquei pensando no quanto fui rude ao afirmar que você não estava embriagada, quando poderia, sim, estar e eu... talvez eu tenha sido impulsivo quando insisti que...

     - Ei - interrompo, pois ele está começando a ficar vermelho.

     Richard me encara de olhos atentos. Eu me aproximo dele devagar, sentindo meu coração bater mais forte a cada passo e paro a menos de um metro de distância. Estou mais alta porque ele está sentado, mas, por um segundo, eu me sinto na posição de oferecer qualquer coisa a ele desde que ele nunca desvie os olhos de mim. Que devoção toda é essa? Desde quando sou capaz de sentir essas coisas estranhas?

Dever e Fidelidade #2Onde histórias criam vida. Descubra agora