Os rumores percorrem os quatro cantos da Terra e são espalhados pelos quatro reinos numa velocidade surpreendente.
A rainha de Omem é uma bruxa!
A rainha de Omem é profana e cruel!
A rainha de Omem deseja tomar os quatro reinos e escravizar a todos!
Não é como se eu não pudesse, de fato, tomar todos os reinos e escravizar todos os povos. Eu só não quero. Estou perfeitamente satisfeita governando meu amado reino de Omem, onde posso, enfim, praticar minha magia livremente e cuidar de meu povo dedicado e trabalhador. Há décadas desisti da felicidade e de ter uma vida meramente normal como o restante das pessoas e tenho me concentrado em fazer o que é melhor para o povo a quem sirvo. E é só isso. Para algumas pessoas, no entanto, a simplicidade das minhas motivações é questionável e eu me torno, rapidamente, uma lenda digna de medo. Sou transformada numa personagem maléfica sobre a qual pais contam terríveis histórias para fazer seus filhos se comportarem. E sou vista como ameaça à liberdade e integridade dos outros reinos.
Durante minhas minuciosas investigações, tenho descoberto mais a respeito da instituição chamada Igreja. Meus poucos estudos a respeito de seu funcionamento me fazem crer que ela não passa de uma grande farsa, mas minhas provas são obtidas por meio de espionagem mágica, então não tenho credibilidade para convocar os reis e rainhas vizinhos e expor o que sei. Uma pena, de fato, mas nada que tire minha paz diária.
Porque eu, enfim, encontrei um pouco de paz. Ainda convivo com os fantasmas do meu passado - e, às vezes, até acho que eles falam comigo - e tenho ocasionais crises de remorso ao olhar para retratos antigos de pessoas que eu conheci e que se tornaram pó. Guardo as memórias de Celin e Gerda com carinho em meu coração e suplico por seu perdão todos os dias. Mas minha vida no fim das contas é... suportável. Não feliz, jamais feliz. Mas como não tenho escolha a não ser viver, é o que faço, um dia de cada vez.
E vivendo um desses dias de cada vez, chega o dia em que Klaus retorna para mim com um presente.
Não, não exatamente um presente. Seria errado chamar assim. Klaus traz Anna de Liriel para meu palácio e me conta uma história completamente absurda sobre como Anna usurpou o lugar da princesa Sonya, sua irmã mais velha, e se casou com rei Kilian de Coronte, com quem acaba de ter uma filha. Anna viveu sob esse disfarce durante o último ano inteiro, sem levantar suspeitas, até que as visões deturpadas de Klaus contaram toda a verdade a ele: ao contrário do que foi informado, ela esteve viva esse tempo todo sob a proteção de seu irmão mais velho, o mesmo que o mandou para o exílio. Como única reivindicação a que Klaus pensa que tem direito, ele separa Anna de sua família e a traz consigo até mim e o sorriso radiante em seu rosto me faz crer que ele não vê problema algum em nada disso.
Klaus pede que eu os encontre numa cabana abandonada e eu o faço. Mas nada me prepara para o momento em que eu finalmente encontro Anna pessoalmente.
Meu pobre coração é despedaçado ao notar que ela é praticamente idêntica à mãe. A não ser pelo formato da boca, Gerda e Anna são assustadoramente parecidas. Eu mal suporto olhar para ela e preciso juntar toda a minha compostura para fingir que não me importo com quem ela é. Uso de minha frieza dedicada a todos os humanos comuns e trato Anna como a impostora que, querendo ou não, ela é. Mas me intriga perceber que ela não sabe absolutamente nada sobre quem foi sua mãe e o que ela herdou dela.
— O quê? — pergunta Anna de Liriel, de forma patética, quando menciono o clã vidente do qual ela descende.
Fico profundamente irritada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dever e Fidelidade #2
Fantasia[Segundo Volume da Saga das Quatro Rainhas] A jovem princesa Vytoria tem apenas um único objetivo: tornar-se a rainha. Filha mais velha do querido rei de Omem, ela é criada para assumir o trono do pai e nada pode entrar em seu caminho, nem mesmo um...