Dever e Fidelidade #2

Capítulo 13

     Três semanas e meia se passam até que a primeira carta de Richard chegue às minhas mãos. 

     Eu gostaria de dizer que a joguei na pilha interminável de cartas de nobres omenianos e monarcas de reinos vizinhos que recebo todos os dias. Gostaria de dizer que não comecei a tremer e a sorrir e a sentir meu coração acelerar de alegria. E definitivamente gostaria de dizer que não abandonei uma reunião sobre o planejamento da próxima colheita apenas para ler a carta em particular.

     Gostaria, mas não posso, porque seria tudo mentira e bons monarcas não mentem.

     Meus dedos buscam por uma pequena adaga decorativa que fica sobre minha mesa privada e eu a uso para romper o selo que mantém a carta lacrada. Meus dedos quase rasgam o papel, tamanha a minha ansiedade. Sinto um largo sorriso se espalhar por meu rosto ao notar que Richard escreveu não uma nem duas, mas quatro folhas. Sua letra é elegante, longa e bem desenhada, o que, por mais estranho que pareça, me faz achá-lo ainda mais atraente. Meus olhos avançam pelas linhas, famintos por qualquer informação sobre o rapaz que faz meu coração bater como os tambores festivos do Dia da Vitória.

     Querida Vytoria,

     espero que esteja bem, segura e saudável quando esta carta chegar a você. Gostaria de ter obedecido a sua última ordem e ficado mais um dia com você em Omem. Minha pressa em deixá-la acabou se provando inútil. Uma tempestade perto da fronteira me deixou quase três dias parado, abrigado numa pousada, e me atrasei quase uma semana para o reencontro com meu pai aqui em Avival. Ele me repreendeu, mas foi compreensivo quando expliquei a situação. E, caso você se importe, estou bem. 

     Acho importante enfatizar que comecei a sentir saudades suas no instante em que você me deixou sozinho no meio do salão de baile, na noite em que dançamos pela primeira e última vez. Evitei me despedir porque imaginei que estivesse brava comigo e não queria vê-la com raiva ou triste. Fiz bem? Parte de mim se arrepende um pouco por não ter me comportado como um plebeu grosseiro, invadido seu quarto no meio da noite e beijado você até que dissesse coisas malucas para mim outra vez, como quando disse que pensaria em casar comigo. 

     Sabia que eu amei vê-la confusa entre meus beijos naquela noite? Não porque me senti bem em confundi-la ou mexer com seus sentimentos, mas porque percebi o quanto você é normal. Humana. As histórias que ouvi sobre a recém-nomeada rainha de Omem (e depois de ler aquela sua carta ousada) me fizeram imaginá-la como uma garota feita de pedra. Mas você é mais como uma árvore. Firme, forte e bela em todos os sentidos. Viva. Eu gosto do fato de que somos próximos em idade o suficiente para eu poder dizer essas coisas sem me importar tanto com hierarquia. Bem, talvez você esteja revirando os olhos e praguejando contra mim agora mesmo, pois admito que o que digo pode soar meio grosseiro. Garotas não costumam gostar de ser comparadas a árvores. Quer dizer, não que eu seja especialista em me relacionar com garotas. Não sei nada sobre garotas. É apenas uma dedução, não fique com raiva de mim.

     Penso em você o tempo todo durante os meus dias e gostaria de te mostrar Avival. Você ia gostar muito daqui, como eu gostei de Omem e gosto de você. Eu me imagino caminhando com você na praia e disputando corrida em cavalos incríveis que criamos aqui. Você precisa experimentar nossas maçãs - são as melhores dos quatro reinos! Se a viagem entre nossos palácios não fosse tão longa, eu mandaria algumas para você. Talvez eu ainda tente, só para ver se elas vão sobreviver até chegarem aí.

     Agora, falando sobre assuntos de Estado, por aqui corre tudo bem na medida do possível. Encontramos uma dupla de magos que podem ter informações sobre os incidentes mágicos que tem acontecido. Meu irmão mais velho está liderando um interrogatório para tentar compreender melhor como aquela besta mágica foi libertada e como podemos lidar com ela. Ah. É mesmo, esqueci de mencionar. A criatura foi vista perto de plantações a oeste e atacou uma criação de gado e dois fazendeiros. Uma nova tragédia, embora com menos mortes dessa vez. Meu pai quase não dorme de preocupação, mas está fazendo o seu melhor para cuidar de nosso povo. Eu gostaria que aquela lenda do livro mágico fosse verdadeira e que pudéssemos colocar um fim nesse medo que só cresce. Por ora, só podemos investigar e tomar cuidado.