Naquela sexta, Catarina não tinha vontade de absolutamente nada. Levantou- se, com sua cabeça girando. Tomou seu banho, se arrumou e foi para o trabalho.
Ao chegar, encontrou em sua sala uma visita inesperada.
- Mãe? O que você tá fazendo aqui?
- Bom dia Catarina.
- Aconteceu alguma coisa?
Depois que saiu de casa, há mais de dois anos, essa era a primeira vez que encontrava com sua mãe.
- Podemos conversar?
- Claro, entre.
Catarina e sua mãe não tinham uma relação muito boa. A menina ficara frustrada com o segundo casamento da mãe com um empresário holandês. Foi quando resolveu sair de casa.
- Como estão todos?
- Muito bem. Com saudades da desnaturada que não aparece nem para uma visita.
- Mãe, sabe que não piso naquela casa com aquele homem lá.
- Aquele homem tem nome e ele é meu marido agora.
- Não precisa me lembrar desses detalhes.
- Bom, não vim aqui para brigas. Vim lhe dizer que estou de partida.
Catarina não acreditava no que ouvia.
- Como assim? O que aconteceu com "fique tranquila que não irei embora"?
- Catarina, estou doente. Preciso de médicos mais bem preparados.
Ela não sabia da doença da mãe. Sentiu- se chocada por não saber antes.
- Como assim doente? O que você tem? Por que não pode se tratar aqui? O maridinho que não quer?
- Catarina chega! Trate as pessoas com respeito pois foi essa a educação que lhe dei. Os médicos daqui não conseguem descobrir o que tenho. Você prefere mesmo que eu fique aqui tendo condições de procurar ajuda médica melhor?
- Você vai me abandonar mais uma vez.
- Não seja infantil, quem saiu de casa foi você, Catarina. Só soube seu endereço por acaso, porque seu primo contou que estavam trabalhando juntos. E agora você quer me dizer que eu te abandonei?
- Sim, porque se estivesse preocupada teria me achado.
- Não vou discutir com você, porque esse seu nariz em pé só faz com que você pense ser a dona da razão. Vim pedir que você passe essa última semana comigo. Na minha casa.
- Nem pensar! Lá eu não piso.
- Eu não estou pedindo, Catarina.
- Eu não aceito ordens.
- Nem de sua mãe?
- Nem de minha mãe. Pois ela casou com um homem e esqueceu da própria filha.
- Catarina eu não esqueci de filha alguma! Por acaso o seu paizinho tem te procurado? Tem ligado pra você? Porque eu ligo, mesmo que apenas quem me atenda seja sua caixa postal. Ele me traiu Catarina quando você vai entender isso?!
- É mentira! Eu não acredito em você!
- Abaixe o tom para falar comigo! Respeite ao menos sua mãe, menina!
Catarina não aceitava a separação dos pais. E como sua mãe logo casou-se novamente, a menina colocou toda a culpa do fim do casamento em sua mãe.
- Estou indo embora. E se quiser se despedir de sua mãe, sabe onde me encontrar.
A menina não quis nem acompanhar a mãe até a porta. Antes de sair ela olhou mais uma vez para filha.
-Eu espero que não passe pelo mesmo que eu passei, minha filha. Que você não sofra por amor como eu sofri.
Catarina sentiu seus olhos lacrimejarem.
- E jamais esqueça que a sua mãe te ama muito. E que eu daria a vida por você.
Houve um momento de silêncio e Catarina ouviu a porta se fechar. Neste momento a menina desabou em lágrimas. Aquilo não podia estar acontecendo.
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Na ponta do salto agulha
RomanceCatarina era uma menina ousada. Delineado sempre nos olhos, batom vermelho e unhas bem feitas, com aquele esmalte sempre muito rosa. Catarina gostava de chegar arrasando por onde quer que fosse. Em seus pés sempre um bom salto alto. Do trabalho até...