A história maldita

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Estava eu ali, com uma faca suja de sangue seco em minha mão direita que estava toda machucada e trêmula... eu estava trêmulo, eu estava sentindo uma presença.

Usava uma blusa branca e uma calça moletom preta, meus óculos ali em meu rosto para que eu pudesse ter uma visão melhor de qualquer coisa.

E então, ela abriu a porta. Meu peito se apertou ao ver aqueles olhos castanhos por debaixo de seus óculos, aquele cabelo meio cacheado nas pontas, aquela boca que continha o sorriso que eu sempre, sempre amei ver... mas hoje eu sinto nada disso além de um aperto no peito e vontade de chorar.

—Todos estão à salvo, eles...— ela parou a frase, sua voz doce estava cansada, cautelosa e falhava a cada palavra. —Sentimos sua falta.

Tirei um revólver de dentro do meu bolso e disparei perto do pé dela e não me orgulhei daquilo, pois ela apenas paralisou enquanto me encarava... 𝒗𝒂́ 𝒆𝒎𝒃𝒐𝒓𝒂.

—Meus parabéns, cê salvou todo mundo.— abaixei o revólver, e desviei o olhar. —Mas, de repente, quer me salvar agora. Eu mandei nenhum de vocês virem me procurar.

—E-eu sei, eu sei... mas poxa, Gui, você faz parte da família...

—É, eu sei que faço e admito que vocês são muito importantes para mim!— tentei manter a voz o mais áspera e amarga possível, mas não foi o suficiente para mandá-la embora, pois ela estava se aliviando ao ouvir aquilo. —Mas quando brigamos... eu tentei seguir em frente pois só queria ver seu sorriso, e você sabia que eu gosto... que eu gostava de você.— Ela enrijeceu o corpo, sua expressão ficou mais pálida e eu tentei afastar o choro. —Não tem problema se você se afastar de mim por merdas que eu fiz, sabe que eu sempre quis que você fizesse o que fosse melhor para você, mas... eu tive que ficar evitando tudo o que me lembra você para não correr atrás e te incomodar.

—Guilherme, por favor...— ela estendeu a mão para mim, dando um passo em minha direção.

—Deveriam ter me impedido antes... porque desde que você eu fui embora, eu parei de ignorar tudo o que eu sentia— voltei a encará-la, me esforçando para não dizer as palavras. —e me afastei para protegê-los e não me machucar, e também deixei de ser quem eu já fui um dia.

Silêncio pairou sobre nós, pairou sobre o quarto mal iluminado do meu apartamento pequeno que tinha apenas uma porta de correr para abrir, e uma janela retangular.

Encarei a cama que estava bagunçada, percebi o olhar dela recair sobre aquela bagunça também e percebeu o sangue no travesseiro... então ela olhou para meus pulsos e não viu nada ali, nenhum corte.

—Eu não quero encontrá-los pois quis que acabasse assim!— levantei o revólver em sua direção e erguei a faca na altura de minha cabeça. —Eu amo você.— E disparei no mesmo instante em que perfurei o meio de meu peito com a faca.

E acordei, assustado, tremendo e suando... não era pelo frio que o Quarto Invernal carregava e sim pelo choque que acabei de sentir por causa do sonho.

Me levantei da cama e reparei que muitos dormiam naquele momento, era de madrugada e desci para o primeiro andar. Na intenção de beber uma água ou ir ao banheiro quando vi o garoto de pele cinza de pé diante a lareira.

—É meio tarde para estar acordado, garotinho.— disse ele, a voz baixa. —Quatro horas e meia da madrugada. Amanhã teremos um treino intensificado.

—Eu só vim para tomar uma água e ir ao banheiro.— contei, passando por ele.

O chalé era grande o suficiente para muitas camas, sofás, lareiras, mesas, vasos, quadros e muitas coisas que você pode imaginar em uma casa como aquela. Nas janelas, eu via a neve cair violentamente contra o gramado agora branco e ouvia o gemido do vento frio.

Inferny e o Começo do InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora