A raposa e a coruja

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Guilherme

A luta acabou, as mortes acabaram... os meus poderes de demônio se foram. Se passou um dia para que todos se recuperassem e para Angel City retornar a sua rotina normal e fingir que nada aconteceu.

A cidade toda se reuniu na Praça Central Angelo, onde sempre acontecia os eventos da Academia Guizelini e igrejas que acreditavam no Criador.

Eu ainda tenho muito de aprender sobre religiões, sobre Lúcifer e seu gêmeo, sobre a vida.

E esse é o meu maior medo, eu sempre tive um desespero sobre crescer além de sentir pavor da morte. Mas estaria disposto a lutar pelos meus amigos e familiares, odeio ver qualquer tipo de pessoa chorando e é por isso que escolhi ficar perto da Cellesty, para consolá-la com um abraço e palavras se possível.

A cidade toda estava na praça, os telões no alto de prédios e um enorme palco diante da multidão que esperavam a entrada dos Guardiões. Mas não foi uma entrada cerimonial que eles costumavam fazer.

Thiago não demonstrava fraqueza mas dava para perceber em seu olhar que sofria, assim como Zel que tinha olheiras fundas, Thraid com uma expressão vazia e Endeavour e Jason de óculos de sol — o pai de meus irmãos estava inquieto, com tiques, tamborilando os dedos no dorso de sua mão.

Jason se dirigiu até um microfone sobre um pequeno balcão, mas recuou para que Zel pudesse dizer suas palavras que precisava soltar para fora.

—O Jellen é muito mais velho que eu por ser um despertador, vocês vão aprender muito sobre esse planeta, crianças!— ele acrescentou, com um nó em sua garganta. —E quando ele chegou a Terra e entrou para os Guardiões, eu queria conhecê-lo perfeitamente. Ele cuidou de mim como se fosse meu pai... um pai que eu nunca tive na vida.

Lágrimas escorreram quando sua voz falhou, olhei para o lado e vi Cellesty se segurando para não chorar alto.

—Ei, tá tudo bem...— eu a abracei fortemente, acariciando suas costas. —... não precisa guardar tudo para você!

Cellesty começou a chorar baixinho, eu sabia que ela queria gritar naquele momento. Eu também queria chorar, chorar muito. Mas eu não era o foco ali.

—Jellen era um amigo muito próximo, era como um irmão e bebíamos todas as noites quando nos encontrávamos.— Thiago suspirou e encarou o chão, voltei o seu olhar para a multidão. —Ele amava muito esse planeta. Amava muito sua mulher e filha, ele morreu por nós e salvou a Terra do apocalipse.

—Todos os heróis tem Ranking, e desde sempre fui considerado o número 1— Thraid olhou de esguelha para Endeavour que fungou. —Mas o número 1 não era eu, não para mim! Mas sim Jellen, que se sacrificou por todos nós e combateu o Rei do Inferno cara a cara sem hesitar. Ele é o verdadeiro número 1 e não eu... não eu.

Eu perdi meus pais, supostamente vou perder minha mulher e agora eu perdi um irmão... que me fez ser forte como eu sou hoje.— Endeavour engasgou com as próprias palavras. —Éramos como yin-yang... eu tinha preconceito com despertadores, mas Jellen é a prova que nem todos deles são ruins como aprendemos.

Endeavour parecia querer dizer outra coisa, mas recuou deixando lugar de fala para Jason que se posicionou e pigarreou.

—Jellen era... não.

Inferny e o Começo do InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora