Nós tínhamos acabado de entrar no carro do Geizon, não trocamos uma palavra desde que descemos, assim que sentei no banco do passageiro e coloquei o meu endereço no GPS ja me encostei no vidro da janela e comecei a fingir que estava dormindo, eu estava louquinha de cachaça, não podia dar a ele a oportunidade de falar comigo e sair mais do que deveria da minha boca, ele tinha colocado um rock e estava cantarolando enquanto dirigia.
-Você sabe que eu te conheço ne?- ele disse parando de cantarolar e abaixando a música- Você finge mal demais- eu soltei uma risada nasal.
- Eu não estava fingindo, eu estava tentando- ele me olhou rapidamente com um olhar de quem não acreditava no que eu dizia- Posso escolher a música?- ele assentiu e me deu o spotify aberto, eu coloquei Cone Crew e ele gargalhou assim que ouviu o começo do beat de Cleópatra.
- Eu não acredito que tu ainda ouve eles cara.
-Claro que ouço, meu gosto não muda, só evolui- ele riu e paramos no sinal vermelho enquanto ele me encarava pensativo- Você tá bem?
-Não sei- ele respirou fundo, parecia que ele estava tentando escolher as palavras certas ou se deveria ou não falar algo- É esquisito pensar que mesmo eu te conhecendo eu não te conheço, sei lá mano, você parece a mesma...mas não é tá ligado.
- Geizon eu não te conhecia mais bem antes da gente terminar- ele soltou um riso nasal.
- Você sempre me conheceu, e sempre vai conhecer uma parte de mim que poucas pessoas conhecem - o sinal abriu e ele voltou a focar totalmente na pista- Eu tô ligado que eu fui o maior filho da puta contigo mano e tudo que eu te peço é perdão por tudo aquilo.- ele intercalava o olhar entre mim e a pista.
- Eu pensava já ter te perdoado a muito tempo, tudo o que a gente viveu pra forma em que a gente terminou me magoou pra caralho Geizon, ainda mais tudo que levou a gente ao término, eu juro que eu tô tentando ficar de boa do teu lado em todo lugar que a gente se encontra, mas eu não sei se eu consigo esquecer aquilo tudo- eu tentei ser o mais sincera e transparente possível com ele, eu não queria falar que perdoava ele por tudo e na primeira gota de álcool jogar na cara dele ou algo do tipo, então eu prefiro não dar falsas esperanças sobre uma coisa que eu não tenho certeza que vá acontecer, caso contrário nos dois vamos sair magoados de novo.
-Eu pensei pra caralho em todo esse tempo, porra eu te amava demais, eu nunca vou me perdoar por ter te perdido por uma merda que eu fiz, só que tipo, eu tento entender, eu sei que se a gente continuasse juntos nos íamos acabar nos odiando, e porra tudo que eu menos quero é que você me odeie.
-Você não me perdeu Geizon, a gente viveu juntos e foi intenso pra caralho, independente de quanto tempo passe tu ainda vai ter um lugar importante pra mim, mas eu realmente não entendo aonde você quer chegar com essa conversa.
- Por que é uma parada que me incomoda a anos, eu sei que é passado, que você seguiu a sua vida e eu a minha, só que eu odeio ficar nessa situação contigo, não ter explicado nada tá ligado? enfim, é foda.
- Eu não sei o que você quer que eu diga Geizon.
- Eu não quero que você diga nada, só quero que tente ver que eu não sou mais o mesmo, eu evolui Maria, eu juro...Você foi importante pra mim, queria que a gente pudesse ser amigos, mesmo que nós sejamos apenas restos do que ficou.
- Eu vou tentar, não posso te prometer nada mas eu vou tentar- ele sorriu largo.
-Ja é um puta avanço, é aqui?- ele disse parando em frente ao meu prédio.
- É aqui sim, obrigada por me trazer- disse saindo do carro.
-Nada po- ele disse saindo do carro junto comigo, olhei para ele com um olhar desconfiado- Que foi? vou te deixar na porta de casa né- eu ri e nem debati, eu estava tão bêbada que eu tenho certeza que não saberia subir as escadas sozinha, nos entramos e ele já passou direto pelo elevador e me ajudou a subir as escadas.
-Não acredito que você ainda lembra- disse mais pensando alto do que falando diretamente pra ele.
- Que você tem medo de elevador? eu lembro de quase tudo, memória de elefante- nos chegamos no meu andar e eu guiei ele até a porta do meu apartamento- É aqui?
-E sim- nos ficamos alguns instantes sem falar nada, nenhum de nós dois sabíamos o que falar, até ele quebrar o silêncio.
-Eh...acho que é isso então né, tô indo- ele disse ainda me encarando.
-Marca um dez aqui?- era a cachaça falando, com certeza era.
-Nao sei se é uma boa ideia sereia.
-Claro que não é, por isso que é tão a gente- ele sorriu largo e entrou, nos fomos direto para o meu quarto- Quer vestir o que?- ele disse abrindo meu guarda roupa, eu mesma fui lá e peguei um casaco de moletom e um short de babydoll, ele saiu para eu poder trocar de roupa, eu até tentei vestir sozinha, mas cai só de tentar tirar o meu próprio vestido sozinho, ele estava no banheiro do quarto e entrou correndo assim que ouviu o barulho do tombo.
-A cara coe- ele riu me pegando pelo braço para eu poder levantar- Quer ajuda com isso aí?- ele disse se referindo ao zíper no meu vestido e eu apenas assenti, ele parou atrás de mim abrindo o zíper devagar, eu não deveria estar tão arrepiada e com tanto frio na barriga por causa disso, por causa dele assim que meu vestido caiu no chão o ouvi respirar fundo até por que eu estava sem sutiã, não era como se ele nunca tivesse visto mas dessa vez era diferente, quando o olhei ele estava pegando o moletom e passando ele pelo meu pescoço, assim que ele terminou de me vestir ele parou na minha frente me encarando, eu não sabia o que fazer até ele acariciar o meu rosto com os olhos fixos nos meus, até ele mesmo se afastar de mim.
-Vai deitar, tu deve estar mortinha já.
-Vai cantar pra mim?- o álcool antes de matar ele te humilha.
-Claro que vou - eu me deitei me cobrindo enquanto ele se sentava do meu lado com as costas na cabeceira começando a fazer carinho no meu cabelo- Posso escolher a música?- eu assenti e me arrependi logo em seguida enquanto ele começava a cantar "Ai que saudade d'oce"
Se um dia você se lembrar, escreva uma carta pra mim
Bote logo no correio, com frases dizendo assim
Faz tempo que eu não te vejo
Quero matar meu desejo
Te mando um monte de beijo
Aí que saudade sem fimEle cantava baixinho em um tom calmo me fazendo cafuné, eu odiava admitir mas eu realmente sentia falta dele as vezes, não romanticamente, mas da amizade e do companheirismo que a gente tinha, talvez romanticamente as vezes. Assim que ele terminou de cantar eu já sentia meus olhos pesados.
- Sabe que se você tivesse me pedido pra ficar, eu teria ficado ne?- eu disse num sussuro ainda com os olhos fechados e quase dormindo.
- Eu sei, por isso eu não pedi, eu tinha que te deixar ir- essa foi a última coisa que me lembro de ouvir ele falar antes de apagar.
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Mil desculpas ensaiadas ||Xamã||
RomanceEu enxergo o seu rosto em cada vitrine Em algum sentimento que não se define O orgulho de um homem é a prova de um crime sem perdão Hoje o bloco passou eu só olhei da janela O samba era meu dediquei pra portela A frase mais boba eu ouvi na cape...