Capítulo Dezessete

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Agora vou contar o que realmente aconteceu...

Preciso resolver essa questão da minha magia, porque cada minuto que passa aumenta o risco que corro. O medo de Lex Luthor me assombra constantemente, e temo que nem mesmo a Supergirl possa me proteger, ou qualquer um que esteja no caminho dele. Afinal, mesmo depois de morto, ele encontrou uma maneira de voltar, trazendo mais dor e sofrimento.

Durante aquela Crise nas Infinitas Terras, quando os heróis derrotaram o Anti-Monitor e todos que desapareceram foram restaurados, eu fui capaz de lembrar da minha vida antes de tudo aquilo. Algumas coisas tinham mudado, mas as lembranças estavam lá, vívidas.

Sobre meu carrasco, que ainda me atormenta todos os dias... Não consigo lembrar de muita coisa dos dias que passei sob o controle dele. Tudo está embaçado na minha mente, como se tivesse sido um borrão de delírios e dor. Havia momentos de sobriedade, momentos em que eu conseguia discernir algumas coisas. Lembro-me de uma mulher loira, que discutia com Lex em seu laboratório improvisado. Mas, por estar drogada, eu não conseguia entender sobre o que eles falavam. Sei que deveria ter contado a Lena e Alex sobre isso, mas elas estão tão concentradas em cuidar de mim que não quis enchê-las com informações que poderiam ser apenas delírios.

...

Meus pais passaram a semana inteira em minha casa, com medo de me deixar sozinha. Não apareci no trabalho nem um dia sequer — provavelmente já perdi meu emprego. Minha mãe está insistindo que eu volte para a terapia, alegando que é necessário. Mas o único desejo que tenho é de ficar na cama até a imagem de Lena com aquele homem desaparecer da minha mente.

Com grande esforço, levantei da cama — sob a ameaça de levar uma vassourada da minha mãe. Fui ao banheiro, fiz minha higiene pessoal e tomei um banho rápido. Escolhi uma calça de moletom branca e um top de academia cinza no armário. Na cozinha, minha mãe já estava preparando meu café da manhã, quase no horário do almoço, já que ultimamente eu mal tenho comido.

— Bom dia, meu amor. Como dormiu? — Minha mãe estava incrivelmente animada, o oposto da Eleonor que me ameaçou minutos atrás.

— Bom dia, mamá. Dormi sim. — Falei, saltando os degraus da cozinha. — Esse omelete está com um cheiro ótimo!

— Vai correr? — Ela perguntou enquanto mexia os ovos na frigideira.

— Vou só caminhar um pouco. Acho que o ar fresco vai me ajudar a colocar as coisas no lugar. — Me sentei à mesa, sendo servida. — Cadê o papá e a Alice? — Perguntei, dando a primeira garfada.

— Foram ao shopping. Alice disse que queria comprar algumas coisas para o seu aniversário.

— ¡Mamá! Você sabe que eu não gosto de comemorar meu aniversário. — Respondi, frustrada. — Uma festa agora não está nos meus planos.

— Vamos lá, Ana! A pobre menina está tão animada em preparar algo para você. — Minha mãe me olhou fazendo uma careta.

— Tudo bem, mas por favor, nada muito extravagante. Não quero tumulto nem muita gente. — Ela sorriu, o que me fez sorrir também. — Agora vou fazer minha caminhada... Beijos, te amo! — Saí da cozinha e desci até a portaria, onde encontrei o senhor Jaime, lendo seu jornal matinal.

— Bom dia, Jaime!

— Bom dia, menina. Está se sentindo melhor? — Ele perguntou, e provavelmente minha mãe já tinha comentado sobre meu "estado".

— Estou bem, e o senhor?

— Estou ótimo, só ficando um pouco mais velho a cada dia. — Sorri para ele.

— Não está velho, está apenas mais maduro.

— Ah, antes que me esqueça, chegaram algumas coisas para você. — Ele se virou e pegou algumas cartas e uma pequena caixa com um bilhete.

— Quem entregou isso? — Perguntei, apontando para a caixa.

— Um motorista todo formal. Pediu para entregar somente em suas mãos.

Estranho...

— Certo, obrigada! — Peguei as cartas e a caixa e saí do prédio.

Caminhei até chegar a um banco no parque. A curiosidade estava me corroendo, mas também sentia medo de que fosse algo perigoso. Lentamente, abri a caixa, fechando os olhos, esperando algum tipo de explosão ou impacto. Mas nada aconteceu. Quando abri os olhos, percebi que não havia perigo algum. Dentro da caixa havia um lindo pingente em formato de sol, e gravado nele estava a frase em espanhol "¡Perdóname!" — a caligrafia perfeita e inconfundível de Lena.

Junto com o pingente, havia um envelope vermelho. O abri, e lá estava uma carta dela:

"Querida Ana,

Sinto muito que tenha visto aquela cena. Mas preciso esclarecer que você entendeu tudo errado. James e eu não temos nada, longe disso. Eu estava prestes a dizer a ele que já havia alguém muito importante na minha vida e, naquele momento, eu ia convidar essa pessoa para nosso primeiro encontro (mesmo que já tenhamos pulado algumas etapas normais de um relacionamento). Espero que me entenda.

Com carinho, 
Lena."

Meu coração deu um salto. Talvez as coisas não fossem como eu tinha imaginado.

"Inesperado" | Lena Luthor & S/NOnde histórias criam vida. Descubra agora