Capítulo Quatorze

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Ana...

Três dias depois...

— Ana?! — ouço Jess me chamando do corredor.

— Oi! Aconteceu alguma coisa, Jess? — pergunto, vendo-a se aproximar, seus saltos fazendo um barulho irritante no piso.

— A senhorita Luthor pediu para avisar que hoje não poderá vir ao laboratório, mas gostaria que você a esperasse. Ela quer falar com você antes de ir embora.

— Está bem, Jess. Eu a esperarei. Obrigada. — Ela acena e sai do laboratório. — O que será que Lena quer comigo?

Para ser sincera, nesses últimos três dias, Lena e eu ficamos juntas mais algumas vezes, mas nada de muito sério. Não falamos sobre o que está acontecendo entre nós, já que ela tem estado ocupada com os problemas na L-Corp, que estão uma loucura por causa do Lex, que voltou a ser o centro das atenções.

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Horas se passam, e ainda estou no laboratório. Todos já foram embora, e a noite começa a cair. Não quero ficar sozinha aqui, pois não tenho boas memórias desse lugar, então decido subir até o escritório de Lena.

Quando chego à cobertura, percebo que Jess já foi embora. A porta do escritório de Lena está entreaberta, dou três batidas leves e entro antes mesmo de ser convidada.

— Lena! Você queria me... — Minha voz falha ao ver um homem moreno, muito próximo a ela. — Ah... Desculpe, não sabia que estava ocupada, senhorita Luthor. Eu vou deixá-los a sós. Tenham uma boa noite!

— Ana... espere! — Antes que Lena consiga dizer mais alguma coisa, fecho a porta e caminho em direção ao elevador.

E sim, antes que alguém pergunte: estou com ciúmes de ver aquele homem tão perto de Lena. Provavelmente estavam se beijando ou algo assim. As portas do elevador se fecham, e meus olhos começam a se encher de lágrimas.

Por qué diablos estoy llorando? Lena é uma mulher adulta, e nós não temos nada sério que me dê direito à exclusividade, certo?

Vou para a garagem, entro no carro e ligo o motor. Quando estou quase saindo do prédio, meu celular toca. Olho a tela e vejo que é minha mãe.

Atendo e coloco no viva-voz.

— ¡Hola mamá! ¿Sucedió algo?

— No, mi amor, solo quería decirte que vamos a tu apartamento ahora.

— Está bem, eu também já estou indo. Se chegarem antes de mim, me esperem, não vou demorar.

— ¿Estuviste en el trabajo hasta ahora?

— Sim, mamá, mas não se preocupe, não estou me sobrecarregando. Agora preciso desligar. Beijos, ¡te amo!

— También te amo.

Desligo a chamada e continuo dirigindo. Antes de chegar em casa, faço uma parada em uma lanchonete e compro alguns donuts e uma torta de limão, os favoritos da Alice. Tenho certeza de que minha mãe vai querer cozinhar algo, enquanto meu pai vai se jogar na frente da TV, provavelmente assistindo luta livre.

Quando chego, sei que meus pais já estão a caminho. Entro no apartamento, jogo minhas coisas no sofá e coloco os donuts, a torta e meu celular na mesinha de centro. O telefone começa a tocar de novo. Olho a tela e vejo que é Lena.

— Acho que já é um pouco tarde para conversar, né? — murmuro, ignorando a ligação e indo direto para o banheiro. — Eu mereço um banho demorado.

Depois de alguns minutos sob a água quente, ouço a voz de Alice chamando da sala.

— ANAAAA! ONDE VOCÊ ESTÁ?

— ESTOU NO BANHO! JÁ ESTOU SAINDO! — grito de volta.

Termino o banho, coloco um short jeans e uma regata branca, amarro o cabelo e vou até a sala.

— Hola mamá, hola papá, hola, mi amor! — Dou um beijo em cada um, que estão no sofá. — O que estão fazendo aqui?

— Queríamos conversar com você. Desde que aquilo aconteceu, você nunca quis falar sobre o que sentiu. — Minha mãe levanta-se, preocupada.

— Mamá, eu estou bem. Não há o que dizer.

— Mi hija, Lena me ligou. Ela disse que já te viu chorando pelos cantos. — Desde quando minha mãe e Lena têm essa intimidade toda?

— Ela não deveria... Espera aí! Desde quando vocês têm tanta intimidade? Santiago, Lena, ligações para falarem do meu estado emocional... O que está acontecendo? — Sinto uma enorme vontade de chorar, mas seguro ao máximo.

— Mi hija, ¿estás bien? — Meu pai pergunta, tenso ao me ver ficando vermelha.

— Não, papá, eu não estou bem! Um maníaco quase me matou. Meu corpo parece estar sendo perfurado por milhares de agulhas, e acabei de ver a pessoa de quem eu gosto com outra. E vocês me perguntam se estou bem? Não, não estou! — Nesse momento, não consigo mais segurar as lágrimas.

Minhas pernas começam a tremer, até que perco a força para me manter de pé e desabo no chão. Meus pais e Alice me abraçam enquanto eu choro, e eu nunca tinha chorado assim antes. A sensação de tristeza é tão nova e intensa que me assusta.

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Horas se passam, e estou deitada na cama, ainda pensando na cena que vi mais cedo no escritório de Lena. Ela me ligou inúmeras vezes, mas ignorei todas. Provavelmente, minha mãe já falou com ela, explicando que eu não estou em condições de falar agora, pois as ligações pararam.

Demorei muito para conseguir dormir, e, para piorar, ando tendo pesadelos com Lex. Sempre a mesma coisa: ele me prendendo e dizendo que eu sou um ser desprezível, assim como os alienígenas que vivem na Terra. Ele me chama de burra por não usar meus poderes. No final desses sonhos, sempre acordo com o som de lâmpadas estourando. Já troquei as lâmpadas do meu apartamento umas vinte vezes, e o síndico está pensando em trocar a fiação do prédio com medo de um incêndio.

Estou cansada de viver com medo de que Lex reapareça e me leve de novo. Só vejo uma solução para me proteger dos que me querem mal.

— Preciso liberar meus poderes.

"Inesperado" | Lena Luthor & S/NOnde histórias criam vida. Descubra agora