Capítulo Três

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Ana...

Quando fui adotada, meus pais disseram que eu era uma criança quieta, que aparentemente não sabia falar. A polícia me encontrou vagando sem rumo por uma rodovia deserta, meu corpo coberto de cortes e hematomas. Disseram que, mesmo tão machucada, eu não chorei. Fui levada para o hospital Dom Juan VI, onde fiquei internada por vários dias devido aos ferimentos.

Eles tentaram de tudo para descobrir quem tinha me abandonado ou o que havia acontecido. Fizeram vários testes de DNA, mas não encontraram nenhuma correspondência. Era como se meu DNA fosse único, como se eu nunca tivesse existido. Sem respostas, fui colocada para adoção, tratada como uma anomalia.

Meses depois, um casal de mexicanos, Eleonor e Santiago Diaz, me escolheu para ser filha deles. Assim, aos quase quatro anos, finalmente ganhei um nome: Ana Diaz. Antes disso, eu era conhecida apenas como "A Menina da Rodovia".

MOMENTOS ATUAIS...

— Não acredito que fiz isso... — uma lágrima solitária desceu pelo meu rosto.

Ajoelhei-me, abraçando as pernas. No momento da explosão, eu estava tão assustada que não percebi o quanto me machuquei com os destroços. Agora, vendo o corte profundo na minha coxa, percebi que provavelmente veio de um pedaço de concreto. O sangue escorria, e eu rasguei a manga da minha camisa para fazer um torniquete, tentando conter a hemorragia. No entanto, já havia perdido bastante sangue e os efeitos estavam começando a se manifestar. Tentei me manter imóvel, encostando a cabeça na parede e fechando os olhos.

Pouco antes de desmaiar, ouvi uma voz distante:
— Tem mais alguém aqui!

E então, a escuridão me envolveu.

...

Depois de horas inconsciente, acordei desorientada. Percebi que se passaram várias horas, pois o quarto estava bem iluminado. Olhei ao redor e vi duas janelas abertas, permitindo que a luz de um dia ensolarado entrasse. As lembranças começaram a voltar: a explosão, o uso da magia para deter aqueles dois homens, e o fato de que me machuquei gravemente no processo. Deitei a cabeça de volta no travesseiro e, ao olhar para minha perna, notei que não sentia dor, provavelmente por causa dos analgésicos. Levantei o lençol branco de hospital e vi minha coxa coberta por ataduras.

— Acho melhor não mexer muito nessa perna para não abrir os pontos — disse uma voz feminina. Levantei o olhar e vi uma mulher linda, morena, que me pareceu estranhamente familiar, mas minha mente ainda estava confusa por causa dos remédios.

— Ah... oi. Desculpe, mas acho que te conheço — falei, tentando não rir, minha voz ainda meio estranha pelos medicamentos. Ela sorriu, o que me fez soltar uma risada também. — Nossa, que sorriso lindo você tem! — exclamei, um pouco histérica.

— Obrigada. Eu sou Lena Luthor, prazer — respondeu ela, tentando ser séria, mas meu estado grogue tornou isso difícil.

— Eu sou Ana — estendi a mão, e ela a pegou gentilmente. — Nossa, que mão macia... — murmurei, fazendo-a rir novamente. — Mas o que você está fazendo aqui? E onde é aqui?

— Você está na ala médica de uma das minhas clínicas particulares. Vim ver minha funcionária que, por um erro meu, ficou até tarde resolvendo uma papelada que eu pedi. Prometi que iria ajudar, mas acabei deixando tudo com você... — ela abaixou a cabeça, parecendo envergonhada.

— Que chefe atenciosa eu arranjei! — rimos juntas, mas antes que eu pudesse dizer mais alguma besteira, a porta se abriu e Davi entrou.

— An! Como você está? — ele veio rapidamente até minha cama, e só então percebi que ainda segurava a mão de Lena.

— Estou inteira, mas costurada... estou bem! — ri, e Lena também sorriu, dando espaço para que Davi se aproximasse mais.

— Vou deixar vocês a sós... Melhoras, senhorita Diaz! — Lena disse, se virando para sair, mas a chamei novamente.

— Ana... pode me chamar de Ana! E ainda tenho meu emprego? — perguntei com um sorriso.

— Preocupe-se em se recuperar primeiro, depois discutimos isso, ok? — ela sorriu tristemente.

— Acho que isso foi um "não" educado.

— Melhoras, senhor... — Lena hesitou ao ver meu olhar de reprovação. — Quero dizer, melhoras, Ana.

— Melhor! — respondi, rindo, enquanto ela deixava o quarto.

"Inesperado" | Lena Luthor & S/NOnde histórias criam vida. Descubra agora