Capítulo Dezenove

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Ana...

Sinto minha cabeça pesada, e meu corpo parece não responder aos comandos mais simples. Meus olhos, ainda fechados, lutam para se ajustar à claridade do ambiente até finalmente se abrirem.

– Onde estou?... Não fui capturada de novo, fui? – tento me situar e percebo que estou em uma sala totalmente branca, inundada por luzes fortes.

– Olá, senhorita Diaz, que bom que acordou! Sou o Dr. Mark Reed, mas pode me chamar de Mark.

– O que aconteceu?

– A senhorita desmaiou, e sua namorada a trouxe até a emergência.

– Namorada? – perguntei, surpresa.

– Sim, a senhorita Lena Luthor. Ela mencionou que era sua namorada, mas como estava muito nervosa com seu estado, pedi que ela fosse comprar algo para você comer – ele explica, enquanto eu ainda processava o termo "namorada". Nunca imaginei que chegaríamos a esse rótulo.

– Hum... então, Dr. Mark, quanto tempo fiquei desacordada? O que tenho?

– Bom, antes de mais nada, preciso fazer algumas perguntas. Tudo bem? – Assenti. – Você tem se alimentado bem?

– Para ser sincera, não muito. É o estresse dos últimos acontecimentos – respondi, enquanto ele anotava algo na prancheta.

– Tem sentido alguns sintomas como tonturas, enjoos, mudanças de humor ou algo do tipo? – De repente, eu já sabia aonde isso ia, e não gostei. Assenti novamente. – Atraso menstrual?

– Meu Deus! Já sei o que você está pensando, mas isso é humanamente e biologicamente impossível! – Meu rosto esquentou com a suposição.

– Desculpe, são apenas perguntas de rotina. No entanto, ainda assim, precisaremos fazer um teste.

– Por favor, me chame apenas de Ana.

– Tudo bem, Ana. Vou pedir para alguém vir coletar seu sangue, ok? – Ele se retirou, e logo depois Lena entrou no quarto, trazendo uma sacola do Big Belly Burger e um milkshake de morango – provavelmente para mim, já que ela detesta comida muito calórica.

– Como você está? Parece melhor. A cor voltou ao seu rosto, o que é bom – disse, sentando-se ao meu lado. – Liguei para sua mãe, e ela me contou que você tem se sentido mal há dias e que não tem comido direito! Por que não me contou?

– Porque não é nada! É só o estresse diário – tentei minimizar, mas Lena me olhava séria, claramente não acreditando.

– O que o médico te disse?

– Nada demais. Apenas pediu que alguém viesse coletar meu sangue para exames – respondi.

– Só isso? – Lena parecia desconfiada. – Vou falar com ele agora.

– Lena, não! Deixe o médico em paz, assim você vai acabar assustando o pobre coitado. São só exames de rotina – observei-a se sentar de novo. – Além disso, ele já está pressionado por ter que tratar a "namorada" da grande senhorita Luthor – fiz aspas com os dedos, e um sorriso apareceu em seus lábios.

– Ah, é, esqueci de mencionar esse detalhe. Eles não iam me deixar entrar a menos que eu fosse parente, então... eu disse que era sua namorada.

– Hum, interessante! Considerando que em breve eu estarei bem longe daqui – minha resposta fez Lena reagir de forma inesperada.

– Achei que você tivesse mudado de ideia sobre nós...

– Lena, eu sinto muito, mas não posso continuar esperando para ser sequestrada de novo.

– Então, pelo menos me deixe ir com você! Deixe-me ficar ao seu lado!

– Eu preciso de você aqui, para cuidar dos meus pais e da Alice. Eles te amam – lágrimas começaram a escorrer dos olhos de Lena, e eu senti um aperto no peito. – Por favor, não chore! Eu vou voltar. Pode demorar, mas voltarei para você... Mas, se esse tempo for longo demais para você e decidir seguir em frente, eu vou entender – agora, ambas estávamos chorando.

Um jovem enfermeiro entrou no quarto, ajeitou as coisas e começou a coletar meu sangue, sem perceber o turbilhão de emoções que nos envolvia.
Enquanto o enfermeiro preparava tudo para coletar meu sangue, Lena permanecia ao meu lado, ainda enxugando discretamente as lágrimas que corriam por seu rosto. Eu sabia que minha decisão a estava destruindo por dentro, mas também sabia que não havia outra opção. Eu precisava resolver essa parte da minha vida e encontrar minha família biológica para desbloquear meus poderes. Era a única maneira de me proteger e proteger aqueles que eu amava, inclusive ela.

– Ana, não importa o que aconteça, eu vou te esperar – Lena disse, sua voz um sussurro suave, quase quebrada. – Não importa quanto tempo leve.

Eu segurei a mão dela e a apertei levemente, sem conseguir dizer nada. Havia tantas coisas que queria prometer a ela, mas sabia que a estrada à minha frente era incerta demais para garantir qualquer coisa.

O enfermeiro trabalhou rapidamente e, em poucos minutos, o sangue foi coletado. Ele saiu do quarto sem dizer uma palavra, deixando apenas o silêncio pesado no ar.

– Preciso que você cuide da minha mãe, Lena. E da Alice – repeti, quebrando o silêncio.

– Eu vou cuidar delas, eu prometo – Lena respondeu, ainda sem me soltar. Ela olhou nos meus olhos, seus dedos entrelaçando os meus. – Mas não posso fingir que estou bem com isso. Eu sinto como se estivesse te perdendo, Ana.

Eu me sentei um pouco mais na cama, sentindo o peso de suas palavras e de toda a situação. Lena sempre foi uma fortaleza, forte, racional, mas agora eu via uma vulnerabilidade nela que me partia o coração.

– Eu não quero que você me perca, Lena – disse suavemente, os olhos presos nos dela. – Mas tenho que fazer isso. É o único jeito de garantir que não seremos separadas permanentemente, entende?

Ela assentiu, mas eu sabia que era mais pelo meu benefício do que por estar realmente convencida.

– Eu te amo, Ana. Nada vai mudar isso – Lena sussurrou, seus olhos marejados novamente.

Eu senti meu coração apertar. Queria poder dizer a ela que tudo ficaria bem, mas, naquele momento, a incerteza dominava. Tudo o que eu sabia era que amava Lena mais do que qualquer coisa, e esse amor era o que me dava forças para seguir em frente.

– Eu também te amo – respondi, minha voz falhando. – E voltarei. Prometo que voltarei para você.

"Inesperado" | Lena Luthor & S/NOnde histórias criam vida. Descubra agora