Eriksson procurou o cabo no chão e tornou a se guiar por ele. Lars era outra vez uma miniatura saltitante diante a próxima manchinha de luz, ainda longe. Tudo bem, logo eu te alcanço, garoto.
Lá de trás, daquela fétida e horrenda sala de morte, continuava a ouvir ruídos bizarros, o baixo arrastar da substância disforme, o chamado mental do prisioneiro da cápsula... Ignore, apenas ignore, pensava Erikson, mas a voz o incomodava, turvava a mente fazendo tropeçar, sufocar numa respiração rápida e entrecortada.
Já longe, seguindo o cabo como um montanhista perdido numa tempestade de neve (Já passei por isso antes, pensou. No acampamento havíamos montado caminhos assim, com cordas.), Eriksson escutou o barulho de vidro sendo quebrado. A criatura! Sua bolha viva a tinha libertado, não poderia dizer como o fizera, mas sabia.
— Agora está atrás de nós!
Daquela vez, Lars esperara por ele sob a luz da nova janela. O homem sentiu-se mais calmo tendo de novo seu amigo canino por perto. Não o havia abandonado, ele nunca pensara nisso; Lars só estava tentando ser útil, fazendo um reconhecimento do terreno. Abaixou-se e acariciou entre as orelhas felpudas do cachorro.
— Não deve se afastar tanto, meninão. Podia ter caído nalgum buraco. — Mas era bem possível que o malamute fosse muito mais esperto que ele nesse campo, uma vez dotado novamente de seus instintos. — Vamos seguir juntos, está bem?
E assim foi. Cão e homem através do desconhecido. Eles caminhavam devagar, o corredor se estendia indefinidamente ao que parecia, mas não havia como mesurar nada com certeza naquele lugar. Eriksson já tinha consigo que não se tratava de uma construção comum e tudo exibia um ar ilusório. Como a Casa Maluca, num parque de diversões. Se tal ideia lhe ocorrera, era porque já visitara alguma. Decidira que seria mais fácil parar de ficar questionando as novas coisas que lhe ocorriam e aceitar que, se vinham era por alguma razão racional.
Apertou o passo quando escutou, ainda um tanto longe, mas sem sombra de dúvida, vindo atrás deles, outro daqueles guinchados lamuriosos, sobrenaturais.
Óóóóóuuuummm...
Calculava terem andado uns 500 Erikssons pela escuridão quando notou uma nova luzinha, não outra nesga de claridade lunar como antes, mas um olho vermelho e fixo que os aguardava adiante. Cintilava no breu, fraca, mas lá. Não era uma janela. Se fosse, quem sabe aquela poderia lhes dar a mínima pista de onde estavam além de exibir apenas rocha e mais rocha. No entanto, talvez fosse outra porta, uma bem vinda saída daquele inquietante caminhar pelo vazio.
Quando a alcançaram, Lars pôs-se a farejá-la. A luz vinha de uma grande caixa de metal, nada igual àqueles materiais estranhos que vira na câmara em que voltara dos mortos. Sua forma era de alguma traquitana feita por sua própria gente. Isto é, se houvessem mais iguais a ele ainda vivendo por aí.
Eriksson soltou o cabo guia. Terminava bem ali, na máquina. Tateou-a igual a um cego diante algo que lhe fosse novo. Sentiu botões (que ainda não tinha coragem de apertar), depressões e um vago cheiro que nem sua suposta morte conseguira tirar de sua mente: gasolina. Seu penetrante fedor ficava registrado uma vez que assimilado por algum tempo, e Eriksson acreditava ter lidado muito com aquilo já.
Correndo as mãos pela peça, encontrou uma... Manivela? Puxador? Sei o que é isso, apostaria uma grana que se eu... Então teve conhecimento de duas novas coisas: Fora um menino de vícios – ao menos em apostas –, e que tinham descoberto um...
— É um gerador, Lars! Caramba, é a droga de um gerador!
Mesmo sem vê-lo, imaginou a caixa em sua cabeça: robusta, com um vigoroso motor e, que ele voltasse a ser matéria inerte se aquele puxador por onde passara as mãos não era o que o acionaria!
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Renascido para a Loucura
HorrorEm 1930, uma ousada expedição fora posta em curso. Saído de uma universidade em Arkham, na Nova Inglaterra, para o gélido deserto antártico, um grupo de exploradores dispostos a desbravar novos territórios de um continente quase intocado pelo homem...