SEIS

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S H A W N
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Amber.

Na noite em que eu pedi o divórcio, foi no sofá dela que eu passei a madrugada inteira em claro. Eu precisava pensar. Eu precisava aceitar que as coisas nem sempre acontecem como o planejado – e olhe que eu tive tempo o suficiente para fazer isso.

Alí, eu compreendi o meu estado de negação.

Sim, negação porque como eu poderia tentar ou ter algo sincero com alguém que me faria questionar cada um dos seus passos, cada uma das minhas ações apenas pelo fato de que ela facilmente poderia distorcer tudo? E se ela distorcesse, quem me garantiria que não agiria da mesma forma que aconteceu à alguns meses atrás? Sozinho, eu entendi que estava apenas negando o óbvio para mim mesmo: eu também não confio nela.

E disso, foi como se todo um leque abrisse na minha mente sobre esses últimos meses.

Lembrei do dia em que, cansado e sem nenhuma pingo de sanidade mental para focar no meu trabalho, eu tive a brilhante ideia de sair mais cedo para tentar colocar em ordem sobre que de fato estava acontecendo na minha vida, no meu casamento. Não foi de uma hora para outra que tudo começou a desandar, mas eu senti quando a nossa relação começou a esfriar, a distância entre nós dois até mesmo estando lado à lado na "nossa" cama. Eu tentei argumentar com os meus amigos, recebi alguns "você está louco" e "a Lysa ama você" em troca e, em um certo ponto, eu realmente comecei a cogitar que era coisa da minha mente, uma crise de meia idade e ou mesmo por a culpa das nossas rotinas corridas.

Em um certo momento, eu inventei de viajar para a Itália com ela em uma tentativa de fugir ou esquentar novamente a nossa rotina, porque o problema só poderia ser esse, essa falta de tempo apenas para nós dois. E foi bom no início, conseguimos trocar mais palavras e risadas do que em dias normais na nossa casa mas, durante essa viagem, eu vi e senti o algo errado quando... Eu tentei. Eu realmente queria tê-la em meus braços a noite inteira, sentir o nosso amor, reencontrar a nossa intensidade mas... até o sexo parecia estranho, automático, morno demais.

E isso não podia ser apenas paranoia da minha mente. Eu não podia estar louco, o amor não deveria ser esse sentimento de frustração, de insuficiência.

Então, perdido, eu lembro que senti quando uma mão tocou o meu ombro, era uma moça desconhecida s eu sabia disso porque eu nunca havia visto um par de olhos tão tão tristes como os seus. Mas, mesmo assim, ela parou para me ouvir.

Naquela tarde eu coloquei tudo, exatamente todo esse sentimento ruim pra fora. E, diferente dos julgamentos, ao terminar de falar, eu recebi algo que as vezes pode ser mais confortante do que palavras: ela me abraçou.

Ela disse:
"— Se você ama e percebe que ainda vale a pena tentar, lute até o fim pelos seus sentimentos. O 'não' você já tem, então, por que não arriscar um 'sim', buscar um 'para sempre'? Às vezes, é melhor você se decepcionar com a sensação de 'dever cumprido' do que viver uma vida inteira preso em uma dúvida eterna por medo, por receio de tentar. Nós até podemos acumular decepções no meio do caminho mas, no fundo, são com elas que entendemos o que de fato é a nossa felicidade."

Ela tinha razão, e eu sequer sabia o seu nome.

Mas, perdido do jeito que eu estava, resolvi seguir algumas partes do conselho daquela moça porque quando você percebe que todas as expectativas colocadas na sua vida e na pessoa que você escolheu para dividí-la deram errado, isso tende a te afetar, a te fazer questionar em qual ponto tudo deu errado e é aqui que tudo pesa, dói.

Till Forever Falls Apart - Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora