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Raniely

Fico parada junto a porta do quarto depois que Graziela saiu, me debatendo internamente se devo ou não abrir, bater ou voltar pro meu quarto, por fim, abro devagar e fico observando Fabrício dormir todo desconjuntando na cadeira de amamentação

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Fico parada junto a porta do quarto depois que Graziela saiu, me debatendo internamente se devo ou não abrir, bater ou voltar pro meu quarto, por fim, abro devagar e fico observando Fabrício dormir todo desconjuntando na cadeira de amamentação. Meu peito comprime em uma dor já conhecida para mim, que por mais incrível que pareça, estou aprendendo a lidar com ela. Essas últimas semanas foram... Nossa, como foram difíceis! Fabrício, para minha surpresa não criou confusão com Marcelo e nas poucas vezes que estivemos no mesmo ambiente por mais de cinco minutos, fingiu não estar me vendo. Não sei o que doeu mais, estar na mesma sala que ele ou ser ignorada, mas verdade seja dita, não tive muito tempo pra pensar sobre isso. Marcelo tem sido extremamente atencioso e presente para comigo, além de respeitoso, nem mesmo me beijou na frente do meio irmão, para evitar assim que uma animosidade entre eles fique ainda mais complicada agora que tem Rafaela e eu envolvidas.

— Por que tudo tem que ser tão difícil? — pergunto pra mim mesma, porém não obtenho nenhuma resposta.

Nem sei por que me pergunto mais isso, já ficou claro que essa bagunça que me meti não tem concerto, pelo menos, não um que todos ficaremos felizes..

Chega, Raniely, num é hora de ficar se remoendo com as decisões que tomou. Esse é o momento de ser a adulta, mãe responsável e cuidar para que minha filha tenha uma vida feliz e uma família estável. Coisa que num vai ser possível com o pai dela. Ok, Fabrício tem se mostrado um pai e tanto, aprendeu a trocar fralda e alimentar a filha com uma rapidez que me surpreendeu, só que eu não posso esquecer o que passei. Quem garante que ele na primeira dificuldade vai me deixar sozinha como fez lá em Paripueira? Além de que, esses dias todos ele num demonstrou tá interessado e concertar nada, não tocou no assunto que permanece entre nós como um enorme elefante branco na sala de estar, impossível se ser ignorado, mas indigesto o suficiente para que se protele uma solução.

Mais cedo quando ouvi choro de Rafinha pela babá eletrônica, quase vim até aqui pra ver o que tava acontecendo, mais então ouvi a voz de Graziela e soube que Fabrício daria de conta do recado. Então veio o lamento dele carregado com uma dor que eu conheço bem, a desolação. Ouvir ele sofrendo pela partida eminente doeu tanto que precisei desligar o aparelho, cada palavra dele era como uma lamina cortando o meu peito.

— Niely? — Uma mão pousa no meu ombro, fazendo com que eu pule de susto. — Desculpe.

— T-tudo bem! — digo nervosa.

Graziela sorri e fica na minha frente, em suas mãos uma manta, que reconheço de quando na infância dormia aqui e por vezes a pegava no alpendre tarde da noite agarrada a ela. Sorrio, por agora saber que era a manta que Fabrício usava nos poucos dias que ficava na casa da mãe, deixando resquícios do cheiro dele e ela a cheirava para ter um pouquim do filho nas noites que a saudade apertava.

— O que faz aqui? — Olha para os lados, como se temesse que mais alguém apareça no corredor.

— Eu vim... pensei que... — me perco na explicação.

Fabrício- O arrependido (Homens do Sertão- Livro 4)Onde histórias criam vida. Descubra agora