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Fabrício

Na noite anterior

— Aquele fila da puta tá machucando ela — digo, com os dentre travados, no pé do ouvido de mãe, depois de ir verificar se Rafaela continua dormindo

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— Aquele fila da puta tá machucando ela — digo, com os dentre travados, no pé do ouvido de mãe, depois de ir verificar se Rafaela continua dormindo. Todo meu corpo tremendo com o ódio e a tensão que sinto.

— Sim, mas nós sabia que isso poderia acontecer — ela responde, desviando os olhos pra onde o casal, que daqui parece ansiosa e empolgados, mas basta levantar os olhos e no fugaz instante que travamos o olhar no outro, eu vejo o desespero dela. — É um resultado melhor do que a gente esperava.

— Olhe pra como ela tá olhando pra cá, mãe, é quase como se tivesse me implorando pra tirar ela dali... — Estico o copo, com o resto do drink sem álcool, pra mãe, mas ela empurra minha mão de volta, chamando minha atenção com uma tossida leve.

— Nem pense nisso, Fabrício — alerta, virando pra sorrir pra um casal que passam por nós. Seu tom de voz diminui ainda mais. — Tu já conseguiu o que queria, tirou Marcelo da zona de conforto dele, veja como a pose dele mudou. Se for até lá vai estragar tudo.

Nem preciso olhar, sei que o bostinha tá fumando numa quenga, Helena tinha razão, quando sugeriu que eu roubasse a atenção da festa pré-casamento deles pra mim. esperei até que Viriato Monteiro começasse a ir em direção ao casal sorridente, sabia que o vejo xexelento ia querer me puxar pro meio da trupe dele. Ele e os demais do grupo partidário, peleiam o apoio do meu pai pras campanhas deles, pra isso ser possível já me ofereceram mundos e fundos, mas num tô interessado. Não sou besta, sei do poder que o meu sobrenome tem, mas num vou usar ele pra enganar o povo.

— Mamãe, como que eu vou ficar aqui vendo ele quase esmagar a cintura dela e num fazer nada? — pergunto, depois de mais uma olhadela fugaz naquela direção.

— Num fique olhando pra ela o tempo todo, melhor ainda, pegue tua filha e vá pra casa, aproveite pra se certificar de que tudo tá em ordem pra amanhã — mãe alerta.

Pousa a mão no meu braço e me faz olhar em seus olhos, o caramelo derretido, agora tem um fogo que eu acho lindo, mas num vou lhe falar.

— Num vai conseguir nada se fizer uma cena hoje, Marcelo nem pode sonhar o que vamo fazer amanhã, do contrário vai redobrar a vigilância sobre ela, já imaginou se ele conseguir reverter essa situação e casar com ela? A vida dessa menina vai ser um inferno. — A outra mão toca uma banda do meu rosto e acaricia sobre a barba grande demais. — Falta pouco, Niely pode num agradecer de imediato o que tu vai fazer por ela, mas quando tiver as provas todas em mãos, ela vai até mesmo lhe pedir perdão.

— Acredita mesmo nisso? — indago, erguendo as sobrancelhas, não muito certo.

— Acredito! Ninguém que se viu no meio de um jogo de poder, como ela está, fica com raiva quando é resgatada, vá por mim! — A forma como ela fala faz parecer que já viveu alguma coisa parecida, uma dor profunda inundando seus olhos, mas tão logo aparece, some. — Agora, saia daqui sem nem olhar naquela direção, pegue Rafaela e vá, falta pouco filho! — Seu polegar alisa a minha maçã do rosto, e por mais que eu queria ir contra seu conselho, me vejo fazendo justamente o que ela me disse.

Fabrício- O arrependido (Homens do Sertão- Livro 4)Onde histórias criam vida. Descubra agora