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Fabrício

Dagoberto leva a cabeças as mãos e enfia os dedos no couro cabeludo, puxando os fios em seguida

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Dagoberto leva a cabeças as mãos e enfia os dedos no couro cabeludo, puxando os fios em seguida. Reação bem parecida com a minha, assim que descobri essa merdaiada toda que nosso instituto foi envolvido. Seus olhos voltam a me fitar, como se esperasse que eu diga que tô frescando com a cara dele ou sei lá o que, mas só faço é balançar a cabeça confirmando que tamo na merda mesmo.

— O que estão me dizendo é que... que todos esses anos, os perrengues, as dificuldades, os montes de turnos dobrados, em que nós nem mesmo víamos se era dia ou noite, tudo o que enfrentamos esses anos todos, pra fazer do Sonar uma referência de nada vão ter valido a pena se a Receita Federal nos considerar culpados e nos multar? — Dagoberto pergunta, sentado no sofá da sala do meu apartamento. — Porque não temos dinheiro pra pagar uma multa alta, vivemos boa parte do tempo com as contas no limite, tu sabe disso, Fabrício! Agora que o dinheiro das universidades tão começando a entrar, que pudemos dar uma respirada, mas pelo jeito, foi só pra nós ter um pouquim de ar antes da porrada de jeito vir.

Balanço a cabeça, confirmando que é como ele tá dizendo e olho pra Sabrina, que segura a mão do namorido, como ela costuma chamar, tentando passar conforto pra ele. Pelo menos ele tem com quem se amparar. Paulo nos olha pela tela do computador e tem a mesma expressão cansada, que tá estampada na fisionomia de nós três aqui na pequena sala. Faz umas duas horas que tamo aqui conversando, quer dizer, que eu tô contando pra ele a pior notícia que poderiam ouvir sobre o Sonar. Precisei lhes contar a história toda, desde o que me levou a deixar Raniely ir com o pai dela na época do escândalo das fotos, até as descobertas de Helena, sobre como com a ajuda de Joene, meu pai e outros empresários vem utilizando nosso instituto para lavagem de dinheiro. Depois que deixei Helena no estacionamento da cafeteria, onde o carro dela tava, liguei pra Paulo e esse me instruiu sobre o que fazer, e aqui tamo nos quatro, os únicos que poderão saber, por enquanto do que tá acontecendo.

— Como deixamos isso passar? — Dagoberto olha pra mim, pra Sabrina e depois pra tela. — Joene era prima de Camila, nossa amiga, como ela pode nos trair assim?

— Eu num sei — Paulo responde, o que todos estamos pensando. — Quando vocês vieram há alguns meses eu recebi um email do meu amigo que trabalha no Tribunal de contas do estado aí de Alagoas e ele me disse que a ordem era passar um pente fino nos institutos e Ongs, conversamos por horas e eu assegurei a ele que jamais nos prestaríamos a esse tipo de coisa — Paulo Cesar conta, suspira em seguida. — Vou entrar em contato com ele e pedir que nos ajude se possível, mas já adianto que é provável que as universidades e empresas que não estão envolvidas no esquema retirem as doações e ...

— Vamos retornar ao início — digo, sentindo um peso enorme sobre meus ombros.

— Devia ter insistido pra tu aceitar a proposta da universidade, Maluvida! — Dagoberto diz, apertando a mão de Sabrina e levando ela até os lábios.

— Eu não fui porque eu num quis, meu fi, nada que falasse ia me fazer mudar de ideia, aconteça o que acontecer somos um família e vamo resolver os problemas juntos, se tiver que trabalhar como uma doida pra manter o Sonar funcionando, pode ter certeza que é o que eu vou fazer.

Meus olhos enchem d'água, com um puta orgulho da minha amiga, que chegou aqui jurando ser imune ao amor e agora tá aí, vivendo um belo romance com um puta cara bacana. Lembro dela me dizer que ia me transformar em um homem descente pra minha próxima namorada, pois ela sabia o que as garotas procuravam, mas que pra si num funcionaria e veja só agora. Eles parecem tão felizes juntos, mas por minha culpa, sim minha culpa, pois fui eu quem foi atrás da ajuda do papai, insisti e ele logo viu nisso um meio para lavar dinheiro sonegado, vão passar por dificuldades, Dagoberto terá seu nome envolvido nessa sujeira e em contrapartida, o de Sabrina vai afundar junto.

— Eu vou dá um jeito nesse rolo que nos enfiamos — digo, com a voz embargada. — Se for preciso assumo a culpa, afinal é meu pai o cabeça desse esquema...

— Não, tu vai atrás da mulher que tu ama e da tua filha, nem devia ter escolhido o Sonar naquela época, nós daríamos um jeito — Dagoberto diz.

— E deixar o pai dela fazer um escarcéu na imprensa? — Sabrina se afasta e olha pra ele muito braba. — Nada que Fabrício fizesse ia resolver isso, o pai dele também foi outro, que usou a situação pra separar eles... Que tipo de gente é essa? E eu achando que as catarrentas eram complicadas.

Ela se refere as amigas, com quem por vezes me obrigou a conversa pela internet, um grupo animada de garotas que me ouviram por horas sem reclamarem. Sabrina jura que estavam apenas interessadas na fofoca, mas uma vez que nunca tive muitos amigos, foi questão de tomar uns doses e falar pelos cotovelos.

— Suas catarrentas são malucas, é diferente! — digo e ela rir.

— Isso também, agora eu vou ter que começar a praticar yoga, porque toda vez que eu topar com aquela jararaca vou sentir vontade de extrair o veneno dela a tapa — Sabrina diz, ficando em pé, mas Dagoberto puxa ela de volta, fazendo com que sente em seu colo.

— Menos, Maluvida, menos! — Ele beija ela, fazendo Paulo e eu fazemos careta.

— Hei, cês vão fazer essas coisa lá na casa de vocês, aqui mora um homem de família, quase inocente — declaro, e a algazarra a seguir é barulhenta, almofadas do sofá voam na minha direção, algumas acertas, outras não.

— Vamo, amor, que o quase inocente tem uma bagagem pra preparar, tô certa? — Sabrina pergunta, me encarando.

— Ainda não, Helena tá arranjando as coisas com mãe, viajo só na véspera do casamento, até lá quero ver se mais alguma informação relevante aparece e eu possa levar, por que Raniely é teimosa como uma cabrita, São Tomé perdia era feio, perto da incredulidade dela — digo, coçando minha nuca.

— Tu também vacilou, deu pé e eles puxaram, agora pare de canecagem e mãos a obra! — Sabrina fica em pé e vem me abraçar, depois dela Dagoberto.

— Vai dar tudo certo, irmão, descemos juntos... — ele pronuncia nossa frase antiga.

— Subimos um empurrando o outro!

Bato nas costas dele, em nosso abraços rápido, depois disso eles se despedem de Paulo e se vão, desligo a chamada e sento no sofá, pego o porta retrato com a minha foto dormindo com Rafaela sobre meu peito de cima da mesinha de centro e fico olhando pra ela por um bom tempo. A saudade da minha filha queima como uma brasa ardente no meu peito.

— Eu vou atrás de você, meu anjinho e ninguém mais nos separar, eu prometo!

Continua...

Minhas anjas-demônias, esse foi mais uma capítulo pra vocês, vou tentar postar conforme eu for escrevendo.

Diga aí, é bom ver essa turma junta, num é? Sr. Ranço e Maluvida marcaram!

Me deixem saber o que acharam!

Beijos e amassos!

Fabrício- O arrependido (Homens do Sertão- Livro 4)Onde histórias criam vida. Descubra agora