10- Danna

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Um olhar confuso aparece no rosto de Miguel.
‐ Mina? - ele repete como se nunca tivesse escutado o nome antes.
- É. Você sabe quem ela é, porque ela é um contato no seu telefone.
- Você estava olhando meus contatos?
- Não, não olhei seus contatos - respondo, na defensiva. - Surgiu uma mensagem na tela de uma garota Mina. Lê aí.
Ele tira o celular do bolso. Depois de ler a mensagem, ele o enfia de volta no bolso.
- Isso era obviamente para outra pessoa.- Ele ergue a sobrancelha. - Você não pensou nem por um instante que esta mensagem era para mim, não é?
Agora estou confusa.
Tudo fica turvo na minha cabeça.
- Não sei o que pensar, Mickey. É um pouco suspeito.
- Sério, você é hilária. É um pouco estúpido se sua parte achar que é suspeito. - Ele balança a cabeça, frustrado. - Não acredita em mim?
Eu costumava confiar em cada palavra que Miguel dissesse. Ele sempre foi tão inteligente que eu o procurava em busca de conselhos e amizade. Mas hoje, as palavras que saem de sua boca parecem vazias e forçadas.
-Não sei. Ela te chamou de Einstein, Mickey. E isso é muito sua cara. - Eu quero acreditar nele, mas está difícil.
- Não estou mais com vontade de ver o filme. Vou embora. Quero dizer, se não pode acreditar no seu namorado, que conhece há três anos, esquece.
- Esquece o quê? Não quer falar sobre isso? Você nem me disse quem é essa garota. Ela está nos seus contatos, então você a conhece.
- Me desculpe se eu não quero ficar perto da minha namorada que se recusa a confiar em mim. - Ele começa a andar em direção a saída. - Acho que vou te ligar mais tarde.
Meu coração está acelerado, e não sei o que dizer para consertar isso.
- Mickey...
Ele se vira.
- Quero confiar em você- digo a ele.
- Mas não confia.
- Não sei. Teve a história do remédio, e isso agora...
-  Agora vai falar daquilo também? Não posso lidar com isso agora. Já tenho muita coisa com que me preocupar, Danna. Obrigado por me estressar.
Suas palavras me deixam tensa.
- Você fala como se eu só ficasse em casa e não fizesse nada o dia todo. Também tenho aulas introdutórias, Miguel. Tenho escola. Sou uma animadora de torcida. Estou estressada.
- Você não tem um emprego ou a preocupação de como vai pagar a faculdade. - Ele faz um gesto, apontando para as obras de arte e para o sistema moderno de som que nos cercam. - Seus pais podem pagar por sua faculdade e por sua manicure, que faz suas unhas o tempo todo. Eu, não. Você nem imagina o que é trabalhar e ir a escola ao mesmo tempo.
Sinto-me entorpecida agora, como se estivesse vivendo num mundo paralelo onde não posso expressar meus sentimentos ou minhas emoções sem ser condenada por isso.
- O que quer dizer?
- Estou dizendo que está agindo como uma menina mimada, esperando que eu seja o namorado perfeito quando não tenho como atender a sua expectativa. - Ele esfrega os olhos e respira e expira devagar. - Tenho que ir. Preciso esfriar a cabeça.
Ele sai, e sinto que o muro em torno do meu coração está crescendo. A sensação de que Miguel anda distante ultimamente não é minha imaginação. Ele diz "te amo" como se fosse um robô treinado para dizê-lo, e não como se isso brotasse do seu coração. Ele sempre usa palavras difíceis em suas frases, mas não consegue mais dizer "te amo" como fazia antes.
- Cadê o Miguel? - mamar pergunta quando eu entro na cozinha minutos mais tarde, louca para chorar. -Achei que vocês estavam assistindo a um filme na sala.
- Estávamos. Mas ele foi embora.
- Está tudo bem?
Meus pais se preocupam o bastante comigo. Não preciso dar mais motivos para isso.
- Sim. Está tudo bem.
- Ele é um rapaz tão bom. Você podia estar envolvida com aquele garoto Lopez. Aí teríamos um problema sério nas mãos.
- Jorge é um cara legal, mamãe.
Ela me olha de soslaio.
- Não é bom o que ouço por aí. Seu tio me contou sobre um bate-boca na praia na outra noite. Ele sugeriu que Jorge estava envolvido. Sei que Miguel é amigo dele, mas você precisa mantê-lo a distância. Rapazes assim só trazem problemas.
Eu poderia discutir com ela, mas não adianta. Mamãe não vai mudar sua opinião sobre Jorge. Ela o rotulou como encrenqueiro e não está disposta a mudar de ideia, não importa o que eu diga. Além disso, ele se mete mesmo em brigas. Mas ninguém parece ver que na maioria das vezes ele é provocado ou está tentando proteger alguém.Ele tem uma maneira enfática de proteger aqueles de quem gosta.
Ele nunca fala sobre isso nem se defende dos comentários e julgamentos que as pessoas fazem a seu respeito, como se os merecesse. Uma partezinha de mim queria que Miguel fosse um pouco parecido com Jorge, se importasse mais com as pessoas que o amam do que com o ranking da classe. Miguel me acusou de não saber o que é trabalhar e estudar ao mesmo tempo. — Mãe, posso arranjar um trabalho para depois da escola? — digo de repente.
— Preferia que não. Concentre-se nos seus deveres escolares em vez disso. — Ela me afaga o braço. — Além disso, você precisa dar uma trégua para o seu corpo. Você não pode se dar ao luxo de ter um contratempo e não poder ir à escola.
Sempre fui uma boa menina, aquela que segue ordens e não causa tumultos. E tudo que consegui com isso foi o status de menina mimada. E um rótulo de incapaz dos meus pais.
Cansei de ser uma boa menina, com medo de ultrapassar os limites ditados pelos meus pais, meus médicos e por mim mesma. Está na hora de me rebelar, porque viver tão protegida não está funcionando para mim.

His girl- jordannaOnde histórias criam vida. Descubra agora