18- Danna

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Miguel me enviou uma mensagem no celular na manhã de domingo, dizendo que quer me levar a um lugar. O problema é que não estou me sentindo bem. Meus pulsos parecem estirados e doem muito.
Miguel não é bom em surpresas, por isso deve ser importante. Ando curvada até o banho, visto meu short novo e fico esperando que ele venha me buscar.
Durante todo o trajeto meu coração bate forte, especialmente porque Miguel parece nervoso. Ele fica tamborilando os dedos no painel, e seus joelhos estão tremendo.
Será que ele está nervoso porque finalmente vai falar a verdade sobre Mina "El Hammani"?
Será que está drogado?
Será que vamos terminar?
Minha ansiedade diminui, e a curiosidade toma conta de mim quando entramos no parque de diversões Aventuras Selvagens.
— Aventuras Selvagens? — pergunto enquanto ele paga 5 paus para o cara do estacionamento.
— Acredite em mim, você vai adorar.
— Miguel, eu odeio montanhas-russas. Você sabe disso.
Ele dá um tapinha no meu joelho, como se eu fosse uma criança pequena prestes a tomar uma injeção no médico.
— Você vai ficar bem.
Ando pelo parque olhando as enormes estruturas como se fossem monstros. Morro de medo que meu corpo não aguente os solavancos. Cada passo me faz sentir como se tivesse noventa anos, não dezoito.
É um milagre que eu tenha sido capaz de esconder esse problema por tanto tempo de Miguel. Quando ando devagar ou quando meus ossos doem, apenas lhe digo que meus joelhos estão rígidos por causa das coreografias feitas para a animação de torcida, e ele não me pergunta mais nada.
Acho que sempre tenho medo de que ele saiba a verdade. Será que me trataria de forma diferente? Será que acharia que sou delicada demais? Será que terminaria comigo?
Só de ler os avisos enquanto estamos na fila da montanha-russa, minha articulações doem.
— Você vai gostar — diz Miguel, pegando minha mão e apertando o passo em direção a Arremesso, a montanha-russa mais radical do parque. — Prometo.
— Hã... acho que não vai dar — digo com a voz trêmula. — Não me sinto bem.
— Não seja covarde, Danna. Não é nada demais. Nem vai assim tão rápido.— Ele olha o celular para ver se tem alguma mensagem. Será que está esperando que Mina entre em contato?
Estamos tão fora de sintonia...
Na fila do Arremesso, observo suas feições sombrias. Está usando um bermudão, uma camiseta regata e óculos de sol. É alto, esguio, e tem um rosto delineado que faz inveja a maioria dos homens. Ele sorri e me abraça enquanto estamos de pé na fila.
Leio outro aviso. É para grávidas ou pessoas com problemas nas costas ou pescoço. Não menciona outro tipo de deficiência. Não quero alertar Miguel para o fato de que não sou tão saudável quanto pareço. Fui capaz de esconder isso dele por mais de três anos. Não vou revelar agora, especialmente enquanto estamos atravessando uma fase esquisita no nosso namoro.
Respiro fundo. Certo, eu aguento. Receberei uma infusão em breve, então os sintomas devem aliviar.
Para diminuir a ansiedade, mudo de assunto.
— Você jogou muito bem ontem a noite.
Ele me aperta.
— Obrigado. Apesar de ter ficado com medo quando me acertaram no terceiro tempo na linha de saída. Quero dizer, se Gordon não consegue me dar cobertura, eu juro que vou bater nele.
Olho para ele e ergo a sobrancelha.
— Você está falando como o Jorge.
— Jorge furou o bloqueio como umas dez vezes ontem, — ele balança a cabeça e prossegue — não conheço ninguém que antecipe o passe de um quarterback tão bem quanto ele. Ele não está nem aí para os estudos, mas é um excelente jogador.
— Você está com inveja dele?
— Não. — Ele sorri e olha para o celular de novo, então o guarda no bolso. — Eu ainda corro mais rápido todas as vezes. E ele não tem uma garota incrível como você.
Abraço sua cintura com força.
— Estou tão feliz de passarmos o dia juntos!
A festa e a preocupação agora são pensamentos distantes, e uma calma suave toma conta de mim.
Até que sinto um pequeno volume no bolso de Miguel. O remédio.
Tento ignorar a suspeita que ronda meus pensamentos. Não admira que seus joelhos tremessem e que seus dedos tamborilassem descontrolados. Ele está sob o efeito do remédio que anda tomando. Será que está viciado?
Preciso perguntar de novo.
Vou dizer alguma coisa sobre o remédio quando olho para a Arremesso e o medo me domina. Esqueço a pergunta, especialmente ao ouvir um bando de gente gritar dos carrinhos lá de cima.
— Mickey... acho que não vai dar para andar nisso.
Ele me da um tapinha nas costas.
— Seja forte. É apenas uma montanha-russa.
— Ela vira de cabeça para baixo. — Imagino o sistema de travas falhando e eu despencando de cabeça para a morte. — E se eu cair? Eu morro. E se meu corpo não resistir? Minhas articulações não são muito boas.
— Não seja ridícula, você não vai cair. Nem morrer. — Ele ri e acrescenta. — E suas articulações vão aguentar. Sério, Danna, para de surtar. Estou tentando fazer uma coisa divertida. Seria legal se você não desse um chilique. Ouvi falar que você escalou uma cerca com os rapazes na outra noite. Não finja que é frágil. — Ele olha o celular de novo. — Ela pode ser a maior, mas te garanto que não é a pior.
Arranco o celular da mão dele.
— Porque está olhando o celular a todo instante?
Ele o pega de volta e responde:
— Por nada.
Outra leva de pessoas é acomodada, doida para sentir medo. Seguimos adiante, e começo a roer as unhas furiosamente.
Somos os próximos.
Tem um aglomerado de gente em torno de nós, e há muita agitação e calor, então emana da multidão um cheiro forte de suor. Me concentro no Miguel e tento fazer com que tudo e todos fiquem em segundo plano.
Ai, não está funcionando. Ainda estou apavorada de entrar nessa armadilha mortal.
A montanha-russa não podia se chamar Viagem Relaxante em vez de Arremesso?
— Próximos! — O funcionário de crachá nos leva para os bancos da frente.
Banco da frente? Ah, não!
Hesito, mas o cara gesticula para nós outra vez, parecendo frustrado com a minha hesitação. Esperamos mais de uma hora por isso. Quero ir embora, mas não posso desapontar o Miguel, que ficou tentando me convencer na última hora de que consigo fazer isso. Ele estará do meu lado.
Respirando fundo, sento onde o homem de crachá manda e aperto do cinto. Faço isso e fecho os olhos com força quando a trava é baixada.
Eu posso fazer isso.
Eu posso fazer isso.
Não vou me arrepender depois.
De olhos fechados estendo a mão para agarrar a de Miguel, mas tem algo errado. A mão de Miguel é macia e forte. A mão que segura a minha é áspera como uma lixa.
Arregalo os olhos e olho para o cara sentado ao meu lado.
Não!
Engulo o ar, apavorada. Definitivamente não é meu namorado. Em seu lugar está Matthew Bonk, da escola rival, o cara que me dá arrepios. Acho que ele tem um recorde de gols dos colégios de Illinois, mas isto só aumenta seu ego gigantesco. Além disso, ele é amigo de Mina.
— Oi, querida. — Bonk diz devagar, enquanto seus olhos redondos me avaliam e pousam no meu decote.
Eca.
Puxo a minha mão de volta e a limpo no short, e rapidamente olho por cima do ombro. Onde está Miguel? Quando o acho, fico em choque. Miguel ainda está na fila, com o celular ao ouvido. Ele lança um olhar furioso para Bonk. O ar de desculpas que esboça não ajuda quando o carrinho começa a se mover.
Que merda...
Então agora estou no banco da frente do carrinho da montanha-russa, que se move devagar e, tortuosamente, vai subindo mais e mais pela trilha apavorante. Bem, não estou totalmente sozinha. O maior babaca do mundo está ao meu lado.
Digo a mim mesma para não olhar para ele, mas acabo olhando. Meu olhos se arregalam quando vejo que ele acendeu o baseado. Ele da uma longa tragada e me oferece.
— Quer?
— Você está brincando? Não! Apaga isso, idiota.
Ele ri a da outra tragada.
— Te fará relaxar e esquecer do seu namorado bundão.
— Não preciso relaxar, muito obrigada. E tenho certeza de que meu namorado é melhor do que você em tudo. — E começo a rezar.
Estou presa como um animal enjaulado. Não há como parar isso agora. E, o que é pior, vou morrer ao lado do babaca do Matthew Bonk. Acho que o baseado vai voar da mão dele e cair no meu colo ou na minha cara, me queimando. Se eu sobreviver, vou ficar com uma cicatriz de um cigarro de maconha.
Fecho os olhos com força outra vez e reteso o corpo todo como faço pela manhã quando me levanto, e espero que esse passeio dos infernos termine o mais rápido possível. O gigantesco ego de Bonk, assim como o cheiro de maconha, emana dele. Não sei em que parte do percurso estamos ou quanto ainda falta para descer.
Só rezo para que acabe logo.
De repente sinto que estou em queda livre para a morte, e depois que estou sendo atirada para os lados... e outra vez... esqueço a queimadura do cigarro de maconha na minha cara.
Eu.
Vou.
Morrer.
Ouço Bonk rir e gritar "uau" algumas vezes, o que não me faz me sentir melhor. Minhas articulações estão tensas demais para doer agora, mas vão doer mais tarde.
Sei que esses percursos levam 60 segundos ou menos. Mas parecem durar uma eternidade. Ou vai ver fiquei chapada com a fumaça de Bonk e por isso sinto que dura uma eternidade. O medo está tomando conta de todos os meus sentidos. Odeio a sensação do meu estômago revirando a cada queda e a cada volta.
Finalmente a velocidade começa a ser reduzida. Está acabando ou estão me enganando?
Solto o ar e abro os olhos quando paramos.
— Foi demais! — Bonk se vira para mim e diz: — Você precisa aprender a relaxar para não ser uma mulher tão fria e tensa. — Ele então salta. — Te vejo na festa.
— O quê?
— Vou com Valentina Lopez a festa. — Ele pisca o olho para mim. — Adoro quando uma garota convida um cara da escola rival que é o arque-inimigo do irmão dela. Clássico.
A trava sobe, e de repente estou livre. Saio do assento tropeçando e com o corpo reclamando e localizo Miguel, que está encostado na grade, me aguardando. Ele ainda está no celular. Bonk passa por ele, mas Miguel nem percebe.
Inacreditável.
Passo por meu namorado e procuro não deixar transparecer que meu corpo está pouco feliz comigo neste momento. Miguel e eu pouco brigamos e discutimos, porque há muito tempo decidimos que ambos não queriam um namoro cheio de cenas e dramas. Este é um território desconhecido para mim. Nem sei o que dizer, então não falo nada.
— Danna, espera aí! — ouço Miguel gritar atrás de mim.
Continuo andando, mas e se Miguel não estivesse conversando com Mina? E se sua mãe teve um acidente de carro ou seu pai enfartou? E se sua irmã foi mandada de volta para reabilitação?
Ai, não quero ser uma mulher fria e tensa.
Paro e encaro Miguel.
— Desculpe. Sobre qual era o telefonema? Qual foi a emergência?
— Nada. — Miguel responde. — Era apenas o meu primo Darius me pressionando para conseguir uma grana.
— Você está brincando?! — Arregalo os olhos, irritada. — Você me deixou sozinha naquela... armadilha mortal para falar com Darius? — O cara é um traficante de uma gangue que deu em cima de mim várias vezes quando nos encontramos na casa de Miguel. Nunca contei ao Miguel. Se ele soubesse, ficaria muito magoado.
— Desculpe, amor.
— Não vem com essa de "amor", Miguel. — Começo a me dirigir para saída.
— Não quero brigar por causa disso.
— As coisas estão diferentes entre nós. — Mas não digo o que realmente tenho vontade pois não quero discutir.
No carro ele se vira para mim e diz:
— Eu sinto muito mesmo.
— Eu também.
Ele liga o carro e voltamos para Fremont. Quando estamos quase em casa, Miguel desliga o rádio.
— Você iria a festa comigo, Danna?
Eu o olho de soslaio. Está me convidando agora? No carro? Enquanto dirige? Resmungo:
— Sim, claro.
Ele passa as mãos pelos cabelos.
— É evidente que você está chateada. Meu plano era te convidar quando estivéssemos na montanha-russa.
— Que romântico, Miguel.
— A ideia foi do Aron — ele admite. — Me pareceu boa quando ele falou.
— E você aceita o conselho de Aron Piper, um cara que se gaba por ser um pegador insensível e galinha? — Cruzo os braços e me recosto no banco. — Isso explica tudo.
— Ok, entendi. Fiz uma merda bem grande. — Ele pega minha mão e a pressiona com ternura. Meu coração costumava disparar quando ele fazia isso, mas agora não sinto nada. — Estou sob muita pressão e tomei uma decisão muito ruim. Desculpe.
— Pare de se desculpar. Vou superar isso. — Dou um sorriso fraco enquanto ele entra na garagem. — Me liga mais tarde.
Ando pelo caminho de tijolos até a minha casa e depois olho para trás, esperando ver Miguel sair com o carro.
Mas ele não está indo embora. Está ocupado digitando uma mensagem para alguém. A essa altura não me importa quem seja.

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⏰ Última atualização: Sep 16, 2022 ⏰

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